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Artigos-->Tô ficando Velho (por Kledir Ramil) -- 07/12/2002 - 11:45 (****Jair Toledo X. Jr****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Este texto foi escrito pelo Kledir, da dupla gaucha Kleiton & Kledir.

Como facilmente se verá, a idade chega para todos e até mesmo os artistas

sofrem com o choque de gerações...

Kledir Ramil



Tô ficando velho! Um dia desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar

minha filha adolescente na saída do show do Charlie Brown Jr.

Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali, meio dormindo, meio de pijama,

tentei entrar na conversa.

"E aí, o show foi legal?". A resposta veio de uma mais exaltada do banco de

trás: "Cara! tipo assim, foda!

". E outra emendou: "Tipo foda mesmo!" Fiquei tipo assim calado o resto do

percurso, cumprindo minha função de motorista.

Tô precisando conversar um pouco mais com minha filha, senão daqui a pouco

vamos precisar de tradução simultânea.

Pra piorar ainda mais,inventaram o ICQ, essa praga da internet onde elas

ficam horas e horas escrevendo abobrinhas umas pras outras, em código

secreto.

Tipo assim "kct! vc tmb nunk tah trank, kra. Eh d+, sl. T+ Bjoks. Jubys".

Em português: "Cacete! Você também nunca está tranqüila, cara. É demais, sei

lá. Até mais, beijocas. Jubys".

Jubys, que deve ser pronunciado "diúbis", é isso mesmo que você está

imaginando, a assinatura.

Só que o nome de batismo é Júlia, um nome bonito, cujo significado é "cheia

de juventude", que eu e minha mulher escolhemos, sentados na varanda,

olhando a lua... Pois Jubys é hoje essa personagem de cabelo cor de abóbora,

cheia de furos na orelha que quer encher o corpo de piercings e tatuagens.

Tô ficando velho!

Outro dia tentei explicar pro mesmo bando de adolescentes o que era uma

máquina de escrever.

Nunca viram uma. A melhor definição que consegui foi "é tipo assim um

computador que vai imprimindo enquanto você digita".

Acho que não entenderam nada.

Eu sou do tempo do mimeógrafo. Pra quem não sabe, é uma máquina que você

coloca álcool e dá manivela pra imprimir o que está na folha matriz.

Por sua vez, essa matriz precisa ser datilografada (ver "datilografia" no

dicionário) na tal máquina de escrever, sem a fita (o que faz com que você

só descubra os erros depois do trabalho feito), com o papel carbono

invertido... Enfim, procure na internet que deve haver algum site sobre

mimeógrafo, papel carbono, essas coisas. Se eu ficar explicando cada

vocábulo descontinuado, não vou conseguir acompanhar meu próprio raciocínio.

Voltando às garotas, a cultura cinematográfica delas varia entre a "obra" de

Brad Pitt e a de Leonardo de Caprio. Há anos tento convencê-las a ver

"Cantando na Chuva", mas sempre fica para depois.

Um dia, cheguei entusiasmado em casa com a fita de um filme francês que

marcou minha infância: "A guerra dos botões". Juntei toda a família para a

exibição solene e a coisa não durou nem 5 minutos. O guri foi jogar bola,

Jubys inventou "um trabalho de história sobre acivilização greco-romana que

tem que entregar tipo assim até amanhã senão perde ponto" e até minha

mulher, de quem eu esperava um mínimo de solidariedade, se lembrou que tinha

um compromisso com hora marcada e se mandou.

Fiquei ali, assistindo sozinho e lembrando do tempo em que eu trocava gibi

na porta do Capitólio.

Uma amiga me contou que o filho de 10 anos ficou espantado quando viu um

telefone de discar.

Sabe telefone de discar? É tipo assim um aparelho sem teclas, geralmente

preto, com um disco no meio, todo furado, onde cada furo corresponde a um

algarismo. Você enfia o dedo indicador no buraco correspondente ao número

que precisa registrar, gira o negócio até uma meia lua de metal e solta a

roleta, que lá por dentro está presa à uma mola e faz ela voltar à sua

posição inicial. Esse aparelho serve para conversar com outra pessoa como

qualquer telefone comum, desde que esteja, é claro, conectado na parede. Eu

sou do tempo em que vidro de carro fechava com maçaneta. E o Fusca tinha

estribo e quebra vento. Não espalha, mas eu andei de Simca Chambord, de DKW,

Gordini, Aero Willis e até de Romiseta. Não dá pra explicar aqui o que era

uma Romiseta, só vou dizer que era tipo assim um veículo automotivo, com 3

rodas, que a gente entrava pela frente e a direção era grudada na porta.

Procure na internet, deve haver um site. Tá bom, tá bom, confesso mais. Usei

Camisa Volta ao Mundo, casaquinho de Banlon, assisti à Jovem Guarda, o

Direito de Nascer...

Mas é mentira essa história de que meu primeiro disco gravado foi em 78

rotações. Há pouco tempo, João, meu filho de 8 anos, pegou um LP e ficou

fascinado. Botei pra tocar e mostrei a agulha rodando dentro do sulco do

vinil. Expliquei que aquele atrito gerava o som que estávamos escutando...

Mas aí ele já estava jogando o Pokemon Stadium no Game Boy.

Não é que ele seja desinteressado, eu é que fiquei patinando nos detalhes.

Ele até que é bastante curioso e adora ouvir as "histórias do tempo em que

eu era criança".

Quando contei que a TV, naquela época, era toda em preto e branco ele

"viajou" na idéia de que o mundo todo era em preto e branco e só de uns

tempos para cá é que as coisas começaram a ganhar cores. Acho que de certa

forma ele tem razão. Tipo assim...

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