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cronicas-->AS VIRTUDES CANALHAS E OS NERVOS DE AÇO -- 02/07/2005 - 08:17 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

AS VIRTUDES CANALHAS E OS NERVOS DE AÇO

Por Antonio Miranda


Sinceramente, ando deprimido com a situação de falência moral em que nos metemos. Acabo de ler a crónica do ex-Presidente José Sarney em que ele pergunta"Onde está a tomada?". Eu gostaria de saber onde é a saída, além do aeroporto internacional.

A "crise anunciada" desde sempre... É a mesma do final do Governo Sarney, semelhante à do fatídico final do Governo Collor, muito parecida com a queda de ministros durante o governo-tampão do Itamar, lembra muito do que aconteceu depois da votação da reeleição durante o Governo FHC e começou logo no primeiro ano do Governo Lula, para citar apenas os últimos governos... Como já se disse, se criarem novas CPIs, chegaremos aos desmandos de D. João VI e de D. Pedro I ou do primeiro Governador Geral.

Acabo de escrever um livro (Terra Brasilis: http://www.antoniomiranda.com.br/terrabrasilis.htm ) que me obrigou a uma releitura do Brasil. A uma releitura dos autores que pensaram e interpretaram o Brasil: do Pero Vaz de Caminha ao Roberto Da Matta, passando pelos viajantes, pelos sociólogos, pelos poetas e pensadores, pelos cientistas políticos e pelos historiadores. A nossa crise vem de longe, de nossa formação cultural e política, está fincada nas nossas virtudes e nos nossos defeitos. Temos nervos de aço para aguentar tantas crises e sair delas sem culpa nem vergonha.

Existem virtudes canalhas que nos atormentam. Macunaíma é o herói sem caráter que ilustra o oxímoro das virtudes canalhas. Roberto Jefferson encarna a malandragem heróica que nós cultuamos.

Vários dos poemas de Terra Brasilis tentam desvelar as origens de nossa identidade. Um deles - o SYLVA HORRIDA -, do início do ano passado, não pretendeu macular a imagem do Presidente Lula (um Silva, na selva) mas refletir o nosso estado de ànimo no momento dos primeiros escàndalos de seu governo, em tudo semelhantes aos que já estávamos acostumados desde os tempos da Colónia. Difundi outro sobre a confusão partidária em que estamos metidos, para confirmar que sempre foi assim... e que o nosso ufanismo anda de crista baixa desde os tempos do Conde de Affonso Celso. Remeto os poemas para que releiam. Sinceramente, gostaria que os poemas fossem apenas uma brincadeira de mau gosto. Alguns dos textos mandei sob o heterónimo do Barão de Pindaré Jr., um velho rabugento em que me refugio, às vezes, detrás de uma aparência alegre e descomprometida.



PTERODÁTILOS SOBREVOAM AS TORRES GÊMEAS DO CONGRESSO NACIONAL!!



SYLVA HORRIDA

Poema do Barão de Pindaré Jr.

Um helicóptero pousa na Praça dos 3 Poderes.
Não é um helicóptero, é um pterodátilo
ou um fusca com asas.

São agora muitos helicópteros
ou seriam bicicletas voadoras
como mariposas assanhadas
- é dia cívico
e o Presidente vai ao púlpito
mas é o Porta-Voz que vocifera.

Mais helicópteros pairando
sobre as torres gêmeas do Congresso Nacional
e cai uma chuva de guaraná
sobre a passeata dos desempregados
- chuva de pregos, de notas promissórias
como confetes para as massas atónitas.

Ministros revezam-se nas cadeiras
e um deles vai deixar o cargo
vai ser transformado em pterodátilo
enviado por sedex para a Favela da Rocinha
com toda a biblioteca que o Presidente não leu.
Mandam junto, para baratear os custos
os Anais do Congresso e a Carta de Caminha.

Uma vaca suicida despenca da janela
do Ministério Público, enquanto
vampiros espreitam dos ministérios
(engastados em prebendas e sinecuras)
depósitos de sangue e fundos de pensão.

Do púlpito, o porta-voz
canta o Hino Nacional em esperanto
um sindicalista faz reivindicações reiterativas
um diplomata brasileiro pensa em inglês
e blasfema em francês
para o gáudio de jornalistas oficiais
que produzem releases em chinês
enquanto desfila um batalhão engalanado
e descem a rampa do Planalto
os lobistas, os assessores especiais
pessoal das ONGS, convidados oficiais
as delegações nordestinas, um marqueteiro
e o que sobrou de um grupo de pagode.

O público, faminto, ovaciona.





PARTIDOS-REPARTIDOS

Poema de ANTONIO MIRANDA

O Positivismo era a unanimidade
entre civis e militares
no Império do Brasil
mas eles estavam divididos
e aguerridos
(quando não estavam mancomunados).

No regime monárquico
(democrático e escravagista!)
o Imperador era supra-partidário
com posições libérrimas
em seu poder arbitrário
sobre as disputas acérrimas
entre conservadores e liberais
entre generais e civis.

Depois das fronteiras defendidas
definidas e pacificadas
as espadas, enfim, ensarilhadas
vem a malfadada "questão militar"
-a politização dos quartéis:
um Exército deliberante
polemizando pela imprensa
em tom beligerante.

O Abolicionismo dos conservadores
tinha a oposição dos liberais...
Havia vanguardas cautelosas
e conservadores sediciosos...
e o paradoxo nada trivial
do conservador liberal...
e muita propaganda republicana
entre os descontentes fardados.

Liberais defendendo ideais
republicanos
e republicanos
exaltando reivindicações liberais.

Nada mais conservador do que um liberal
mais monarquista do que um republicano!

A alforria dos escravos
(sem a pretendida indenização...)
uniu os ressentidos
de todos os partidos.

Liberais estrategicamente conservadores.
Conservadores tacitamente republicanos
políticos compondo e trocando
posições e funções nos gabinetes.

Crises, cisões, alas, facções
fusões entre contrários
adversários nos próprios partidos
correligionários fazendo oposição.

Com a Proclamação da República
(um ato heróico, de madrugada)
houve então a debandada:
conservadores e liberais
tornaram-se todos republicanos
(mantendo títulos de nobreza)
em novos grupos contrapostos
em dissidências figadais.

Cada partido em seu trono
com seu líder ou seu dono
seu reduto eleitoral
seu mandatário.

Assim o quadro partidário:
ninguém da Direita
todo mundo na Esquerda
"aliás, muito pelo contrário".


PAíS INCONCLUSO
Poema de Antonio Miranda

"Já desisto de lavrar
este país inconcluso
de rios informulados
e geografia perplexa."
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

I
Eu, nem tanto.

É uma lavra complexa
em terras sediciosas
e arbitrárias.

No entanto,
sedutoras.

Capitanias hereditárias
(promissoras!)
atávicas, refratárias
à transformação
senão pela ação
contestatária.

Que assim seja!

Pela lavra reflexa
da palavra incidente
sobre o país obtuso
e demente.

Com bisturis e acicate
na visão de gabinete
em versos brancos
verdes e amarelos.

Haja ira e ironia!


II
Brasil que o poeta
percebe envergonhado
de paletó e gravata
numa leitura de enfado.

Uma geografia perplexa
de estados maiores
e províncias menores
numa política
de supremacias
e inferioridades
sob o disfarce
federativo.

Depois da Guerra, alçado
aos seus questionamentos.

Depois de Getúlio Vargas
e antes do mesmo Getúlio.

Claros enigmas, eleições:
pretensas mudanças
informuladas, atadas
a estruturas pensas
a conchavos subterràneos
a acordos de aparência
sujeitos às fraturas
de qualquer dissidência.

Lutar com palavras
parece sem fruto.

Rosa do Povo, cancerosa
em que o poeta
protesta mas desanima
assina o livro-de-ponto
depois
aperta o detonador
do poema
e desperta
as consciências
na penumbra surda
das massas, no aconchego
das musas.



OBSERVAÇÃO: este poema faz parte do projeto de livro-poema TERRA BRASILIS que Antonio Miranda está escrevendo e distribuindo, em "fascículos", pela Internet. Estão sujeitos a mudanças de acordo com as opiniões, sugestões e críticas dos internautas antes de sair publicado em edição definitiva. A obra pretende abordar temas relacionados com o espaço (DE ORNATU MUNDI), o tempo (DE REVOLUTIONE MUNDI) e os valores, crenças e identidades brasileiras (DE ANIMA MUNDI).
PARTICIPE! Mande seus comentários. PASSE ANDIANTE!!!! E visite a página do autor:
www.antoniomiranda.com.br


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