Vivia tranquilamente num lugar quentinho, não havia luz, nem ruídos. Havia o movimento gostoso, malemolengo e paz muita paz.
De repente sem mais nem porque fui expelido. Excluído num jato de sangue. Minha mãe sofreu hemorragia e houve infecção. Levaram-na para os médicos. Eles a internaram e quiseram saber quem havia feito aquele serviço de porco.
Minha mãe não falou. Tinha medo de represálias. Mas meu avô, pai de mamãe, temendo pela sorte dela, disse que fora um farmacêutico balconista.
Bem, mamãe foi salva. Mas o tal homicida foi preso. Levaram-no para a cadeia, que ficava pertinho de sua casa.
Sua esposa tinha um filhinho de colo. Ela estatelou-se aterrorizada ante o futuro incerto.
As sandices do preso começaram então a ocorrer. Considerava injusta sua prisão. Aborto? Que aborto? Isso todo mundo faz. E o que é que tem?
Revoltado com tudo e com todos achou que deveria vingar-se em alguém por aquela sua sorte ingrata.
De lá do fundão onde se encontrava, emitia ordens pelo telefone celular. Seus comandados se falhassem em suas missões seriam sumariamente executados pelos componentes da falange roxa.
Os atabaques vibravam, o incenso dispersava-se pela vizinhança e os cantos atordoavam aqueles médiuns que entravam no transe.
O caboclo Barreiro (não o moço, o velho), incorporou-se naquele cavalo hirto e foi confabulando:
- Vocês devem e pagarão. Tintim por tintim.
Aqui no bairro se faz e aquí mesmo no bairro se pagará.
Foi então que eu percebí que tudo ficou turvo. Não tive mais consciência de nada, até que um dia acordei e pude revelar-lhes essa historieta.