Usina de Letras
Usina de Letras
154 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Da minha vida e dos meus dias... -- 09/09/2005 - 23:10 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Vai para 32 anos que, sem mais nem menos, fui despojado de tudo quanto lícita e tenazmente tinha conseguido e ganho com o meu exclusivo esforço.

Casado, com duas filhinhas, fiquei sem casa, mobiliário, carro e um terreno de 28 hectares. Com cinco malas e minha poupança bancária, cerca de 4.000 contos - algo como 60.000 reais - de Moçambique regressei a Portugal em Junho de 1974, em consequência da revolução do 25 de Abril.

Dois meses adiante, com uma estranha febre africana, minha filha Paula, com três anos e meio, faleceu. Nenhum banco português me quis aceitar o escudos moçambicanos. Em derradeiro recurso e para não perder tudo, negociei o dinheiro, por um décimo do seu valor, com a Companhia Colonial de Navegação.

Parti para França e logo que arranjei emprego seguro como electricista, vim buscar minha mulher e a minha filha Cristina, então com oito meses de idade.

De quadro administrativo para simples operário num país estranho, a queda foi muito grande. Minha mulher também arranjou emprego para fazer limpezas numa farmácia.

Em Novembro de 1977, minha mulher resolveu ficar com o farmacêutico, que era viúvo, tinha a farmácia para lhe curar o corrimento e um cofre cheio de dinheiro. Quanto a mim, fez muitíssimo bem. Aliviou-me todo o tempo que tive daí para a frente.

Com um par de cornos bem espetados no céu da vida, deixei cair a canga e esperneei uns meses entre copos e mulheres. Voltei para Portugal em 1978, livre de tudo quanto tinha constituído a minha felicidade e a minha desgraça. Em breve retomei a vontade de continuar a viver.

Desde aí e até aqui, onde estou agora, a vida decorreu normal e fluentemente, tendo tido apenas o enorme desgosto de também ter perdido minha mãe, o que mais reforçou a minha liberdade e me deixou de vez em plena independência. Nunca mais quis tomar decisões a sério fosse com quem fosse, nem aceito compromissos que tenham de estabelecer-se a médio ou a longo prazo

Sou pois naturalmente azedo quando estou distraído. Tenho umas mãos-cheias de experiente razão para ser como sou e só eu em consciência é que sei quanto vale a minha razão. De resto, sempre que meto o raciocínio nos estribos e apoio o alento no selim do meu cavalo invisível, sou um brincalhão do caraças.

Levanto-me quando quero, cómo o que quero, vou para onde quero e deito-me sempre que me apetece descansar. Obrigações? Sim, tenho aquelas que não posso evitar, sempre que vou à sanita.

Em suma, aos 66 anos de idade, tenho mais medo da vida do que da morte e estou-me nas tintas para o futuro, plenamente reconciliado com a minha existência.

Sempre que o consciente se me carrega, dê para onde der, descarrego-o de imediato. Os meus lamentos funcionam no mesmo plano da fumarada nos canos de escape e felizmente disponho de um "background" vivencial que, após a minha morte, ainda irá beneficiar muita gente que conheço e não conheço.

Enfim, sou eu, com muita pena de não poder ser desprendidamente todos os outros.

Estou a escrever um livro, romance, "A GUERRA DAS PALAVRAS", cuja inspiração me foi induzida pela vivência virtual na Usina, visando objectivamente o estabelecimento de um padrão que constitua um forte contributo para que a linguagem e a escrita, plena e profundamente livres, funcionem como prévia batalha que desmotive sem infracção a guerra física: insultar até enrouquecer ou partir os dedos sobre as teclas. Tiros? Só com a pistola que acima ilustra este texto. Socos? Só na parede ou no espelho.

António Torre da Guia

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui