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Infanto_Juvenil-->A LEI DA SELVA -- 29/03/2004 - 08:15 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A LEI DA SELVA


Na cidade dos bichos havia um urso pobre, pescador, que todos os dias saía para o mar no seu velho barco com seu filhinho, um ótimo ajudante que por sua vez, amava fazer o que fazia ao lado do pai. E a alegria de voltarem com o barco cheio de peixes, era só o complemento do prazer que sentiam durante o dia.
Um dia em alto mar, antes mesmo de começarem a pescaria, o filhote sentiu uma dorzinha na barriga. O pai que conhecia o filho, percebeu e perguntou:
- Que há com você filho?...
- Senti uma pontada de dor aqui, mas não se preocupe, já passou...
- Não é melhor voltar pra cidade?...
- Não deve ser nada de grave... Vamos trabalhar...
Mas a dor foi aumentando, e em pouco tampo, o pequeno já estava com febre, vomitando, e transpirando muito, e não tiveram como continuar pescando. Voltaram e quando chegaram em terra, o filhote já não podia andar, e teve que ser carregado pelo pai até o hospital.
O Dr. Lobo examinou o doente diante da ansiedade do pai, e deu a notícia:
- Vai precisar fazer uma cirurgia urgente.
O pai concordou, mas quando ouviu o preço do tratamento, disse:
- Mas é coisa assim tão séria, doutor?
- Não se preocupe. É coisa simples. É um trabalho de minutos...
- Mas doutor se é tão simples e rápido assim, não acha que é muito caro cobrar por uns minutos de trabalho, o que eu ganho num ano?...
- Olha seu Urso, - disse o médico – a verdade é que somos animais civilizados, e com a evolução do mundo, vivemos hoje em cidades e tudo o mais... Mas ainda não somos tão civilizados como os humanos, e aqui ainda perduram os resquícios da lei da selva... E assim, eu só aproveito a oportunidade que tenho, como um animal que sou. A lei da selva permite, e eu só estou usufruindo o que me é permitido...
- Lei da selva... – disse o urso pensativo, coçando o queixo.
- O Dr. Lobo continuou:
- Além do mais seu Urso, não estou fazendo um serviço qualquer e sem importância... Estou afinal salvando a vida do seu filho... E me diga, seu Urso, quanto vale a vida do seu filho?... O senhor não acha que vale muito mais que um ano de trabalho?
O urso nem discutiu. Não tinha outra coisa a fazer a não ser concordar com a situação. E teve que assinar uns documentos, se comprometendo a pagar o que não possuía, já que o filhinho para ele valia não um ano, mas uma vida de trabalho.
Mas foi tudo muito bem com o pequeno. A operação foi mesmo muito rápida, e poucos minutos depois estava mesmo fora de perigo... Algumas horas depois pediu comida, que o pai atendeu com alegria. E poucos dias depois, já estavam os dois no mar tentando ganhar além do sustento, o dinheiro que deviam ao médico.
Num domingo, quando os dois ursos arrumavam o material de pesca no barco para irem para o trabalho, o Dr. Lobo passou com o Lobinho seu filho, para dar um passeio de lancha pelo mar. Quando viu os dois trabalhadores, o doutor falou:
- Olá, como é que vai o garoto? Parece muito bem de saúde, não? Vai até dar um passeio de barco com o pai!...
- O garoto está ótimo, doutor... Mas não estamos passeando. Estamos indo pro trabalho.
- Até aos domingos, seu Urso?... Isso é que é vontade de ficar rico!... Eu e meu filho estamos de folga hoje e quero ensiná-lo a pilotar a lancha.
- Cuidado com as pedras doutor! Com a maré baixa, é um perigo!...
O lobo nem ouviu, e saiu a toda velocidade na sua potente lancha.
Já longe da costa, o lobinho pilotava, e fazia acrobacias radicais, diante do sorriso orgulhoso do pai. Mas a lancha bateu de raspão em uma pedra escondida pelo brilho da água, e os dois foram atirados pra fora. Não sabiam nadar, mas felizmente conseguiram se agarrar a uma pedra que estava ainda à mostra com a maré baixa. E a lancha apagou o motor não muito longe, mas não tinha como ir até ela.
Passou mais de hora e os dois já tremiam de frio e medo, porque a maré estava subindo e a pedra onde estavam ficava com o espaço descoberto cada vez menor, quando ouviram o barulho de um motor se aproximando. E logo avistaram satisfeitos, que eram os dois ursos pescadores seus conhecidos que vinham chegando perto. Estavam salvos, pensaram.
Quando o barco chegou a uma pequena distância, eles gritaram e fizeram sinais para serem vistos. O urso manobrou o velho barco e chegou pra perto.
- Ainda bem que chegaram, - disse o médico.
- Que foi que aconteceu? – perguntou o urso.
- Batemos numa pedra que estava meio escondida...
- Eu tentei avisar – disse o urso. – Até logo, doutor!... Temos que trabalhar enquanto é tempo.
- Quê!... Não vão nos socorrer?...
- Eu até pensei, mas o senhor não falou nada... eu pensei que não precisavam. Também não somos salva-vidas... Nosso ganha-pão é outro...
- Por favor, seu Urso!... Nós não sabemos nadar, e a lancha está cada vez mais longe... Além de tudo a maré continua subindo...
O urso coçou o queixo como fazia quando pensava, e disse:
- Só se o senhor pagar.
- Combinado, eu pago.
O lobinho já chorava de frio e medo. A água já tinha coberto a pedra.
- Quanto o senhor me paga? – perguntou o urso.
- O seu dia de trabalho... Nem precisam ir pescar hoje.
- É pouco. Até logo, doutor.
- Dois dias!... – gritou o lobo. – O seu e o de seu filho!...
- Nada feito. Quero um ano!
- Um ano?!... É uma exploração, seu Urso. Mas está bem. Quanto é que o senhor ganha por ano?
- Não quero o que eu ganho, doutor. Quero o que o senhor ganha!...
- Mas é uma exploração, seu Urso!...
- Então até logo doutor!... E fiquem em pé na pedra, que a maré ainda vai subir mais. E muito cuidado com os tubarões. Eles são animais que ainda não conhecem a civilização, doutor.
O lobinho já chorava aos prantos. O lobo ficou desesperado, e disse:
- Eu pago um ano de trabalho. Digo, um ano do meu trabalho.
- E quem dos dois o senhor quer que eu salve, doutor? Ou o senhor pensa que a vida do seu filho não vale um ano do seu trabalho?
- Não faça isso, seu Urso! É muito dinheiro!...
- Então até logo, doutor!... Faremos negócio noutra ocasião... E boa sorte!...
- Faça um desconto, seu Urso!...
- Não doutor. Essa é a oportunidade que tenho. Foi o senhor mesmo quem me ensinou que devemos aproveitá-la da melhor maneira possível, lembra?...
- Eu pago os dois anos!...
- O senhor tem algum documento de garantia?
- Tenho um talão de cheques na lancha.
O urso foi buscar primeiro. Os lobos tinham fama de serem muito espertos. Depois do cheque assinado, foi que os dois foram resgatados.
Os lobos voltaram para a terra na lancha, e os ursos continuaram a viagem para a pesca. Então o filho perguntou:
- Com o dinheiro que ganhamos, não dá pra tirar uma folga da pescaria, pai?
- Não filho. Não ganhamos dinheiro algum. Quis só dar uma lição no lobo. Quando chegarmos, vou devolver o cheque dele. Vou só pedir que perdoe a minha dívida em troca. Creio que isso é justo ficar vida por vida.
- Também acho, pai.
Os dois pescaram o restante do dia, rindo dos detalhes do medo dos dois lobos. Voltaram à tarde com poucos peixes, porque tinham perdido muito tempo no dia. Mas quando chegaram à praia, já estavam uns cachorros policiais esperando para prendê-los. O lobo tinha dado queixa à polícia de que tinham sido extorquidos pelos ursos.
E os dois ficaram presos...
Tiveram de gastar mais um bom dinheiro com os papagaios, que eram os advogados...
Mas felizmente, essa estória só acontece entre os animais...

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Adelmario Sampaio
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