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Contos-->Segredo sem fim -- 17/08/2008 - 21:40 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Em um pequeno lugarejo de nome Tesoura, no estado do Paraná, nasceu Antonio. Menino de olhos verdes, garoto esperto. Sua família trabalhava com erva mate e dali vinha o sustento das crianças.

Uma família unida e destemida. A ajuda era mútua, o maior protegia o menor. Eram em dez irmãos entre meninos e meninas. Seus pais se orgulhavam da garotada. Todos trabalhavam arduamente nas lavouras. Plantava-se milho, feijão, batata, mandioca. Enfim tudo o que se plantava era aproveitado como produção.

O tempo passou rápido e Antonio já estava com dezessete anos. Tornou-se um homem bonito e charmoso, conquistava o amor das moças do lugar com facilidade devido a seu galanteio.

Verônica, uma loira estonteante logo se apaixonou por ele e em pouco tempo estavam noivos. Porém Antonio gostava de dançar e foi numa dessas escapadelas que conheceu Catarina. Com aquele jeito trigueiro acabou se envolvendo com a moça, mas era comprometido a se casar com a outra. Este triângulo durou dois anos.

Faltavam vinte dias para o casamento de Antonio, os convites distribuídos, a festa imaginada pelos noivos. A data se aproximava para a alegria de todos, menos de Catarina. Antonio convidou seu irmão Pedro para irem até a bodega, comemorar a despedida de solteiro. Conversar com os amigos, tomar cerveja. Estavam de bom humor.

No local encontraram a rapaziada reunida, beberam e contaram piadas. A gargalhada era geral. Aos poucos os amigos iam embora e ficaram apenas três pessoas, Antonio, Pedro e João. O terceiro já se encontrava embriagado, ficando com a valentia a mostra. Resolveu discordar de Pedro. A discussão tomou agravo e João sacou a pistola. Preparava-se para puxar o gatilho em direção ao peito de Pedro. Antonio ao ver a cena, percebeu que seu irmão seria morto e num pulo muito rápido e com destreza, estava entre os dois. Com agilidade dobrou o braço de João para trás. Mas a fatalidade fez com que o rapaz ao seu reflexo, dobrasse o braço e o tiro saiu. João foi atingido no próprio queixo, caindo desmaiado. A poça de sangue estava se formando no chão.

Antonio e Pedro ficaram desesperados e correram para casa. Iam contar aos pais o ocorrido. Eles abandonaram o amigo porque haviam o matado sem intenção. Os pais, cientes da gravidade, ficaram perplexos com os dois filhos. Eles custavam a acreditar porque na educação das crianças jamais estava a violência. Todos aconselharam Antonio a fugir, mas a falta de compreensão dos pais foi a maior decepção.

Antonio para não ser preso, resolveu fugir, mas antes devia satisfações a sua noiva. Sabendo que o casamento estava por acontecer, achava que na sua hora difícil, Verônica fugiria com ele. Esta moça se recusou e disse:

_ Jamais fugiria com você, seu assassino!

Antonio se sentia sozinho e sem apoio. Ele lembrou dos bons momentos com Catarina. Sabia que ela o amava de verdade. Chegou na casa de Catarina e contou a mesma historia para a moça. Ela não teve dúvidas, pegou as poucas roupas que tinha e ambos sumiram sem deixar vestígio.

Com o passar do tempo, as duas famílias estavam em desespero porque não sabiam se Antonio e Catarina estavam vivos e salvos. E assim nunca mais tiveram notícias do casal.

Eles eram analfabetos. Tinham medo de voltar para casa e serem presos. Casaram-se em um lugarzinho e juraram além dos votos de casamento, guardar o segredo para sempre entre eles.

Iam arranjando comida, pouso e trabalho pelas fazendas que vinham pela estrada. Pelos caminhos dos anos foram criando uma grande família, nove filhos bem educados. Este casamento foi duradouro, sessenta e quatros anos de convivência e cumplicidade em todos os sentidos. Não houve atritos, nem brigas que os separassem.

Antonio faleceu com oitenta e um anos num dia próximo da festa do Natal. Catarina, sua fiel esposa viveu mais seis anos em agonia constante após a partida de seu eterno amado. Nem ao leito de sua morte, ela quebrou o segredo sem fim da união de duas vidas.

Antonio morreu acreditando que era um assassino, como sua ex-noiva o chamou um dia no passado. Mas o segredo não foi ao tumulo junto com Antonio e Catarina, como era o esperado, porque o destino se incumbiu a trazê-lo à tona para surpresa de seus familiares.

Quase setenta anos após o ocorrido. Uma neta de Antonio, dentro de tantos que tiveram, a qual morava em outra cidade, em torno de duzentos quilômetros de distancia dos avós, precisou de assistência jurídica para o divórcio. Ao chegar no escritório de sua advogada, sentou num sofá perto da porta de entrada, esperando para ser atendida. O pai da advogada resolveu passar no escritório da filha ao mesmo momento. Deparado-se com a moça loira, sem rodeios e num espanto de felicidade disse:

_ Você é neta do irmão da minha mãe! O nome de seu avô é Antonio? Tenho certeza que você é minha prima! Alias, seu pai deve ser meu primo..

_ Sim. O nome do meu avô é Antonio. Como o senhor sabe dessa informação?

Ele rindo e espantado com a aparência da moça, tirou de seu bolso a foto de sua mãe e disse:

_ Olhe a foto! Você é muito parecida com minha mãe quando jovem! Só pode ser da minha família. O único familiar que não conheço pessoalmente é tio Antonio. Ele se casou com uma jovem e foram garimpar diamantes no interior do estado. Se não conheço você moça, e pela sua aparência, só pode ser parente deste lado! É a neta de Antonio!

A conversa se prolongou por muito tempo. E assim o pai da advogada, contou a história para a neta de Antonio. O verdadeiro motivo da saída de Antonio e Catarina da casa dos pais. O segredo do casamento estava sendo descoberto naquele momento.

Os filhos de Antonio e Catarina souberam da história, estavam emocionados. Ficaram a imaginar porque seu pai não havia revelado o episodio para aliviar o sofrimento. Com certeza os filhos iriam verificar a possibilidade legal, ajudariam Antonio a ver os entes queridos depois de tantos anos e morrer com a consciência limpa.

A neta sabia que o avô não matou ninguém, apenas tinha defendido seu irmão. O homem baleado passou nove dias em coma e se recuperou naquela época. A família de Antonio e Catarina soube que o amigo baleado ainda estava vivo, e morreu uns dois anos depois de Catarina.

Maior que o medo da cadeia, de ser preso, foi o amor deles que prevaleceu até a morte de ambos. Também maior que a cumplicidade de Antonio e Catarina foi o segredo que os tornou marido e mulher.

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