Estava eu a trocar descontraidamente, pleno de curiosidade, algumas impressões com um dos mais habilidosos jovens "pinchadores" da cidade do Porto - um daqueles que em qualquer parede vêem uma tela de vago - quando em dado momento da conversa fiquei banzado.
Aventava eu que, se fosse presidente da Càmara Municipal, disponibilizaria espaços adequados para que os jovens pudessem exprimir à vontade os génes de Picasso e de Dali que porventura lhes bailassem na alma. E veio então a surpreendente resposta:
- Oh... Senhor Torre da Guia, se eu não pintar sob a pressão do proibido, receando a todo o momento que surja o dono da parede ou a polícia, não valho nada.
Bem, meus caros L&L, em face desta sincera afirmação, dei um salto íntimo para o abismo de todos os infernos, e de imediato comecei a relacionar todas as estranhas coisas que produzem o tão violento mundo em que vivemos.
As violações com assassínio, os assaltos e os roubos em pleno dia, os presidentes sempre à vista dos gorilas que lhes guardam as costas, as infidelidades conjugais, os espancamentos entre homem e mulher, os energúmenos que violam idosas mortas, os pedófilos que laceram crianças, os pais desnaturados que batem em bebés, as senhoras ricas que surripiam nos supermercados e, até inclusive, eu, quando gozo pra caramba sempre que engendro uma daquelas imprevistas e estúpidas partidas aos meus amigos mais anjinhos.
Apre, arre, tudo tem relação. Dá ou não dá um sublime gozo matar a fome a um desgraçado e ainda ganhar dinheiro por cima? Dá ou dá uma emoção acima de cima ver no cinema um gajo a esfaquear uma prostituta? Até arrepia!...
Em resumo: o ser humano é uma grandessíssima trampa que enoja equacionar. Diacho, interrogo, quem gozará a endireitar o mundo?!...
António Torre da Guia |