Valério morava em um pequeno sobrado, comerciário, admirador da natureza. Gostava de jogar um futebolzinho com amigos. Em seu pequeno quintal, criava coelhos e pombas brancas. Era o seu passa-tempo.
As aves estavam em gaiolas bem cuidadas, com água limpa e ração de boa qualidade. Tinha os animais em repartições individuais. Saía a procura de verde para seus coelhos. Seus bichinhos não passavam fome, reproduziam-se com rapidez. Às vezes abatia uns coelhos, levava para empresa e fazia uma caçarolada para os amigos.
Num belo dia, saiu do trabalho todo animado. Achava que estava num dia de graças. Valério desceu do ônibus, começou a caminhar rumo a residência. No caminho deparou com um pequeno sapo. Parou por um instante para reparar na atitude do animal e assim notou o desespero do pequenino.
No meio do trânsito, saltitando de um lado para outro, a luz dos faróis lhe fazia mal. Com certeza seria atropelado e morto. Valério compadeceu-se do bichinho. Teria que apanhá-lo e levá-lo para lugar seguro. Ao resgatá-lo, notou que o animal era lindo, tinha um tom azulado como a cor do mar em dias de calmaria. Ele encarou o sapo e disse:
_ Vou te levar para minha casa! Confie em mim e te criarei com todo o cuidado necessário. Apesar do quintal ser pequeno, arranjarei um lugar para você. O muro é alto, ficando protegido, e não conseguirá fugir. Vou cuidar de você. Não se preocupe.
Valério chegou em casa, passou pela cozinha e foi direto para o quintal. Soltou o pequeno animal que saiu pulando a procura de um lugar para se esconder. Como não havia lixo, nem mato, o pequeno anuro foi obrigado a escolher um canto do sobrado como casa por muito tempo.
Valério tinha paciência para caçar moscas, besouros e minhocas para saciar a fome do seu novo hóspede. Além de seus coelhos e pombas, agora tinha o sapo. E assim tornou-se o bicho preferido. Ele chegou a comprar livros de biologia para saber sobre a criação de anfíbios. Descobriu que o sapo macho era pequeno em torno de trezentas gramas. Seu sapo era muito maior, deduziu que era um sapo fêmea e disse:
_ Você salta tanto que a partir de hoje, vou dar-lhe um nome, Pipoca.
O sapo parecia entender e Valério continua falando:
_ Veja o que eu trouxe para você!
O sapo saltava do seu canto e vinha em sua direção para saborear os insetos e minhocas. Com o tempo o bicho conhecia sua voz e o barulho do seu andar. Naquele pequeno pátio, os dois se entendiam. Valério caminhava e Pipoca já estava próxima de seus pés a procura de carinho. Gostava do toque e retribuía estufando seu corpo. Assim voltava para seu canto sem incomodar ninguém.
Pipoca só alimentava-se de insetos e minhocas vivas. A inteligência era imensa. Ela era exigente a ponto de ficar examinando o movimento da sua comida. Após a refeição, ia para seu buraco no chão, escondia-se e ficava imóvel. Ela se mexia cada vez que escutava a voz de seu amigo.
Esta amizade durou quatro anos. Nesse período, Pipoca engordou, cresceu e chegou a pesar mais de um quilograma. Os dias de chuva eram puro encanto para o sapo. Ia tomar banho, praticava seus saltos e procurava Valério pelo quintal. Parecia que o coaxar do animal era um pedido pela comida viva. O momento pior de Pipoca aconteceu num dia como este descrito.
Valério estava trabalhando. Sua sogra veio visitá-lo e não sabia nada a respeito de Pipoca. Ao encontrar o sapo no quintal, o susto foi inevitável e o grito surgiu pela garganta. Ela correu até a cozinha da casa, pegou um saco plástico e um cabo de vassoura. Assim foi empurrando Pipoca para um outro destino. Na verdade ela estava expulsando o pobre animal de seu lar, seu cantinho aconchegante. A mulher jogou o plástico com o sapo num capinzal próximo da casa de Valério.
Valério ao chegar em casa, como de costume, ia cuidar dos animais e brincar com o bicho preferido e, só depois, dar bom sono a todos. Porém naquela noite, não viu o sapo. Ele procurou, nada achou e o desespero foi crescendo. Desabafou, pesaroso:
_ Como ela poderia ter sumido? Saltar o muro é impossível!
Correu até a cozinha, perguntou se alguém teria visto a sua mascote e gritou:
_ Pipoca é o meu sapo!!
Sua sogra era uma mulher muito religiosa e supersticiosa, tinha medo de simpatias, benzedeiras e macumbas. Ela meio apreensiva apareceu e começou a contar:
_ Eu estava no quintal e vi um mau agouro! É isso que representa um sapo! Livrei sua casa desse infortúnio. Peguei o bicho com uma sacola e joguei lá no banhado, junto do capinzal!
Valério foi até o lugar mencionado, procurou por toda parte. Estava nervoso e procurava de um lado para outro em vão, mas continuava chamando:
_ Pipoca! Pipoca!
Infelizmente, Valério não encontrou seu bichinho de estimação. Ficou muito irritado. Estava nervoso e começou a discutir com sua esposa, emocionado, por causa do animal e, então, disparou:
_ Eu pago as contas dessa casa! A senhora com crendices tolas achou que meu sapo é uma estranha criatura? Todos somos estranhos! Sinta a conseqüência de seu ato. Achou que tinha o direito de retirar Pipoca daqui, então como dono dessa casa também tenho o direito de retirá-la dessa casa assim como fez ao pobre animal!
A esposa estava indignada, mas vendo o sentimento do marido, aconselhou a mãe a ir embora. Valério foi até o cantinho que Pipoca morava e com uma frase carregada de profundo rancor, despediu-se:
_ Pipoca, onde você estiver, saiba que estamos vingados!