Mais uma manhã no Asilo Esperança. Lugar humilde, repleto de pessoas que mais parecem vegetar que viver, em cada rosto enrugado e cansado, uma historia de abandono e tristezas. Seu José é apenas mais um desses rostos. Corpo franzino, cabelos e barbas grisalhos, pele morena e enrugada. Com olhar melancolico de um velho homem que nao sabe mais a razao de viver. Este homem, hoje triste e amargurado, ja teve familia, um emprego e tambem amor. Porem o tempo passou, nao teve mais forças, viu-se desempregado e dependente. A filha, Clarice, antes tao afetuosa quando menina, agora mulher, ja possuia a sua propria familia e nao gostava da ideia de abrigar e cuidar do velho pai, que segundo o genro, traria muitas despesas e problemas. Assim, seu Jose desprezado pela familia e pela propria sociedade, que o considerava inutil, sentiu-se obrigado a alojar-se em um pequeno e desconhecido asilo. Morando em um dos quartos simplorios do humilde asilo, seu Jose sente-se isolado da vida social, porem encontra neste, a tranquilidade e uma grande riqueza... a amizade de Antonio Xavier. O quarto dispoe apenas de duas ja desgastadas camas onde repousam seu Jose e Antonio, companheiros de quarto... e caixotes guardam suas poucas roupas e objetos pessoais. Na parede expoem-se duas imagens... uma de Jesus Cristo e a outra de Maria Madalena. Um pequeno retrato, que apesar de nao estar em bom estado, mostra uma jovem, Clarice, da qual nao guarda ressentimentos e preserva a esperanca de reencontra-la novamente. E domingo, dia de visitas. Jose desperta-se logo cedo, enquanto Antonio, em seu leito, continua dormindo pacificamente. Ao levantar-se, José realiza as suas oracoes diarias e sua higiene pessoal, como de costume. Encaminhou-se para o refeitorio. Ao observar aquele lugar imundo e sem qualquer estrutura regular, Jose lembrava-se de sua filha, Clarice. Era apenas um pensamento passageiro. Jose serviu-se de um pouco de cafe, uma pequena porcao de mingau de milho e uma fatia de pao. Jose, depois de alimentar-se, foi observar pela janela... percebendo a chegada de varios visitantes, em seu rosto alargou-se um meigo sorriso. Procurando dirigir-se rapidamente ao patio, Jose concentrou forcas nas pernas meio acanhadas. Encontrando-se no patio, seu Jose deparou-se com rostos desconhecidos e em nenhum deles encontravam-se a s feicoes de sua querida filha. No momento, o velho homem sentiu-se novamente desgarrado, como acontecia todo domingo da semana.Pensativo e deprimido, seu Jose esperava mais uma vez pela filha, que a anos nao o procura. Dona Rosa observando aquele homem sozinho, aproximou-se dele tentando consola-lo. Esta estava a pouco tempo no asilo, conquistara muitas amizades, inclusive a de seu Jose. Dona Rosa pegou-o pela mao e os dois caminharam pela grama verde do patio. Conversaram. A noite caia, e a filha nao havia chegado. Seu Jose sentindo-se um pouco cansado e principalmente triste, encaminhou-se ao seu quarto. Apenas ajoelho-se em frente a imagem de Jesus Cristo pedindo-lhe forcas e vontade para viver. Terminada a curta prece, despiu-se e encobriu-se do seu velho e retalhado corbertor que o conforta a anos. Adomercendo-se.
Mais uma manha no Asilo Esperança...
Julie M.
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