UM ANO SEM MAMÃE
Mãe,
I
Relativamente à vida,
Mais um ano na idade
Leva a gente a crer que foi
Dentro da normalidade.
Já com a morte é outra a crença:
Passa um ano e a gente pensa
Que é uma eternidade.
II
É vivendo essa verdade
E a fé que professamos
Que família e amigos
Nesta missa celebramos
O primeiro longo ano
Que Deus pai – o Soberano
A levou de onde estamos.
III
Sua morte, aceitamos,
Pois morrer é uma verdade.
Esquecer, como podemos,
Se existe a tal saudade?
E se os olhos não a vêem
Nossos pensamentos lêem
Os seus atos de bondade.
IV
Hoje, tudo é saudade.
Sua casa está vazia.
Não a vemos mais sentada
Na cadeira lá da pia.
Na do quarto e nos sofás
Não a vimos nunca mais
A rezar noite e dia.
V
Falta a sua companhia
Em qualquer outro lugar:
Na cozinha, no oitão
Ou na sala de estar,
Na calçada caminhando
Ou na sala, preparando
Nossa mesa pro jantar
VI
Nunca mais foi passear
Na fazenda, com a família;
No Cantinho, em Pau dos Ferros;
Lá na praia ou em Brasília;
Nem na casa dum amigo,
Dum parente mais antigo,
Na dum filho ou duma filha.
VII
Nunca mais sua família
Com você missa assistiu.
Cada filho que entrou
Na ex-casa e não a viu
Deparou-se com a verdade
E, rendendo-se à saudade,
Muita lágrima fluiu.
VIII
Nunca mais a gente a viu
Num sofá, adormecida,
Com um terço segurado
Pela mão já combalida
E, na perna redobrada,
Uma bíblia escancarada
Por você bastante lida.
IX
Sua fé era sentida
Pela sua rezaria.
Pra ser grata, uma vela,
Todo dia acendia.
E no seu aparador
Não faltava uma flor
Em louvor à Mãe Maria.
X
O ofício a Maria
Era a grande devoção
E o seu aparador
– Um lugar de oração.
Lá, você se ajoelhava
E a Deus do céu rogava
A saúde e o perdão.
XI
Tudo em si era lição.
Até mesmo a vaidade
Que usou como aliada
Contra o avanço da idade
Não mudou seu coração
Nem usou sua razão
Noutra personalidade.
XII
Não sentimos, na verdade,
Sua ausência totalmente.
Se Deus-pai levou você
Foi apenas fisicamente
Que a saudade é filmagem
Repassando sua imagem
Todo tempo em nossa mente.
XIII
Sua vida foi pra gente
Direção pra nossos trilhos.
Não ser mestra nem doutora
Não lhe trouxe empecilhos.
Mãe que é mãe à luta vai.
Foi assim que, com papai,
Educou todos seus filhos.
XIV
Em seus olhos tinha um brilho
Que contava a história
De alguém que foi em vida
Um exemplo de vitória,
Que morreu, mas, lá no céu,
Recebeu como troféu
Passaporte para a glória.
XV
Convivendo nessa glória
Com você também estão:
Aluízio e Luiz
E também Consolação
E papai, cuja saudade,
Já há muito tempo invade
Nosso forte coração.
XVI
Terminando esta canção,
Mãe, mostramos que é verdade:
Sem você ao nosso lado
Em qualquer atividade,
Todo tempo que passar
Faz a gente acreditar
Que é uma eternidade.
- Fim -
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