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Artigos-->ARTIGO SOBRE O LIXO -- 08/12/2002 - 10:16 (denison_obras selecionadas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos anos 80, com apenas US$100 no bolso, o artista plástico Washington Santana, nascido em Salvador, na Bahia, foi para Nova York estudar a sucata de lá. "Passei um ano e meio pesquisando o lixo dos Estados Unidos. É bem mais rico do que o daqui e o desperdício, maior.", revela. Antes de seguir para os Estados Unidos, catou muito lixo pelo Brasil. A proximidade com os lixões, o convívio diário com catadores de lixo, com os excluídos da sociedade de consumo, inoculou em Washington Santana um forte sentimento de solidariedade e o desejo de justiça social. "Os badameiros vivem nos aterros de lixo, passam fome e convivem com um cheiro infernal. Já vi muita gente comendo lixo, dividindo comida com os cachorros nas ruas. As pessoas brigavam por leite e iogurte podres. Tudo isso mexeu muito comigo e aumentou o meu envolvimento nas questões sociais", engaja-se o artista plástico. O lixo é também um forte indicador das desigualdades sociais. Basta lembrar que, segundo a ONU, uma pessoa comum da América do Norte consome quase 20 vezes mais do que uma da Índia ou China e 60 ou 70 vezes mais do que outra de Bangladesh.



"O lixo é meu mármore", define Washington, estabelecendo uma irônica diferença entre o material nobre para muitos escultores e a matéria-prima, rejeitada pela sociedade de consumo, que ele emprega em seus trabalhos. "O lixo é o oxigênio da arte de Washington Santana", ressaltou, certa vez, o ex-presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), da prefeitura de Salvador, Francisco Senna, amigo e incentivador do artista plástico. Germinada nos depósitos de lixo de Salvador, inclusive no aterro sanitário de Canabrava, onde o artista plástico disputava os detritos com os badameiros, a arte do monturo de Washington Santana extrapolou as fronteiras da Bahia e do Brasil. Foram exposições em São Paulo, Vitória do Espírito Santo, Nova York, Londres, Amsterdã, Montreal e Toronto (no Canadá) e também na Alemanha, onde o artista esteve em três ocasiões, uma delas a convite da Universidade de Kassel.



Baiano da gema, trabalhando no lixo desde o começo dos anos 70, Washington Santana trafega também na contramão da "estética dos orixás", a profusão de representações artísticas das imagens do candomblé, tão a gosto da maior parte dos artistas da boa terra. "Prefiro trabalhar com aquilo que a sociedade joga fora a pintar orixás e cenas de capoeira", confessou, certa vez. Na obra desse artista plástico, iconoclasta e antropofágico, o axé é a energia vital do lixo. "Washington Santana é um artista na contramão. Seu trabalho não contemporiza, não faz concessões, não atenua, não alivia. Onde deveria haver perfume, há o cheiro do lixo; onde se espera material nobre, há detritos urbanos; onde se espera suavidade, há força e violência", considera o editor Alexandre Dórea Ribeiro, que publicou A arte do lixo, para em seguida, atenuar: "Porém, essa atitude de oposição, de enfrentamento, tem uma delicadeza subliminar que, para um olhar atento, se mostra no conjunto de sua obra". O próprio Washington reconhece: "Minha arte é agressiva, como agressivo é o deus-mercado".





Washington Santana começou a fazer esculturas, em 1972, na oficina de automóveis do pai, na Vasco da Gama. "Meu pai me levava para lá porque eu era o cão e aquela era uma forma de me controlar. Eu ficava mexendo e colocando peças de carro. Então comecei a fazer brinquedos com as peças. Mas as sucatas da oficina me enchiam o saco. Até que me deparei com um lixo legal, na Ilha de Itaparica...", informa.

O primeiro projeto de artes plásticas foi feito com sucata de ferro e o auxílio de internos do Hospital Psiquiátrico Santa Mônica. Muita gente achou aquilo "coisa de maluco", mas o escultor sabia muito bem o queria: despertar o sentimento das pessoas e democratizar o mais que pudesse a arte, com a sua estética do monturo. "Quando penso no lixo, penso num problema político de nossas cidades, do nosso povo. Por isso, nas esculturas, mostro o homem ao avesso, retorno para ele os seus dejetos, de uma forma sociológica e antropológica, utilizando, inclusive, elementos que, dentro de 20 anos, estarão fora de uso, como alumínio e plásticos. É o registro de uma época", depõe o artista.



Hoje esse cara é meu amigo íntimo, tomo chá às vezes com ele em sua casa, no Pelourinho, aqui perto de meu apartamento. Conversamos sobre o lixo humano, coisa e tal...



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