A dona Prudência era uma velhota cauta, sempre com Deus, simpática e ternurenta com toda a gente, 78 anos cobertos de lenço e xaile negros, viúva há três lustros, sobrevivendo com uma daquelas reformas de fazer milagres. E a dona Prudência fazia-os dentro da sua velha casa junto à estrada por onde passam milhares de carros que não a deixavam dormir tranquilamente.

Naquela noite, estranhamente no Verão, uma das suas janelinhas tremia mais do que o habitual. Passou decerto um camião e o sopro provocado fez tremer a janela.

Os energúmenos entraram para se apoderarem dos 166 euros da reforma que a dona Prudência tinha recebido, na última tarde, como habitualmente na lojinha que tem posto de correio. A velhota terá reconhecido os demenciados miseráveis. Mataram-na e levaram-lhe o dinheiro...

E se fosse eu a dona Prudência?... De certeza que seria um prudente bem mais ousado e eficazmente louco.

- Oh... Meus caros, querem o dinheiro?... Eu vou buscá-lo ali ao cantinho onde costumo escondê-lo.

E davas-lhes o dinheiro...

- Agora vou beber esta pinguinha de cerveja para pelo menos aquecer a alma...

E zás, borrifava-os com a gasolina e de imediato faria o isqueiro chispar. Consoante fossem ardendo, atirava-lhes mais ainda umas pinguinhas para cima...

Todavia, a dona Prudência era boazinha e franca de mais. Confiava em Deus e por isso está agora no céu. Provavelmente, um dia destes adiante, vai morrer mais uma velhinha, quiçá de nome Esperança, e Deus vai deixando que coisas tão estúpidas como esta aconteçam sucessivamente.

Aiiiiii.... Velhotas do caramba, tenham em casa uma garrafa de cerveja cheia de gasolina para dar de beber ao diabo. O gajo gosta de fogo que se farta. Treinem no quintal a eventualidade para aprenderem a controlar o fogacho... É mais eficaz do que qualquer outra arma. Antes que seja tarde de mais.

Há por aí alguma velhota que se chame dona Precavida?!...