João era um homem simples, nascido no subúrbio do Rio, que foi conquistando seu lugar no mundo através de muito suor. Trabalhava de dia e estudava durante a noite.
Na empresa em que laborava assumiu o cargo de sub-encarregado de distribuição de materiais. Um salário razoável, e um certo prestígio.
Perto dos trinta anos de idade ele conheceu Maria Helena, jovem bonita do bairro de João. Logo começaram a namorar e em menos de um ano estavam casados.
João não se importava com o problemas dos outros, nem com a pobreza que era marcante na rua onde morava. Se alguma criança lhe pedisse algumas moedas, ele fechava o vidro de seu carro e nem era com ele.
Juntou dinheiro e comprou um terreno na proximidade de seu trabalho e construiu uma bela casa de dois andares. Com o tempo ele notou que atrás do seu terreno foi se formando um cortiço, uma vila bem pobre, e para se livrar daquela visão desconfortável, não pensou duas vezes e mandou fechar todas as janelas que dava para o fundo da casa.
Ele continuava a levar a sua vida tranquila. Foi promovido a encarregado-chefe no seu emprego e logo veio o primeiro filho, que levou o mesmo nome de João, mas era chamado de Júnior.
Tudo ia muito bem, até que em uma noite João escutou um estampido muito forte, que lhe tirou o sono. Olhou para a sua mulher, já acordada pelo barulho e com ela nada havia acontecido. Os dois correram para o quarto do filho, ao abrir a porta viu um buraco na parede bem no local de uma janela que fora fechada por ordem dele.
Na pequena cama estava o corpo do menino, já sem vida, no meio dos lençóis sujos de sangue. No olhar do casal a tristeza que ali se iniciava, mas que com certeza não teria mais fim.
Muitos de nós fechamos nossas janelas para a realidade, seja da casa, do carro ou dos nossos sentimentos, mas não raramente ela se abre brutalmente, rápida e certeira com uma bala perdida, pronta para encontrar algum inocente, que paga pelo crime do egoísmo e da insensatez de nossa sociedade.