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Cronicas-->Confissão moderna -- 14/11/2000 - 16:02 (MICS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era um cara moderno, desses que usam calça jeans, camisa e tênis brancos. Trazia no rosto sempre bem escanhoado um sorriso jovial, ensaiado diariamente em frente ao espelho do banheiro. Do ritual diário faziam parte os gargarejos e as vocalizações com pedras roliças dentro da boca, como Demósthenes há muito ensinara. Mantinha-se em forma fazendo alongamentos e ginástica com um personal trainer, afinal uma boa apresentação pessoal é fundamental para a comunicação.
Lia muito. Lia de tudo: de marketing a psicologia moderna. Recebia dois jornais, um pela internet. Ah! essa internet, como dava trabalho. Chegara a conclusão, após muitas horas de reflexão, de que a melhor forma de entrosamento com seu público era obter as mesmas vivências, então comprou um computador com acesso a internet, manuais e livros de informática para saber utilizar os novos recursos da melhor maneira possível e se manter livre de tentações.
Bolava planos estratégicos para aumentar a audiência aos domingos. Sabia que havia aqueles que não compareciam por absoluta falta de tempo, mas a maioria tinha outros motivos. Encomendava músicas a uma banda jovem, solicitando que experimentassem as melodias tipo "negro spirituals" e "mpb", lembrando que a população brasileira se identificava com esses estilos. Pensara uma vez em fazer samba, mas esse ritmo tem um quê de sensualidade que não combinava com o ambiente sério e reflexivo do recinto.
Aprendeu a fazer tabelas e criou um banco de dados com todas as informações sobre sua comunidade. Registrava as confissões num bloquinho de papel auto-colante, sem nomes, é claro, para depois as classificar por tipos. Chegou até a montar gráficos e estabelecer estatísticas de cada modalidade.
Ah! essa internet aumentara barbaramente o pecado da luxúria. A traição chegava a níveis assustadores e levantava uma questão complicada: traição virtual era classificável como pecado ou não? Pensou em se reunir aos superiores para discutir essa questão de difícil solução. A inveja então, parecia que encontrara na rede o meio ambiente propício para se desenvolver com maestria. E o que dizer do ciúme? O monstro de olhos verdes que antes se limitava a aparecer quando ocorriam olhares enviesados e atitudes comprometedoras, agora a cada frase dava o ar da graça. Bom, ciúme não consta da lista dos pecados, mas deveria. Os sete pecados capitais eram uma constante nas confissões dos fiéis. Gula, soberba, luxúria, avareza, cobiça, ira e inveja, juntamente com alguns outros, eram citados e anotados. Estabelecer a penitência ficava cada vez pior. Se o fulano confessava: - "Tive ciúme da Soninh@ na sala A porque falou com o Herói; senti inveja do Gato sensual e fiquei maluco pela Senhora casada." seriam 2 Pai Nosso e 1 Ave Maria. Mas e se fossem duas invejas, um ciúme e nenhuma cobiça? Fora isso as confissões andavam em baixa.
Era um padre moderno, preocupado com seus fiéis e fazia de tudo para cuidar e orientar bem a parte que lhe cabia no rebanho da humanidade.
Um dia, terminando de fazer o levantamento e compilação dos dados, teve um estalo. Era isso! Tinha certeza de que encontrara o problema e a solução simultaneamente.
A vida agora necessitava de kits e formulários. Havia formulário para tudo: para fazer compras pela internet, para procurar emprego preenchiam-se cadastros on-line, nas lojas era um tal de kit-limpeza, kit-som, kit-tudo acompanhados de cartas-resposta (um formulário disfarçado). Com o aumento de informações as pessoas já não podiam lembrar-se de tudo e por isso surgiam tantos recursos que facilitavam a vida e aumentavam as vendas; mas isso não era o óbvio, estava nas entrelinhas.
Contratou então uma equipe para fazer uma página na internet bem elaborada, com questões em formato múltipla escolha, onde seus fiéis poderiam, gratuitamente, fazer download dos arquivos ou preencher on-line e enviar por e-mail os formulários completos do kit-pecado.
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