Os olhos da fatídica serpente
estão novamente petrificando os meus sonhos.
As nuvens dessa cidade obscurecida,
empoeiradas por um sentimento anômalo,
rancoroso e pétreo,
minando minhas defesas psíquicas.
Desafetos de outrora,
impactos cabalísticos,
imagens em meu subconsciente
agora são liberadas,
animalia tenebrarum!
nessa indiferente megalópole
sem vida.
A visão de algo que não deveria
sequer respirar,
respira a fôlegos fartos e vive
com extremo prazer
em meio a esse caos urbano,
em meio a essa grande massa acéfala,
que se contenta em apenas ir e vir.
Ir e vir para o nada absoluto
no qual foi moldada.
Ir e vir atrás do alimento verde
que sustenta essa pífia raça.
Talvez, por um lapso da razão,
eu siga esse caminho um dia.
Seria, para meus genitores, uma alegria!
Tão indiferentes que são para a minha sina.
Talvez, em um lapso de consciência,
deixe morrer de fome a débil inocência,
das palavras que outrora cunhei.
Os sonhos enevoados de alguém
que acreditou um dia, pela poesia inteligente,
quebrar o concreto das almas citadinas,
humanizar as pedras que habitam os apartamentos,
dissipar o nevoeiro sobre as mentes mundanas
e pisar com gosto na cabeça da serpente!
EDUARDO AMARO
(em uma cidade indiferente, chamada São Paulo, durante uma madrugada de insônia, usando um laptop de um desconhecido na casa de um desconhecido, sem saber nem mesmo o bairro em que estou ou o sobrenome da pessoa que me trouxe para cá...)
09 de agosto de 2007
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