RODÍZIO DE SUSHI
É impressionante como o mercado cria e inventa cada dia mais mecanismos para poder vender seus produtos. Comerciais de televisão que emprestam a idéia de família ideal ao se consumir a margarina “X”, o corpo perfeito com o uso do adoçante “Q”, a possibilidade de um homem conquistar uma mulher ao dirigir um automóvel “C”...isso nos invade através da televisão, do rádio, das revistas.
Caminhar pelas ruas deixou de ser, há muito tempo, uma atividade de abstração mental . Além dos famosos outdoors que emporcalham e poluem visualmente a cidade, somos obrigados a ler passo a passo, propagandas e ofertas de lojas, restaurantes, serviços. Alguns chocantes pelo maltrato à língua portuguesa(inclui-se aí as placas de sinalização do departamento de trânsito), outros apelam e laçam pelo ponto fraco o indivíduo, como as clonagens de cerveja que os bares e restaurantes oferecem num determinado dia da semana(obviamente em dias de pouco movimento).
O último que me fez refletir foi visto essa manhã. Trata-se da oferta de rodízio de sushi. Existe algo mais paradoxal do que rodízio de sushi? Os restaurantes especializados são todos decorados e ornamentados com o tema “oriente”, os garçons e garçonetes com figurinos típicos, os ocidentais chegam até a sentar no chão e a comer de palitinhos-contrariando toda uma cultura ocidental, na franca idéia de estarem em Tóquio - e de repente vem aí o RODÍZIO, imaginem a filosofia zen oriental e pensem se comporta as pessoas comerem até o limite do absurdo, extrapolando a satisfação, chegando até o limite de literalmente “encher a barriga” sentado em posição de ioga e comendo de pauzinho. O mercado, além de tudo, consegue deturpar até a filosofia e epistemologia de uma cultura, tirando os pobres transeuntes como eu de um estado contemplativo, adquirido ao se andar pelas ruas sem objetivo, somente para sentir o prazer das flores dos últimos jardins que ainda existem nos bairros, que exalam seus cheiros de jasmim, laranja, bougari...rememorando nossa infância. Quero o meu direito de abstrair e contemplar de volta!!!!
Elaine Carvalho.
07/08/02
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