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Contos-->VILA CARRÃO -- 21/10/2008 - 14:59 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VILA CARRÃO



Não era seguro continuar na Pensão do Brás; então, a mudança para a Vila Carrão foi providencial, até porque lá morava a prima Maria Remédios, criada brincando comigo no terreiro da casa de nosso avô Mariano. Se antes ela era como irmã, depois se tornou uma segunda mãe. Seu esposo, Enéas, um cidadão de rara beleza espiritual, não me tinha apenas como primo, mas como irmão e fazia questão de dizer, “irmão gêmeo”. Os pais de Enéas tinham14 filhos, dez homens e quatro mulheres. Os homens estavam quase todos morando em São Paulo. Senti-me em casa com eles.
Na parte da frente da residência, morava Enéas com a esposa; na dependência dos fundos, chamada cômodo de cozinha, ficavam seus irmãos: Josué, Raimundo, João, José, Geraldo e, finalmente, João Eu. Além desses, uniram-se à nossa turma: Firmino Hipólito, Osvaldo e Dôdô.
Apesar de termos tido uma criação rigorosa, os nove rapazes saíam juntos para noitadas. Naturalmente éramos pacatos, jamais provocamos alguém, nem éramos provocados. Quem ousaria enfrentar quase um time de futebol?!
Os convites para festinhas chegavam com muita freqüência à nossa república da Vila Carrão. Certa vez, haveria uma tertúlia, numa rua próxima. Entendemos que deveríamos ir de terno e gravata. Logo me veio à lembrança que minha única camisa de colarinho armado estava suja. Vendo minha aflição, meu “irmão gêmeo” disse:
- Eu tenho uma camisa apropriada para usar com terno, mas tem um probleminha: tá com um buraco nas costas.
- Tem problema não. – adiantou-se Raimundo – O paletó cobre o buraco.
Então, fomos à festa. Bebemos, dançamos e divertimo-nos muito. A anfitriã, querendo agradar os convivas, falou em alta voz:
- Olha, rapaziada... Tá fazendo muito calor; pode tirar o paletó.
“Meu Deus, e agora? Não posso tirar o terno...”, pensava eu, apavorado. Os outros convidados já se mostravam à vontade, sem casaco.
- Eudes, tire seu paletó! Só você está a rigor.– disse a anfitriã.
- Venha aqui; deixe-me contar um segredo: minha camisa está rasgada nas costas.
- Vou pegar uma camisa de meu irmão. – disse ela, com um sorriso meio maroto.
Problema resolvido, ficamos na festa até as três da manhã. Na volta, já um tanto alcoolizados, tomamos a Avenida Guilherme George, bastante inclinada. Alguém viu uma pilha de canos deixados ali por uma adutora, arrumadinhos e travados. Cada um deles deveria pesar mais de duzentos quilos e tinha diâmetro de um metro, aproximadamente.
- Vamos soltar aqueles canos rua abaixo?
- Vamos!
Soltamos. Por pouco não houve um acidente fatal com um amigo que, por um triz, salvou-se ao pular o muro de uma residência, mas o muro foi abaixo. Uma senhora reconheceu um dos companheiros, pois não morávamos muito longe dali. Deu parte à polícia. No dia seguinte, fomos intimados a depor; pagamos fiança e advogado. Finalmente livres, cada um gastou um salário mínimo e meio para não ficar trancafiado no xilindró.

LIMA, Adalberto; SILVA, Francisco de Assis. Fagulhas e Lampejos.
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