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Contos-->TOCADOR DE RECO-RECO -- 21/10/2008 - 14:56 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Pedro Macambira deixou uma herança para os colegas de pensão: formara um conjunto musical que poderia ter sido o grito de independência financeira de João Eudes, mas o nordestino do Rodeador não tinha dom para a música e não passou de um tocador de reco-reco.
A banda não fez sucesso. Suas poucas apresentações em bares não foram suficientes para recuperar o capital investido. Contudo, para não desfazerem o laço de amizade que se formara durante os ensaios, os integrantes resolveram direcionar seus talentos ao futebol. Compraram chuteiras, bola, uniformes e organizaram dois times: Agogô e Reco-reco. Os jogos aconteciam somente nos finais de semana, e cada partida com vitória ou derrota era comemorada num boteco próximo. Ali, disputavam cerveja no palito, a famosa porrinha.
O time de futebol logo foi desfeito, mas o da porrinha continuou por muito tempo. Um dia, apareceu em cena nada menos que Pedro Macambira. Fez uma festa, abraçou os conhecidos e dirigiu-se a João Eudes.
- Eudes, estou desempregado. Você me ajudou muito e nunca pude lhe pagar, mas hoje estou precisando de um grande favor. Arranjei uma namorada. Preciso sair com ela e estou sem dinheiro.”
– Eu não tenho dinheiro. – antecipou-se Zé Cláudio.
- Não lhe pedi dinheiro emprestado. Pedi a João Eu.
- Bom, eu tenho 50 cruzeiros que ganhei de um assinante, mas vou jantar e assistir a um filme no cine Panorama. Não vai sobrar nada depois disso.
- Eudes, ou você me empresta os 50, ou então adeus, até o Dia do Juízo. Nunca mais fale comigo.
- Problema seu. Não estou perdendo nada. – respondi.
Nesse momento, ele deu-me um empurrão; meu amigo segurou-me, evitando que tomasse uma queda. Avançamos em direção ao grandalhão e aplicamos uma grande surra.
-Vou pegar vocês depois, um de cada vez! - saiu ele, resmungando.
- Não me importo de encarar aquele cavalo, mas você é muito novo, ainda está em fase de crescimento... – Zé mostrava-se preocupado.
- Não se preocupe comigo; sei me defender!
Meus amigos de hospedaria estavam apreensivos, porque o grandalhão fora me procurar três vezes; dizia que iria me dar uma lição. Estava portando um cano galvanizado, tão ou mais poderoso que um porrete de pau-d’arco.
Depois que me tornei maior de idade, passei a ganhar um salário mínimo e a ter uma economia. Meu sonho era montar meu próprio negócio. Então, os amigos aconselharam-me a mudar para a Vila Carrão. Mantive-me irredutível: “Daqui não saio.” Peguei uma boa quantia de dinheiro e comprei um punhal numa loja de caça e pesca. Continuei trabalhando na “Folha de São Paulo” e morando na mesma pensão.
Mas meu antigo protegido deu azar. Mal encostei a bicicleta na calçada, ele agarrou o guidão e disse que iria dar uma volta.
- Nem que fosse minha... Nesta bicicleta você não anda!
O povo olhou assustado; eu, porém, não desfiz a pose:
- Que você está querendo?
- Aqui nada, mas me acompanhe que lhe mostro o que quero.
Não relutei; acompanhei-o. Dobramos a Brigadeiro Machado e, mais adiante, ele parou mais ou menos no mesmo lugar em que tínhamos tido a primeira luta corporal.
- Está com medo? Não vou te matar. Só vou te dar uma surra que, daqui a vinte anos, ainda vai se lembrar.
Eu respondi que em filho de homem não se bate. Então, ele arrancou meio metro de cano escondido nas calças e caminhou em minha direção. Cada investida que dava, eu tirava um pulo. Fui pulando feito papagaio na areia quente até que uma das vezes ele acertou fortemente meu braço direito. Ele não sabia que sou canhoto. Assim, pude revidar com uma cutilada nas nádegas, e o sangue correu de bica. O grandalhão desmaiou quando viu aquilo.
A polícia esteve na pensão à minha procura e tomou depoimento de muitos que estavam por ali. Dona Maria pediu a palavra e fez a ficha de Macambira; contou à polícia como nos conhecemos e porque o grandalhão andava à minha procura por não ter emprestado dinheiro para sair com a namorada. Não voltei mais à pensão. Pedi a meu amigo Benedito para acertar a conta com Dona Maria. A polícia também não foi mais lá.

LIMA, Adalberto; SILVA, Francisco de Assis. Fagulhas e Lampejos.


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