Bem aquí estou eu. No céu. Fui vítima do preconceito e assassinaram-me de forma vil e cruél sem que tivessem me dado oportunidade para defesa.
Invadiram minha privacidade. Analisaram meus hábitos e me seguiram. Sorrateiramente feito ofídios envenenaram e contaminaram minhas coisas. Ví-me tomado por tamanha fraqueza que desistí de procurar suas causas e combater seus efeitos. Me entreguei. O demônio se apoderou de meu corpo. Fui levado por sua ira, seu ódio. Morrí atropelado na Rodovia do Açúcar, completamente enlouquecido pelo fél de satanás. E hoje eis-me aquí sentado diante de Deus Pai aguardando seu julgamento. Desde já peço clemência por todos os males que possa ter causado às pessoas. Sei que não fui nenhum santo. Quanta gente deixei de pagar no prazo convencionado? Nossa até perdí a conta. Quantas moças esperançosas deixei na saudade? Bem vamos mudar de assunto...
E por quê? Devem estar se perguntando os mais interressados. Por causa de espaço. Sim. Por causa de preconceito, de desamor. Por causa da anarquia. Mas não quero aquí antecipar o julgamento dos assassínos. Não quero aquí criticar as artimanhas do capeta. De suas encenações. De suas induções, de seu poder de sugestão. De forma nenhuma.
Quero perdoar esses anjos que do bem se desviaram. Quero que a clemência do bem possa lhes dar vida longa. Bem longa.
Eu aquí no céu perdoei. Mas não posso dizer com a convicção absoluta que esquecerei. Não isso não. Isso é impossível.
