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cronicas-->O 10 GRASSADO -- 22/08/2005 - 13:05 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O 10 GRASSADO


Fernando Zocca


"A ingenuidade daquela figura só não era maior do que sua egolatria. Ela tinha propensão a acreditar em tudo que lhe diziam, sem nem antes, ao menos, tentar ouvir a parte contrária. E se o acusador, mostrasse duas testemunhas falsas, aí então o convencimento era total."
Van Grogue vinha pensando, naquela manhã, sobre seu amigo Edbar B.I. Túrico, o notório pingueiro, freguês emérito e de caderneta, de todos os botecos, botequins e congêneres da comunidade.
Van dirigia seu Monza antigo, lata velha sem remendo, pela rua principal de Tupinambica das Linhas. O trànsito àquela hora do dia fluía bem sem maiores embaraços. No rádio ele ouvia uma canção antiga; era daquele tempo em que o Roberto Carlos ainda aprendia a tocar violão, e ouvia ao longe, o apito do trem.
Aqueles pensamentos foram suscitados no Van por Edbar Jadeu E. Q. Jaéra, primo do Túrico, quando numa mesa de bar, perceberam a falta dele, que sentava sempre no canto à direita.
A saudade do B.I. Túrico não doía em ninguém, mas notaram a ocorrência de ter sido ele acusado de uma coisa que não fizera. Van Grogue inteirou-se da onda que soprava contra o amigo: disseram que violentara uma jovem e que por isso estava condenado, pela opinião pública, a morrer pinguço, esquecido numa favela.
Van Grogue percebeu que o desdém usado pela comunidade, para chicotear o B.I. Túrico, era fundado numa realidade falsa, numa inverdade criada contra o pobre e combalido adversário. Ele não tinha nada a ver com aquelas histórias.
Grogue então entendeu muito bem o porquê da mensagem, dita por Edbar B.I. Túrico, numa tarde de tempos gastos no botequim, quando ele disse desolado e atordoado pela piribita: "Aquela bosta continua a mesma merda".
Os inimigos do Edbar arrolaram 10 transgressões, supostamente praticadas por ele, e grassaram pela cidade inteira, as calúnias. Ora o pobre, em não sabendo da existência daquelas inverdades, não póde defender-se a contento; foram então construídos mitos, sobre os tais fatos falsos, durante os anos que se passaram.
Os danos morais e materiais levaram por água abaixo todos os projetos do injustiçado B.I. Túrico.
Van Grogue recordou-se, ao parar no semáforo, duma cena muito comum. Eles, os inimigos do Túrico, faziam esse tipo de mise-en-scène para quebrantarem-lhe o ànimo: um dos amigos falsos do perseguido achegou-se a ele e perguntou se ele tinha daquelas carteiras de couro, que fazia, vendendo-as como artesanato. Edbar B.I. Túrico respondeu que sim. O interlocutor então afirmou que compraria 10 carteiras. O artesão entusiasmou-se, mas foi contido por outra pergunta: "Você ainda está morando naquela casa do seu irmão?" Ante a afirmativa, o comprador postergou a compra dando a desculpa de que viajaria para Belo Horizonte; levaria a encomenda assim que voltasse.
Era um tipo de ação usada reiteradas vezes, pelos membros da seita maligna do pavão-louco, especialmente pela divisão chefiada por Luisa Fernanda, subordinada imediata da vovó Bim Latem.
Mas, apesar de enxovalhado e muito mal querido pelos vizinhos, o Edbar B.I. Túrico tinha alguns pensamentos originais: por exemplo, numa noite de sábado, quando os três bebiam no boteco, lá pelas tantas, ele teria afirmado: "O Corinthians tem essa popularidade, por ter sido fundado por cidadãos ingleses. E como vocês sabem a Inglaterra foi a nação que iniciou o combate ao tráfico de escravos para o Brasil que terminou oficialmente em 1850. Vocês podem reparar, se não estiverem muito bêbados, que até o uniforme do timão, assemelha-se ao da seleção inglesa."
Van Grogue notou que o sinal abrira e acelerou sua caranguejola. O passar dos anos transformaram aquilo que fora um dia, um portentoso veículo, num calhambeque mal cuidado e perigoso. Mas ainda andava, apesar do trabalho intenso que dava, nas partidas, durante as manhãs frias.
Fazia parte das intenções do Van, trocar de carro um dia. Se achasse um Fiat (não precisava ser muito novo), já estaria muito bom. Se fosse cor vinho, então, estaria ótimo.
Na verdade, Van ansiara mesmo por um Logus que namorara há algum tempo. Mas por terem falado muito mal do carro, desistiu da pretensão. Ele acreditava que não teria nunca problemas para fazer o Monza velho pegar, se todas as manhãs, antes da partida, batesse 6 vezes com a chave no painel rachado.
Van reconheceu que o Edbar B.I. Túrico pensava assim do Corinthians, por ser Palmeirense. Só podia ser isso.
Quando encostou o carro ao meio-fio, defronte sua casa, Van Grogue notou os carvões da palha queimada, vindos dos canaviais. Um pensamento tomou conta da sua consciência: "O açúcar engorda e causa diabetes; a pinga enlouquece; a queimada produz doenças respiratórias e, se as áreas enormes ocupadas para a produção dessas coisas daninhas, fossem repartidas entre os que não tinham nada, a miséria humana seria minimizada."
Van desceu do seu mais querido e ao bater a porta, viu inerte e boquiaberto a maçaneta cair ao solo.

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