No princípio era o blecaute. Apagão sem CPFL para culpar. Tão escuro, tão escuro que demoraram eras para encontrar o disjuntor. Com tantos deuses disponíveis na época, já que, sem as religiões, nenhum deles estava empregado, quem ligou a chave foi um eletricista amador com certificado do que hoje equivaleria a um curso do Instituto Universal Brasileiro. A perícia era tamanha que o tal deus provocou um curto-circuito colossal, conhecido por todos como Big Bang.
Origem tão explosiva não poderia evoluir muito bem. Continuando seus estudos por correspondência e trabalhando duro numa garagem que mais parecia um buraco negro, Deus descobriu um jeito de ligar silício com cuspe e Cola Tenaz, e transformou o caos num caos-ligado-em-rede-plus. A obra até que era razoável e o Poderoso a batizou de Personal Caos, ou simplesmente PC. Daí até a criação de aplicativos, foram só alguns beta-testes. Em poucos milênios, Adão e Eva surgiram em forma de código binário. O ambiente Éden 1.0 era muito amigável e intuitivo com salva-telas paradisíacos.
- Como nossa vida é exata, Eva!
- E o atendimento On-line é divino, Adão!
Sendo 0 e 1, o par poderia ser três, pois estava escrito "crescei e multiplica-vos em complexos cálculos matemáticos". No entanto, sem a existência de crackers, Adão e Eva não tinham acesso ao código fonte criptografado por São Miguel Arcanjo. Ignorante de como encaixar seu Plug na USB de Eva, Adão seguia jogando Tétris com um macaco parecido com o Donkey Kong.
Num átimo, o anjo Lúcifer, caído de uma conexão discada sobre um campo repleto de macieiras, inventou um Éden alternativo no qual tudo funcionava mais rápido. Em homenagem à s árvores que o acolheram, o diabo não tardou em nomear seu invento de Apple. O primeiro software do capeta foi implantado como vírus no HD de Eva. Vestida com um novo template, a mulher convenceu Adão a experimentar uma atraente maça com gabinete translúcido. Foi uma orgia digital. Deus não gostou da traição, retirou todas as garantias do Éden 1.0 e expulsou o casal ingrato do Vale do Silício. Lúcifer, para impedir que seus novos clientes voltassem como filhos pródigos ao paraíso, fechou para sempre a porta paralela. Assim, nasceu o Windows 3.1, pois está escrito que "quando o Diabo fecha uma porta, Deus abre uma janela"; e, claro, roga uma praga (de nada adiantou Eva suplicar "tenha DOS de mim!"):
- Por essa traição, infiel Adão, toda a tua lista de contatos não saberá como era perfeito o Éden 1.0. Todos os teus descendentes e os descendentes deles sofrerão as incertezas do Windows 3.1!
Foi um erro fatal. Por muito tempo, Deus perdeu mercado para Lúcifer, e a falência do Windows 3.1 era certa. Eis que, numa cartada final, uma nova versão de Sistema Operacional - Jesus Cristo Millenium - foi desenvolvida em laboratório. O up grade aumentou a base de humanos religados a Deus. Todos recorriam ao Messias para proteger seus arquivos, pois está escrito que "só Cristo salva." A jogada garantiu que o PC chegasse até os nossos dias com um desempenho aceitável.
Em verdade vos digo, desde os primórdios Deus usa PCs e o Diabo opera em Macs. Nós, meros humanos, somos parte de uma Internet divina que recebe bênçãos de um Servidor Universal com Windows NT. Nossas rezas são e-mails com pedidos atachados abertos pelos santos sênior. Como o sistema é lento, trava e o Papa - que é o Microsoft Solution Provider - usa um cinco-oito-meia, as graças nunca chegam. Já os MACs do diabo são, no mínimo, G4 biprocessados, com zilhões de giga de RAM; o que explica a rapidez com que as desgraças chegam até nós, em inglês informático, espalhando vírus destruidores que Serafim nenhum consegue limpar. Sequer água benta virtual tem conseguido eliminar os spywares diabólicos. O fim está próximo. Control-alt-del, aleluia!
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Jefferson Cassiano é Publicitário e professor de redação, ora: Linux, rogai por nós!
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