Sou uma girafa. Meu pescoção comprido é feito para que busque as folhas lá em cima das árvores. Meu objetivo é ensinar pulgas e carrapatos a sobreviverem nesta selva de insetos.
Quandos esses bichinhos e bichinhas vêm até meu cercado, subo com eles uma escadona enorme e lá dentro, bem no fundinho fazemos confidências uns aos outros. Isso parece que alivia a sobrecarga dos aracnídeos.
Tenho lá no alto uma saletinha. Nela constam três cadeirinhas, um divãzinho e um cinzeiro de veludo vermelho.
Quando algum carrapato mais ressabiado aparece é necessário que se feche a janela do ambiente. A luz direta impede certas induções.
Quando me sinto assim meio que tomada pela libido que me desassossega, posso dependendo do momento relaxar e ao sono levar o carrapatão. Se ele me estimula com seus cheiros e posição submissa chego rapidamente ao orgasmo manipulando-me.
Mas isso mais diverte do que enriquece. Gosto de jogar tênis. Sou vidrada nisso. Aliás é mais ordem médica do que vaidade. Apesar de ser girafona e estar acima dos dissabores dos rebaixados insetos, há dias que também tenho meus momentos de chupa-sangue.
Venho lá da fronteira com a Argentina. Estive por muitos lugares antes de me estabelecer aquí. Sabe este local é excelente. Há muito conflito entre tetas e pulgas. Tenho grande quantidade de amigas girafas e girafos.
Mas o meu ideal é ir-me lá para New York. Lá sim a audição é remunerada em dólar.
Gosto muito de futebol. Fiquei emocionadíssima quando o Brasil tornou-se campeão mundial pela primeira vez em 58. Que alegria. Só alegria. Viva! Tenho que ir. Vamos lá?