Uma casa de belo jardim, gramas aparadas, calçadas limpas. Nos fundos haviam uma pequena horta e um pomar com arvores frutíferas. As frutas eram a tentação de um grupo de meninos de rua.
A dona da casa se chamava Norma, mulher caprichosa e trabalhadora. Não podia se descuidar de sua propriedade. Sabia que os meninos estavam à espreita para escalarem o muro da sua casa.
Um pé de caquizeiro e seus lindos frutos atiçavam o apetite da garotada. Ao lado da casa, um terreno baldio, facilitava a entrada das crianças. A garotada sondava os movimentos e perceberam que a Dona Norma não se encontrava no local, então resolveram escalar o muro e subir no caquizeiro com sacolas nas mãos. Começaram a colher os frutos, na maior alegria e algazarra. Tudo era motivo de festa.
Os meninos maiores jogavam os caquis para os menores que aguardavam ao lado de fora. Divertiam-se sem prestar atenção no perigo. Os caquis chocolate tiravam a atenção que dispunham para vigiar a aproximação dos proprietários.
Devido ao barulho, os garotos não perceberam que Dona Norma havia notado que a sua propriedade estava sendo invadida e furtada. Com muita calma, começou a planejar como poderia assustar as crianças. Então resolveu pegar o revólver de pequeno calibre, cano longo e sete tiros. Carregou-o com balas de festim. Ela tinha esse tipo de munição com o propósito apenas do barulho. Ela saiu de fininho da casa, com a arma em punho e pensou:
_ Vou dar um susto nestes meninos. Quero só ver o que eles vão fazer quando perceberem minha presença.
Dona Norma abriu o portão e disse em bom tom:
_ Ladrões miseráveis!! Estão pensando que isto aqui não tem dono? Agora vocês vão ver uma coisa...
Ela apontou o revolver na direção dos meninos e começou a atirar. No desespero da fuga, saltaram da árvore como fosse um bando de quatis. Despencaram dos galhos, e os garotos largaram as sacolas cheias de frutas. Eles saltaram da árvore com uma altura acima de três metros e caíram do outro lado do muro como fossem gatos. O pânico foi geral. Não sabiam para que lado correr, com medo de serem atingidos pelas balas.
Passou uma semana e o grupinho estava reunido novamente. Os garotos pararam na frente da casa e continuavam a admirar o caquizeiro. Na coincidência, Dona Norma estava atrás da janela escutando os comentários da garotada.
_ Graças a Deus aquela mulher é ruim de pontaria. Ela descarregou o revólver em nossa direção e não acertou ninguém!
Outro garoto respondeu:
_ É verdade. Então vamos embora antes que ela nos veja.
Dona Norma sorriu, somente ela sabia que sua intenção nada mais era do que afugentá-los, não havia necessidade de machucar ninguém, porque sabia a responsabilidade dos seus atos. Cada vez que a dona da casa ia contar essa história sempre frisava que o seu objetivo principal era ganhar o respeito dos meninos com os tiros de festim e ter a certeza que ninguém entraria em sua propriedade e roubasse seus frutos.