A BELA ADORMECIDA – ENSAIO DIGITAL
Marco Aurélio Bocaccio Piscitelli
marcopiscitelli@bol.com.br
Era uma vez um rei e uma rainha que desejavam uma filha. Um dia, nasceu a princesa tão esperada.
No aniversário de um ano, o rei ofereceu uma festa. Três fadas apareceram para presentear a princesa. A primeira lhe desejou a beleza; a segunda, talentos literários e artísticos. Quando a terceira ia falar, uma feiticeira tomou-lhe a palavra para rogar uma praga:
- Quando tu, menina, completares 20 anos, hás de morrer de desilusão e ficarás com um lado da tua alma tão ferida, que jamais te reconhecerás.
Dizendo isso, desapareceu.
Diante do espanto de todos, a terceira fada se manifestou:
- A princesa não vai padecer dessas aflições e tormentos, não. Cairá em sono profundo, mas despertará, de forma inusitada, para um encontro com o amor.
- O rei ordenou que todas as providências fossem tomadas no reino para livrar a princesa da maldição da bruxa. Tudo que pudesse magoá-la seria severamente controlado e evitado.
A jovem, que já tinha completado 20 anos, possuía todas as virtudes concedidas pelas fadas e era amada por todos. Um dia, passeando pelos arredores do castelo, encontrou um rapaz, com quem se pôs a conversar e pelo qual logo se deixou fascinar. Desafortunadamente, os vaticínios da bruxa acabaram por se confirmar. Os dois iniciaram um relacionamento complicado, cheio de desentendimentos, a princesa se autoflagelando inconscientemente. Entristeceu-se, mudou os seus hábitos de vida e foi definhando progressivamente, no afã de salvar o que imaginava constituir o caminho da sua felicidade. Tudo em vão. O sofrimento foi tanto, que a princesa já não mais se alimentava, chorava o tempo todo e vinha sendo alvo de uma série de proibições, impostas por seu amado, que ceifavam o seu viço e o seu crescimento.
Depois de algum tempo, ela caiu em sono profundo, hibernando para o mundo.
Ao saberem dos acontecimentos, as fadas correram para o castelo e levaram a princesa para os seus aposentos. Deixaram-na acomodada em sua cama, com um microcomputador permanentemente ligado, a fim de que se distraísse logo que retomasse o estado de alerta. A bruxa, sabendo que as fadas tudo fariam para evitar a sua sentença, num passe de mágica, produziu a interrupção dos cabos telefônicos e elétricos do castelo. Desse modo, a princesa, mesmo desperta, ficaria sem comunicação com o mundo, isolada e mais deprimida ainda. As fadas perceberam as manobras da bruxa e reconectaram os cabos. Passados alguns dias, a princesa foi recuperando-se de seu estado letárgico e começou a acessar a internet por horas a fio. Como apreciasse demais sites literários, foi apontando para vários, até afeiçoar-se ao estilo de um desconhecido. Mandou-lhe comentários e elogios acerca do que lera. A partir daí, um intenso intercâmbio de mensagens, telefonemas e trocas de fotos e presentes se estabeleceu entre os dois.
A princesa inaugurava um novo e verdadeiro ciclo de felicidade em sua vida.
Dedicado a A.R.S.A.B., que comigo compôs e entoou ária de encontro com o amor.
Abril/2004
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