O adolescente havia adquirido novos hábitos: quando chegava a noitinha, depois da janta, punha-se a caminho da casa de seu coleguinha, um ex-vizinho.
Quando se encontravam conversavam sobre amenidades. O visitado depois do banho jantava. E durante esse tempo o visitante aguardava-o na sala. No sofá com ele sentavam-se duas lindas meninas quando logo começava a novela das oito. A proximidade dos corpos no limitado espaço propiciava o aporte de hormônios sexuais nas correntes sangüíneas. Os braços se roçavam com o propósito de buscar mais e mais prazer. Uma de cada lado ou alternadamente sob o calor do contato físico os jovens trocavam toques. Antes mesmo do fim do drama televisivo chegavam elas com assiduídade àqueles momentos divinos do pós orgasmo.
O paizão já velho e rabujento desconfiava das moçoilas e não escondia um certo ciúme das filhas.
Habitual bebedor de cachaça o tabágico funcionário, já aposentado, quando tomado pela ira punha-se não raras vezes a correr atrás de sua sofrida consorte com uma verdadeira peixeira nas mãos, jurando matá-la caso uma de suas filhas perdesse a santa virgindade numa daquelas ocasiões.
A gritaria era infernal. Em torno da mesa da sala corriam os velhinhos um em perseguição ao outro. O cumprimento de certas ordens se impunha também pela ameaça e a pancada.
Os temores do velho papai não se confirmaram. Suas filhas não engravidaram e nem mesmo a virgindade santa perderam. Casaram-se cada uma com um industrial diferente. E tudo aconteceu naquele tempo ... naquele já longínquo tempo em que a seleção brasileira de futebol tornara-se a tricampeã mundial, alí mesmo no México.
Lembra-se?