Usina de Letras
Usina de Letras
142 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62231 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50629)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4768)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140805)

Redação (3306)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->As mulheres e a sétima arte -- 05/12/2002 - 00:47 (Leila S.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As mulheres e a sétima arte





No dia 28 de dezembro de 1895 o cinema encontrou o público pela primeira vez em Paris no Salon Indien e em 1995 o mundo inteiro festejou os cem anos dessa nova arte. As comemorações trouxeram à tona os nomes de algumas mulheres que desde muito cedo contribuiram para o desenvolvimento do cinema, a maioria desses nomes vinha sendo injustamente relegado ao esquecimento.



E verdade que a história do cinema conta com muito mais nomes no masculino do que no feminino, o que é perfeitamente normal tendo em conta toda a sorte de obstáculos ideológicos e sociais que as mulheres tiveram que enfrentar para exercer essa profissão. A bem da verdade para exercer essa ou qualquer outra profissão de prestígio. Com a revolução industrial, as portas do trabalho se abriram para as mulheres, mas as portas das usinas. Nas usinas, elas eram bem-vindas desde que aceitassem a metade do salário de um homem e trabalhassem dezesseis horas ou mais por dia. « Elas trabalham melhor e por menos », era a fórmula adotada por muitos patrões.



Apesar de todos os obstáculos, Alice Guy-Blaché (1873-1968), que é considerada a primeira mulher cineasta e um dos primeiras realizadoras da história do cinema(1), conseguiu se impor e já em 1896 realiza La fée aux choux, na Gaumont onde era a princípio uma « tímida secretária ». Esse foi apenas o começo de uma longa e brilhante carreira. Depois de realizar vários outros filmes na França ela parte para os Estados Unidos representando a Gaumont e lá inicia uma carreira de produtora independente. Constrói um estúdio, o Solax em Nova Jersey e aí se estabelece, produz muitos outros filmes e dirige atores que se tornarão célebres como Ethel Barrymore.



A segunda realizadora do cinema mundial foi Anna Hofman-Uddgren, sueca que realizou o seu primeiro filme em 1911 e cinco outros nos dois anos subseqüentes. Findou aí a sua breve carreira. Desses cinco filmes o mais bem recebido foi uma adaptação de Miss Julie, peça de August Strindberg, ironicamente considerado um misógino. Infelizmente o filme foi destruído em um incêndio, destino de muitas das películas antigas.



Obedecendo à cronologia, a terceira cineasta da história seria a austríaca Louise Fleck que trabalhou na Austria e Alemanha até a ascensão do regime nazista.



Outro nome feminino ligado aos primórdios do cinema é o de Germaine Dulac (1882-1942) que depois de ter trabalhado em um diário feminista e como redatora da revista « Française », chega ao cinema. Das suas realizações destaca-se La souriante Madame Beudet que é considerado o primeiro filme feminista e primeiro filme psicológico e Ames d’hommes fous de 1917 filme de vanguarda do cinema francês.



Leni Riefenstahl, que era a princípio dançarina, é considerada como uma das maiores cineastas alemãs. Ela produziu, escreveu e co-realizou. O lado menos poético de sua biografia é o fato de que a ambiciosa Leni não hesitou em aproximar-se do partido nazista para poder continuar a sua carreira quando Hitler ascendeu ao poder. Ela foi entretanto, a única cineasta capaz de produzir um filme de valor dentro das regras prescritas pelos nazistas. « O cinema alemão, um dos primeiros do mundo antes do nazismo, degenera rapidamente ; e a única produção notável da época é o filme de Leni Riefenstahl sobre os jogos olímpicos de 1936, Os deuses do estádio. » (Claude David, Hitler et le Nazisme).



Abandonamos a cronologia e muitos nomes que mereciam, sem dúvida ser citados. Como se vê, não foram mencionados os nomes das vedetes criadas pelo Star system. O cinema nunca prescindiu delas e elas são muito mais numerosas que as produtoras, realizadoras, diretoras. Algumas dessas vedetes estão definitivamente ligadas à história do cinema. O caso mais explorado é o de Marilyn Monroe que se tornou praticamente um ícone dessa arte. Antes dela brilhou Musidora(1889-1957), que foi a primeira vamp das telas. Os « surrealistas rendem-se ao seu encanto fazendo dela um verdadeiro mito ». Como era inteligente e culta, Musidora não se contentou com o papel de vamp, decidiu tentar o outro lado da câmara. Acabou, porém tendo que aceitar muitas imposições da parte do produtor, como por exemplo ser obrigada a trabalhar em equipe com um homem. Cansada de tais exigências ela cria a sua própria produtora, a Société des films Musidora.



Ainda hoje o número de cineastas homens é consideravelmente mais elevado, mas não são poucas as mulheres que vêm se destacando mundialmente. A cineasta Jane Campion da Nova Zelândia, tornou-se conhecida de todos depois do belíssimo filme O Piano. Esta cineasta diz dela mesma « Eu sou uma filha do feminismo mas também uma pessoa banal ». Ela diz ainda que tem uma visão otimista da vida e que por isso preferiu um happy end para esse filme. As realizadoras estão se aventurando também por gêneros nunca antes explorados por mulheres como o policial Face de Antônia Bird, a ficção científica The sticky fingers of time da americana Hillary Brougher, a polonesa Teresa Kolarczyk explora o fantástico em Odwiedz Mnie we Snie.

Outra polonesa, Agnieszka Holland é considerada uma das melhores realizadoras da Europa, ela iniciou uma carreira internacional depois do enorme êxito do filme Europa, Europa (1990).



Catherine Breillat é considerada pelo Cahiers du cinéma como a realizadora mais « perigosa » do cinema francês. As vezes aclamada pela crítica, outras dolorosamente incompreendida. Produziu Tapage nocturne e dez anos depois Sale comme un ange e 36 fillete.

O filme A excêntrica família de Antônia da realizadora holandesa Marleen Gorris levou o oscar de melhor filme estrangeiro em 96. E possível que a maioria dos brasileiros se lembre do fato pois ele estava concorrendo com o filme O Quatrilho.



Samira Makhamalbaf é uma jovem cineasta iraniana, e jovem no caso não é um eufemismo, ela tem apenas 21 anos, tinha 17 quando fez A maçã que foi recebido com fogos de artifício pela crítica em todos os países onde foi apresentado. Samira é filha do diretor de cinema Moshen Makhmalbaf e por isso ela não considera que seja prematura a sua incursão pelo cinema. As vezes acompanhava o pai às filmagens e desde os 14 anos fazia curtas como exercício. Ela afirma que tornar-se cineasta « é difícil para homens e para mulheres, mas é ainda mais difícil para as mulheres ».



E as cineastas brasileiras ? Diz-se que o cinema brasileiro nunca viu tantas mulheres por trás das câmeras e justamente cinema Feminino no Brasil foi o tema de debate na UFPE em outubro de 98. A cineasta Lúcia Murat, autora de Doces poderes participou desse encontro e também do festival de cinema de Berlim onde ela diz que « Mais da metade dos trabalhos inscritos eram feitos por mulheres ».

Carla Camurati, é considerada por alguns como a responsável pela revirada no cinema nacional com o seu filme Carlota Joaquina, Tata Amaral é a « revelação recente do cinema brasileiro ». Estreou com Um céu de estrelas e recebeu o prêmio de melhor diretor estreante, montagem e som no festival de Havana e o de melhor filme no festival de Brasília de 1996. Tizuka Yamasaki é « o melhor diretor do Brasil » nos anos 80 ; os anos foram tão inglórios para o cinema nacional que depois de ter feito Caminhos da Liberdade(1980), ela terminou dirigindo trapalhões. Suzana Amaral também conseguiu trabalhar nesta década ingrata, é dela « A hora da estrela » que rendeu a Marcélia Cartaxo o prêmio de melhor atriz em Berlim em 1985.



Sally Potter, Marguerite Duras, Chantal Akerman, Nelly Kaplan, Agnès Varda, Maria de Medeiros, Josiane Balasko, Bia Lessa, Sandra Werneck….São nomes tão importantes quanto ou mais ou menos importantes que os nomes citados. O que é certo é que essa história começa com Alice Guy-Blaché que depois de sua grande contribuição e de uma vida dedicada ao cinema faltou pouco ser definitivamente riscada da história da sétima arte. Magoada com esse injusto tratamento ela escreveu Autobiographie d’une pionnière du cinéma, Alice Guy (1873-1968). Muitos dicionários de cinema sequer citavam o seu nome ou o nome de muitas outras cineastas de valor. O presente e o movimento feminista vêm tentando reparar esses erros.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui