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Contos-->O Dia do Seu Valentino -- 16/06/2008 - 13:05 (Licio de Faria Pereira Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O dia do Seu Valentino
Por Licio Faria

Ele passou a manha toda tentando reservar uma mesa para dois nos mais saborosos restaurantes da cidade. Valentino ligou para os franceses e nada. Ligou para os bistrôs e o resultado foi o mesmo. Ligou para os italianos e encontrava sempre a mesma resposta - "Estamos com todas as reservas tomadas."
Já estava pensando em apelar para as pastelarias, para os trailers de sanduíches e ate mesmo para os botecos de copo sujo da rodoviária, mas conteve-se
- Ela não merece este dissabor, é muito elegante para descer a esse nível
Sequer pôde pensar com seus botões. Usava uma camiseta e nao teria com quem compartilhar suas duvidas. Já tinha planejado tudo nos mínimos detalhes - só não contava com o fato de que a outra metade dos namorados da cidade o antecipara reservando os melhores lugares.
- Vamos nos contentar com um pão com mortadela e um copo de coca-cola. Arghh! Que dia azafamo.
Ligou para a pousada onde havia feito as reservas, para confirmar. Felizmente isso estava funcionando. E pelas fotos a pousada seria o ponto alto da noite - um céu negro salpicado de estrelas, típico do mês de junho, sem nuvens, os dois sentados na varanda do quarto, com uma vista espetacular das montanhas da serra. Perfeito!
Poderia encomendar algo no restaurante, uma garrafa de vinho bordeaux, tira-gostos no supermercado. Ainda nao tinha se dado por vencido. Valentino era persistente nos seus projetos.
Combinaram o encontro próximo ao restaurante. Ela ainda sairia do trabalho, ele ansioso pela noite, já tinha finalizado o serviço e antes do final da tarde ja estava pronto.
Duas horas depois, aflito pelo trafego intenso e desordenado da cidade, ele liga. Ela está presa no transito - mais um acidente no trajeto e ela se atrasaria. Valentino aproveita o atraso para uma ultima tentativa – um pequeno bistrô charmoso e aconchegante escondido entre residências e ruas tortas da cidade.
Valentino se posta diante do porteiro.
- Uma mesa para casal, por favor.
- O senhor é o sexto da fila.
- Quanto tempo? - Valentino contava com o transito para que ela chegasse a tempo.
- Pelo menos 1 hora, mas nao posso garantir, às vezes demora mais.
- Nao tem problema, ela também esta atrasada - presa no transito.
Valentino confere a lista. Nada a fazer senão sentar e esperar. O garçom havia colocado algumas cadeiras na porta do bistrô. Alguns desanimam, outros sentam e esperam, sem muita paciência.
A rua está cheia de carros, buzinas para todo lado. Um casal se levanta, aproxima-se do porteiro e pede para cancelar a reserva. Valentino respira aliviado.
- Um casal a menos, uma mesa a mais. Que sorte! - Ele se aproxima do porteiro para ver a lista. Que sorte nada. O nome rabiscado estava depois do seu próprio nome. Tudo como era antes, no castelo de Abrantes. Quem era esse sujeito - e que castelo tinha. Será que na cidade do Abrantes tinha algum restaurante bacana
As idéias de Valentino servem para passar o tempo. Vinte minutos depois e nada.
A região tem outros bons restaurantes. Ele resolve circular, mas avisa ao porteiro que vai apenas mudar o carro de lugar, não quer perder a vaga na lista de espera. No primeiro restaurante, Valentino nem perde tempo - a fila na porta estava maior do que o numero de mesas - e todos de pé. No seguinte a mesma coisa.
Dobra a esquina e vê o restaurante italiano às moscas. Boa opção. Vale a pena tentar. Ao entrar na tratoria, é abordado pela hostess.
- Boa noite! Vejo que o restaurante esta com pouco movimento.
Valentino se preocupa - casa vazia é mau sinal, mas pelo menos nao teria de esperar nada.
- Queria fazer uma reserva para dois. - Diz isso com um sorriso vitorioso.
- Sinto muito, todas as mesas estão reservadas. É que o pessoal costuma chegar mais tarde.
Azar. Hoje definitivamente nao era o seu dia. Dá as costas para a atendente, e retorna para o bistrô. Pelo menos estava numa lista menor.
Trinta minutos... Quarenta...
Ela chega se desculpando. Um segundo acidente na descida da BR. Nada a fazer senão esperar, só que agora a dois.
Pedem o cardápio. Quem sabe se distraem com o vinho. Qual? Chileno, francês, italiano. A carta de vinhos só apresenta os nomes - nenhuma informação de região, safra, etc. Valentino era cuidadoso com vinhos - mas como escolher. A atendente sabia menos ainda. Resolve ir ate a adega.
Uma segunda moça, mais solícita atende o inquieto cliente. A carta de vinhos estava presa na parede, no lado de dentro da adega. E ela lendo num sotaque de vendedor de picolé, os nomes das garrafas.
Pelo instinto, ficou com um vinho branco. A garrafa é levada para fora. Sentados na rua, como retirantes, os dois se deleitam com o vinho e com a conversa, distraindo o tempo.
Uma garrafa e trinta e sete "Só mais alguns minutos" depois, eles conseguem a mesa desejada.
A luz de velas parece que o tempo pára. Valentino agora esta no seu habitat. A musica de Gilbert Becaut estava perfeita.
Ela leva o cardápio aos olhos, escolhendo o antepasto.
Valentino, sorrateiramente coloca na mesa a caixinha com o anel tão bem escolhido. Sabia que ela tinha mãos de criança, então encomendou o menor dos aros. A caixa fechada na mesa nao passou desapercebida.
Valentino se deleita com olhar dela ao abrir a caixa.
Ele imagina o que ela estava pensando - a surpresa do momento. Sabia que ela merecia.
Ela fita o presente com surpresa.
- É bem pequeno, tenho certeza de que serve em você!
- É realmente pequeno, mas será que serve?
- Que tal, gosta do estilo?
- É lindinho! Ela nao demonstra muito entusiasmo.
Ela aproxima a caixa dos olhos para ver melhor.
Valentino é só sorriso. Tinha planejado esse momento há muitos dias e o anel já estava em seus planos a meses.
- E então, nao vai colocar? Pelo menos experimenta!
Ela coça as orelhas, olhando a caixinha com a jóia. Valentino nao entende a hesitação. O sorriso dela nao era o esperado.
Valentino estende os olhos para a caixa, vira o estojo de veludo para si e ...
- Ops! Desculpe-me, o brinco era para minha filha. O seu presente é outro.
Na ânsia de entregar o presente, Valentino pegou a caixa errada.
Ao escolher o anel, dias antes, ele comprou também um pequeno brinco de menina, duas pecinhas discretas, em forma de pingüim. Sua filha adorava brincos, mas usava sempre enormes argolas de metal. Combinavam mais como uma perua de praia do que com uma menina na adolescência.
Valentino nao sabia o que dizer, balbuciava palavras desconexas. Destroca as caixas e estende o anel para ela. Ela sorri com a delicadeza de um anjo. Pega o anel, tenta colocar no dedo anelar, no médio, no mindinho. Novo sorriso amarelo estampado na cara de Valentino.
- Adorei o anel, é lindo, pequenininho, mas lindo - obrigada?
O agradecimento nao combina com os planos de Valentino. Agora só restava o jantar e o fim de noite.
Jantam, conversam, riem, falam, sempre tinham assunto. O jantar estava perfeito. Resolvem caminhar, passear pelas ruas do bairro, de mãos dadas como manda o figurino. Falam de tudo e de nada, falam do tempo de ontem curtindo o agora.
Finalmente, tudo estava se resolvendo - a noite ainda seria inesquecível.
Beijam-se ternamente, os corpos se aproximam, os olhares se cruzam, as mãos se tocam.
- Valentino, querido!...
As palavras soam como sinos nos ouvidos de Valentino. Tudo estava maravilhoso...
- Estou menstruada...
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