Hoje - ontem pela hora hora portuguesa - por volta das 19h30, enquanto aguardava as últimas notícias sobre o país, distraí-me a ver um programa televisivo de cariz regional que faz abordagem directa aos cidadãos com problemas de toda a ordem social.
Desta feita deparou-se-me uma comovente entrevista a uma proprietária de um canil que, aflita, se queixava das exíguas instalações de que dispunha em face dos 200 e tal caninos que tinha a encargo. Lamentava-se ela: "Reparem que, além de abandonarem os animais ao "deus-dará", como é o caso daqueles quatro cãezinhos, por vezes até os lançam cá para dentro. Olhe, aquele ali tem uma pata partida por causa disso".
Adiante... O programa voltou-se para uma organização de protecção a aves em risco de extinção. As imagens mostravam vários técnicos de bata e luvas à volta de um rouxinol que tinha uma asa partida.
De repente, como se fosse açoitado por uma profusa enxurrada de pensamentos relativos ao aflitivo "drama-de-todas-as-coisas" que com impante agudeza vai minando o meu país todos os dias, tive um impulso de indignada revolta e cogitação irada: então, são animais abandonados, são crianças, são idosos, são doentes que enfrentam um lastimável e urgente panorama de carência, e os principais responsáveis do país continuam em exuberante fausto, não lhes faltando nada, indiferentes a uma instante problemática que carece de imediata intervenção...
Ah... Caraças... Começo a ter a sensação, no meio da prudente covardia cívica que grassa, que este jardineco à beira mar plantado está a aproximar-se perigosamente de um momento fatídico. Praza que seja só impressão minha... A humanidade encafuou-se no tácito "deixa andar que eu vou indo". Ahhhhhhh!....
António Torre da Guia |