Já caíra demais, impossível cair tanto assim! Acabou chegando ao inferno. Mas... que inferno? O cristão, o de Dante? Ou o ateu, que, na verdade, não é inferno pois não é habitado por demônios, mas por deuses pagãos... Sentia uma lancinante dor de desespero dentro do seu peito. Seria a “chaga aberta” de que falam os xamãs, tanto os indígenas quanto os nórdicos e outros tantos? Então, talvez estivesse no Hades ou... no Valala !
Viu passar, correndo, uma mulher semi-despida, bela, clara, com um traje leve enrolado em seu dorso. Ficou estarrecido e, ao mesmo tempo, atraído! Pensou em seguí-la, mas sentiu-se sem forças.
Olhou em torno e deu alguns passos trôpegos... A paisagem era muito estranha, envolvida por uma penumbra, não distinguia bem os contornos circundantes, em que o terreno parecia meio acidentado, embora aplanado, com poucas folhagens, esparsas, uma aqui, outra ali.
E agora, o que estava vindo em sua direção? Que vulto mais insólito... Parecia um ser... humano não era, embora estivesse ereto! Barbudo... tinha chifres! E da cintura para baixo... não era possível, todo peludo! As pernas não eram humanas! Eram pernas de um animal! Com muito pêlo e os pés... não eram pés, eram patas!
Onde estava, afinal? Seria o deus Pan, um centauro, um fauno? O ser se aproximava... aumentando cada vez mais a sua estatura e envergadura ... ele não sabia o que fazer... correr? Como, se estava fraco... e correr para onde? Já bem próximo, imenso, o gigante o olhou atentamente por algum tempo, com um olhar incisivo, aquilino, que sentiu lhe penetrando a própria alma!
-Olá! –ouviu, estupefato, uma voz tonitruante- bem-vindo ao nosso mundo!
Ficou mais surpreso ainda; então, ele falava! Mas... como? Não entendia mais nada! Não conseguiu sequer balbuciar um simples... olá! Estava em pânico, em completo desespero! Só queria estar o mais longe possível daquele... inferno!
-Edmundo! Edmundo! Edmundo! – uma voz, de início quase inaudível, foi aumentando, aos poucos, o volume, até que ele levou um susto, ao ver o rosto, em primeiro plano, da sua mulher!
-Edmundo, acorda! Você estava gemendo feito um alucinado! Acabou me acordando!
Ele, com um enorme esforço, conseguiu sentar-se na beira da cama. Sentiu o pijama grudado no corpo, estava todo suado.
-Maldito pesadelo! –resmungou. E, levantando-se, lentamente, arrastou-se, na escuridão do quarto, até o banheiro.
|