Usina de Letras
Usina de Letras
155 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->EXPLOSÃO TRANSCENDENTAL -- 28/03/2001 - 22:03 (Raquel Salama Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Explosão transcendental

No início, olhava-me de longe. Parecia ter medo de mim ( de mim?). Aos poucos, foi tomando coragem e, certo dia, arriscou pegar a caneta e abrir-me a primeira página.
Ainda olhou-me com uma certa indecisão. Travava uma verdadeira luta interior. Seus olhos eram um misto de coragem e dor. Sabia eu que ela precisava muito escrever algo, mas parecia-me ser esta uma tarefa dolorosa.
Será que é uma história de amor perdido? Não, não... Por sua expressão parece ser... Oh céus! Uma tragédia?! Mas, se fosse? Por que razão iria escrevê-la? Para quê tanto sofrimento em vão?
Pobre garota... Tão jovem, tão moça e tão isolada! Tão triste e perdida... Vamos! Conte-me o que aconteceu. Quem sabe se um desabafo não lhe faria bem?
E não é que ela atendeu meu apelo? Coincidência ou telepatia? Bem, o fato é que ela pegou a caneta com determinação, respirou fundo e escreveu:
“ As palavras estão fervendo em minha cabeça. Inquietam-me, pressionando-a. preciso libertá-las, por mais doloroso que seja. Caso contrário, corro o risco de explodir ”.
Fiquei assustado. Já imaginou se ela explodisse? As palavras voariam por todos os lados, desordenadas. Parecia ser tão terrível sua história...! Pensando bem, até que seria bom que seu cérebro explodisse! Fiquei a imaginar a cena maquiavélica... Uops! Que é isso?
Despertei com o toque da caneta em minha página. Mão trêmula. Expressão tensa. Apertou os lábios e... Uma a uma, suas lágrimas começaram a cair sobre mim. Mas ela não parava de escrever e aquelas gotinhas salgadas borravam meu papel.
_ Pare de chorar! Veja só o estrago que você me faz...- desabafei.
_ Não seja estúpido! A garota sofrendo e você preocupado com seu estado físico! Que caderno mesquinho você é ... – disse uma voz consternada.
Olhei para os lados, procurando identificar o intruso. E lá estava ele, o velho livro da estante.
_ Ah! Só podia ser você, seu amarelo empoeirado.
_ Vê lá como fala comigo! Um dia você pode ficar como eu.
_ Ai!
Ela parou de escrever e colocou desesperadamente as mãos sobre sua testa, apoiando os cotovelos sobre mim.
_ Ei, está doendo!
_ Cala a boca, seu imbecil. Não vê que seu estado é crítico?
_ Crítico? Que troço é esse?
_ Como é irritante falar com cadernos novos! Tão ignóbeis...
_ Ig o quê? Está me xingando seu doutor metido a besta?!
_ Não. Estou dizendo que você é um caderno vil, sem nenhum valor cultural.
_ Posso não ter nenhum valor cultural, mas sou muito mais útil que você, que fica aí, esquecido na estante, cheio de poeira e palavras difíceis.
Finalmente, o doutor calou-se. Acho que ficou deprê. Mas deixe-me continuar. Como havia dito o babaca do livro, o estado da garota era crítico. Tão crítico que a imagem do cérebro explodindo voltou-me. Fechei os olhos, para espantá-la e ... BUUMM!!! Tomei um tremendo susto. Voou letras para todos os lados. Fiquei observando elas flutuarem no espaço do quarto. Foi aí que falei para o livro: Bem, ao menos, essa história, que parecia ser muito triste, foi para o espaço. Ninguém a saberá jamais!
Foi nada! No mesmo instante, como que para apagar a minha língua, pude assistir ao magnífico espetáculo.
Como átomos que se unem em perfeita harmonia para formarem moléculas, organelas, células e tecidos, as letras formaram sílabas, que formaram palavras, que formaram frases, orações e períodos. Era o milagre da criação literária ( ou seria recriação? ). E o mais incrível de tudo! À medida que se juntavam, as palavras tornavam-se densas e caíam sobre meu papel, formando a tão temida história.
Não era tão terrível como eu imaginava. Contava a história que a mãe da garota morrera com uma grave doença. Ao final, uma grande lição: o sofrimento, quando nada mais podemos fazer para que ele se acabe, deve ser encarado com resignação porque é um caminho para a sabedoria e a recompensa é a evolução espiritual.
Quanto à garota, pode ficar tranqüilo, caro leitor. Ela não sofreu nenhuma lesão física. Os miolos dela não estouraram e não foi necessário colar os cacos de seu crânio. Apenas as palavras escaparam, não me pergunte como, pois também sou um personagem dependente de um autor, o qual não está com saco de explicar.
_Digamos que foi uma explosão transcendental – explicou o letrado da estante.
Exatamente. Bem , mas o fato é que a garota estava apenas desmaiada. Quando acordou, pegou a caneta e escreveu sobre minhas páginas as mesmas palavras que se depositaram sobre mim sem cor nem forma, apenas com sua energia. E as palavras formaram as mesmas frases. E as frases, a mesma história. A única diferença é que, agora, ela ganhava vida em espetáculo de cor e luz com a tinta da caneta.
A garota ficou admirada por ter dado um tom tão belo a uma história que parecia tão triste. Emocionada, ela orou, pedindo a Deus que guardasse a alma de sua mãe e agradeceu-Lhe por ter compreendido tudo. Saiu de seu quarto abafado para ver o sol brilhar em seu jardim, levando-me em seus braços.
Bem, até eu agradeci a Deus por tudo que aconteceu, pois minha vida havia melhorado pacas. Tinha em mim uma história especial e, portanto, minha dona tratava-me muito bem. Já não era tão ignóbil, como dissera o panaca do livro metido a doutor. Pelo contrário, além do valor cultural, ganhara um precioso valor espiritual. Transformara-me em um livro de auto-ajuda. Fiquei meio enciumado quando fizeram várias cópias de mim, mas tudo bem, eu sou o original ! Minha vidinha monótona de caderno novo trancado dentro de um quarto ficara interessantíssima. A garota me carregava para todos os lugares que ia e fui lido por diversas pessoas. Até fiquei famoso e saí na televisão! Que barato, não? Pois é, foi mesmo tudo um grande milagre.




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui