Nasci em Moscou. Duas simpáticas amas gordinhas cuidavam de mim, falando só francês ou espanhol. Os comunistas e as jóias da família permitiram que eu viesse estudar em Cambridge. Publiquei meu primeiro livro aos 59 anos, depois que uma Lolita surgiu gostosa e desesperante em minha vida.
Ou talvez eu tenha nascido em Buenos Aires, e descobri o Alef enquanto mamãe ouvia El dia que me quieras, cantada por um uruguaio louco conhecido por Gardel. Papai era um violinista até que bom, minha avó lia a Bíblia do James para mim todos os dias, e nossa biblioteca tinha três mil volumes, fiquei cego, virei gato.
Ou em verdade nasci no Sul do Brasil, lá onde o rio fura pedras, numa casinha velha de madeira ao lado da roseira branca, no finzinho de uma rua principal; minha mãe era Dalva de Aguiar, e meu pai, um comerciante de pedras preciosas que amava Robert Louis Stevenson; já li pouco mais de mil e quinhentos livros e publiquei meu primeiro romance, "Beijos no céu da boca", aos 23 anos.
- Não sei qual dessas três histórias é a mais fantástica.
Não sei em qual delas eu mais creio.
MUDE
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