Como parte das turbulências próprias de final de século, um questionamento à parte desafia a inteligência dos cientistas sociais e intriga os formadores de opinião e supostos “pastores” do nosso rebanho: o comportamento da geração 90.
A sociedade costuma fazer vistas grossas para o comportamento irreverente de seus jovens. Afinal, é inerente à puberdade alguns exageros. ‘As vezes até salutar. Porquanto, o espírito revolucionário da juventude tem sido solicitado, em várias oportunidades, para os mais diversos fins: derrubar tabus e governos autoritários, servir seu país destruindo o alheio (serviço militar), e até consolidar “ideais democráticos”.
As violências indesejáveis como roubos, assassinatos e crimes hediondos estariam reservados às classes menos favorecidas (leia-se miseráveis), sem educação, desasistidas pelo governo e vítimas da indiferença social.
Esta visão começa a ruir, porém, quando se vê os meios de comunicação divulgarem, amiúde, crimes de perversidade, dignos de folhetins de terror, praticados por jovens das classes média e alta.
O fenômeno tem alcance mundial. Não respeita países desenvolvidos nem socieddes tradicionais. E agora?
Explicações surgem dos mais diversos segmentos. Os educadores põem a culpa nos pais e no “sistema”. Os pais, observam perplexos ou jogam a culpa na escola. A Igreja, põe a culpa nos dois: escola e pais. O psicólogo diz que esta geração se criou sem a atenção dos pais. O homem comum acha que faltou “um puxão de orelha” ou “umas palmadinhas” no menino. Todos são unânimes em repreender e condenar a nova geração “perdida e desorientada”.
Não sou mais jovem. Incluo-me nas últimas gerações que quiseram mudar o mundo e falharam. E se acomodaram, e ajudaram a consolidar o argumento do poeta Belchior de que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
Contrariando a maioria, no entanto, acredito na nova geração. Vejo nesses distúrbios uma vontade inflexível de romper com a hipocrisia, de não sucumbir aos reclames da mediocridade material que permeia nosso tempo.
O adolescente de hoje quer casar, quer construir um estado de fidelidade autêntica e deseja estabelecer um pacto sincero com o semelhante.
Os distúrbios, divulgados a granel pela mídia, são reflexos de uma sociedade hipócrita que, como bem observa o poeta Zé Ramalho, “já sente a ferrugem lhe comer".