BEBO O VAZIO
Bebo o vazio
E a noite ofusca os meus olhos
O tempo aliena minha angústia (quando penso)
E a visão da mulher adia e perturba a minha miséria
Bebo a cerveja gelada
Para tintilar meus dentes, mergulhar minha língua
Sentir teclas de piano
E o sonho que substituí a velha fantasia
O sonho coletivo
Esta juventude, em pequenos grupos, com potencial de intimidade
Um casal vivo, a mulher elegante, inteligente e sexualmente ativa
Uma janela indiscreta com uma garota a provar encantos
Bebo...
E a cada gole que bate no estômago e dissolvido pelo ácido
Vem a ser mais uma nota musical do poeta, do choro, do verso
(Ainda posso cantar e reviver, enganar-me e tocar a vida)
Ora a noite, ora o papel, ora a minha história e o inferninho dela
Ora aquele tempo de carrossel onde os amigos, afetivamente, se emocionavam em voltas
Onde eu era feliz e sabia...sabia...sabia
Pensando bem: hoje, de nada vale saber
Decerto porque a felicidade é um estado que não requer consciência
Mas aqui não vale sentimentos abstratos senão, a noite
A noite que religa poetas conhecidos, vivos e não conhecidos
A noite que religa momentos: passado, onírico, reais, imagináveis, longiquo e hoje
A noite que oferece ao mendigo o tempo não-escravo e a não-razão
Este céu, que hoje bebo, não há estrelas senão, uma
A estrela sozinha que espera e me apoia
No mundo escolhido: da fábrica, do monstro citadino
Das virtudes dos poetas trago: a luta escolhida em minha vida
Luta diarista, explorada, sem perspectiva ... conquistada no dia-a-dia
Luta do dia que não traduz poesia. Cria sem ver, que dá a noite o liquor da vanguardia.
(EMRIQI) |