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cronicas-->Amnésia de Adulto -- 15/06/2005 - 22:44 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Cientista nenhum sabe precisar quando acaba a puberdade e tem início a "adultescência". Podemos, no entanto, arriscar que a adolescência acaba quando se inicia um misterioso processo de esquecimento: tornar-se adulto é apagar da memória que um dia se foi adolescente. Amnésia que nos dá o direito legalíssimo de classificar os mais jovens de "aborrecentes" e de responder negativamente a algumas perguntas simples. Perdoando o excesso de interrogações, responda com sinceridade: você já ficou em dúvida entre a carreira de Físico Nuclear e a de Artista Plástico? Se ficou, não é adulto, que adulto tem certeza. Dúvida de adulto, só no sabor da pizza. Meia calabresa, meia portuguesa e fim da questão. Adolescente não decide nem se vai, nem se fica, muito pelo contrário. E no final, tudo acaba em pizza com sabores escolhidos por um adulto.
Ninguém que tenha comprado esse jornal de domingo na banca, nem você que tem uma assinatura há nove anos, sequer você que está lendo o exemplar que roubou da cafeteria perdeu horas num Telejogo em preto e branco. Campeonato de paredão! Qual senhor respeitável, em tempos passados, quebrou o joystick do Atari jogando Pac Man? O que é isso?! Você nunca foi como a garotada que prefere ficar no Messenger ou no ICQ em vez de, como você fazia, ler os clássicos. Lembra das tardes de sábado? Quanto Homero, Sófocles e Ésquilo você não devorou entre as macieiras ao lado do pátio da igreja... Isso sim era diversão! Melhor que as epopéias, só as chamadas orais da professora de Línguas ou as aulas deliciosas de OSPB. CDF é a mãe!
Por falar em clássicos, esteja certo: Hamlet era adolescente. "Ser ou não ser" é coisa de púbere. Pobres, púberes e rudes seres shakespeareanos. Adulto? Adulto, não! Que adulto ou é ou foi ou será - com toda a certeza - e ninguém tem nada co´isso, meu! Como todos sabem, adulto não liga para o que os outros pensam. Adulto é decidido, auto-suficiente. Paranóia é talento de menino de 14 e menina de 16 que trocam de boné ou de camisete cinco vezes antes de sair de casa. Será que eles vão gostar? Eles: galera, moçada, turma, gangue de grifes. Homem e mulher, adultos, nem estão aí para grife: quem faz a moda é o modelo, né verdade? Moleques e molecas é que compram Nike. Eu, por exemplo, nunca fui adolescente e nunca babei num All Star Converse cano alto. Nenhuma mulher toda-mais-poderosa de hoje usou meias Dancing Days na década de setenta, sonhando em ser Julia Matos.
E você, amigo? Recorda-se de ter, alguma vez, planejado passar uma cantada na menina linda da sua classe, ensaiado três semanas, as aulas acabaram e você nunca mais viu a cara da moça? Claro que não! Você pega todas e sempre pegou! E você aí? É, você com o celular polifónico. Alguma vez esperou 312 horas por um telefonema que até hoje nunca veio? Sei que não! O seu telefone nunca pára de tocar. Foi sempre assim. Por quê? Porque você já veio ao mundo como gata-trintona-descolada-sex-and-the-city cheia de pretendentes, os quais desdenha, pois o importante agora é o pós-doutorado na UNESP. Daqui a uns oito anos, quem sabe? Até lá, você já terá pensado em ser mãe algumas vezes e desistido. Você até aguenta criança chorando e destruindo os móveis retró Toquestoque que você ama. Mas criança vira adolescente. E adolescente é um porre! Vive nos lembrando que um dia também tivemos espinha na cara e, hoje, nem temos vergonha - na mesma cara - de fingir que nunca fomos, ao mesmo tempo, inseguros e poderosos, medrosos e destemidos, ouvindo rock subversivo e baladas melodramáticas. Tudoaomesmotempoagora.
Tomados por essa doença neurológica pouco rara, pais, mães, tias, tios, padrinhos, professores e toda a sociedade que sente saudades dos Waltons, Bonanza ou Cyborg pode afirmar sem medo: adolescente não sabe de nada. Exemplo claro: um teenager desses vive me dizendo que a vida de adulto não faz o menor sentido. Segundo sua filosofia de Arquivo X, a nossa louca inclinação para trabalhar 14 horas por dia, seis dias por semana, ganhar muito dinheiro e, em apenas 30 anos, poder ficar sem fazer nada o dia inteiro é burrice. Afinal de contas, com apenas 15 anos de idade, ele, que não trabalhou feito escravo um dia ao menos, já conquistou tudo o que um adulto sonha: ócio 24 horas. Esses meninos...
Adolescente? Eu? Sou adulto. Já nasci assim. E você? Esqueceu?

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Jefferson Cassiano é Publicitário e Professor de Redação, tem 34 anos desde que nasceu.

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