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Artigos-->GÓLGOTA -- 12/04/2001 - 18:56 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O que os arqueólogos descobriram no lugar onde Jesus morreu



Por Paul Badde (DIE WELT online, 11/04/2001)

Trad.: zé pedro antunes



Na última sexta-feira santa, no meio da tarde, uma densa névoa baixou de repente sobre a cidade de Jerusalém. Ela, cuja luz tantas vezes rebrilha mais clara do que em qualquer outro lugar da terra. Aqui, há seis anos, em plena luz do dia, se pôs tão escuro, que quase não se divisava sequer a casa mais próxima. Era de dar medo: o sol, uma mancha pálida no breu; crianças choravam nas casas vizinhas; a criação, respiração opressivamente suspensa; atmosfera de fim de mundo. Desde tempos remotos, na primavera, o "chamsin" acomete a cidade com esses fenômenos da natureza, nos quais, o vento do deserto ofusca e embaralha com fino pó de poeira a vista aos ierosolimitas, confundindo-lhes o intelecto, enchendo-lhes de medo a alma.

"Foi por volta da hora sexta", escreve o evangelista Lucas sobre a primeira sexta-feira santa, "quando uma escuridão desceu sobre toda a terra, durando até a hora nona. O sol se pôs escuro", quando Jesus, com um grito muito alto, entregou o espírito.

Quem hoje busca o lugar desta execução, ao ultrapassar o portal da Igreja do Sepúlcro, transpõe também, concomitantemente, uma soleira do tempo, um passo atrás, com a diferença de uma hora. Pois, no interior desta casa, não há verão em que o status quo deixe de se alastrar não apenas sobre cada uma das colunas, azulejos e ladrilhos, mas também sobre todas as horas e todos os minutos: Ali nada deve ser e não será mudado ou transformado. Em meio à cidade velha, este lugar é uma ilha com seu próprio tempo. No século IV, pela primeira vez, os nativos conduziram a mãe do Imperador Constantino ao esconderijo onde, havia 300 anos, vinham mantendo oculta a cruz de Cristo.

Mas só no ano de 1987, aos arqueólogos Lavas e Mitropoulos, o patriarca grego atribuiu a missão de investigar uma vez mais, minuciosamente, a Capela do Gólgota, que se encontra logo à direita, atrás do portal, além de uma escada íngreme, no primeiro andar. Quando os cientistas, ali, retiraram o pavimento ao redor do altar, puseram a descoberto o pico de uma rocha de dez metros de altura, com o formato de um crâneo, numa velha pedreira que, desde o tempo da Via Crucis, ali ficara coberta de poeira e placas de mármore. Protegidas por uma espessa placa de vidro, qualquer visitante pode ver hoje as escavações com os próprios olhos. Por infelicidade, muito especialmente nestes dias de guerra, em que eles, tantas vezes, se vêem sozinhos diante da rocha. Esta, em tempos de paz, chega a ser visitada por cerca de 6.000 peregrinos ao dia.

Ao lado do sepulcro vazio de Cristo, está o lugar mais sagrado da cristandade: uma grande e grosseira bolota de calcáreo cor de cinza. Sobre a parte mais elevada, uma cavidade artificial e, dentro desta, o que sobeja de um anel de pedra grosseiramente entalhado.

Terá servido, um dia, para encaixe de uma pilastra vertical? Isso ninguém poderá afirmar com certeza. Mas se assim for, será preciso então imaginar tal pilastra como uma tora circular de madeira crua e cascada, sem em absoluto ultrapassar três metros de comprimento. Aquele que nela foi suspenso terá conhecido a morte diretamente ante o olhar dos espectadores mais próximos, não a uma altura grande e imponente. Um metro adiante, à direita, de leste a oeste, uma ranhura profunda atravessa o topo, até bem abaixo, ao pé do rochedo. "A terra tremeu e as rochas se fenderam", escreve Mateus em seu relato da Paixão. "Quando o oficial e os homens que com ele vigiavam Jesus perceberam o tremor de terra, e viram o que estava acontecendo, puseram-se sobremaneira aterrorizados e disseram: Verdadeiramente, esse era o Filho de Deus."

Mas, verdadeiramente também, ele era o filho de sua mãe, que, sobre este topo de rocha, só pode ter permanecido em pé, muito próxima, enquanto, sangrando da cabeça e por todos os membros, ele desfalecia diante de seus olhos. O estreito platô quase não oferecia espaço a espectadores, ali onde, agora, uma Madona em estilo rococó português, em sua indignação desprovida de lágrimas, faz por lembrá-los, o coração trespassado por uma espada: "Stabat mater."

"No início da tarde, no templo, teve início a liturgia festiva preparatória para a festa da Páscoa", escreveu Gerhard Kroll em 1964, em Leipzig na Alemanha Oriental (DDR), sobre essa hora. "Ante os olhos do Sumo Sacerdote, foi sacrificada a vítima, um cordeiro imaculado. Reuniram-se, então, os mais velhos dentre as 24 ordens de sacerdotes, e teve início o sacratíssimo ritual da penitência da véspera do dia da Páscoa. O historiador judeu Josephus calcula em 18.000 o número de cordeiros na ocasião sacrificados Trombetas e cornos anunciaram, de forma a serem ouvidos de todos os quadrantes, o grande acontecimento, de que Deus, em seu altar do sacrifício respingado de sangue, havia selado a paz e a reconciliação com o seu povo - enquanto, fora das portas da cidade, sangrava o verdadeiro cordeiro de Deus, não reconhecido pelo povo, abandonado pelos companheiros, chorado tão-somente por algumas mulheres e por um de seus discípulos."



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