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Artigos-->A mídia totalitária -- 11/12/2002 - 16:57 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"A mídia totalitária



MÍDIA SEM MÁSCARA, ANO 1, NÚMERO 6, 8 DE DEZEMBRO DE 2002



Sandro Guidalli

20.11.02

http://www.livcultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=2559&tipo=2&isbn=8535902821



http://www.livcultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=2559&tipo=2&isbn=8535902821



Não sou dado a recomendações e sou mau conselheiro. Mas há um livro na praça que merece ser lido. É "Braz, Quincas e Cia", do premiado romancista carioca Antonio Fernando Borges. De estampa caprichada, feita por Victor Burton, foi editado pela Companhia das Letras, tem 171 páginas e custa algo em torno dos R$ 27,00.



É um tambor de oxigênio na Lua estéril do mercado editorial do país e insere o autor na seleta esfera dos melhores ficcionistas da língua de Machado. Não vou fazer aqui qualquer comentário maior a seu respeito nem resumirei seus capítulos. Vou dizer apenas que o livro é de imprescindível tanto em tempos de totalitarismo midiático agudo quanto este que vivemos na atualidade e cujo slogan pode ser algo como "É Proibido Divergir".



Borges vive no Leblon, tem 48 anos e além de escritor talentoso é jornalista. Conhece bem a imprensa brasileira e seus protagonistas e é um de seus melhores críticos. Convidei-o para uma entrevista, cujos principais trechos partilho esta semana com os generosos leitores desta coluna:



Sandro Guidalli - Em seu último livro, recentemente lançado pela Companhia das Letras, o herói é um dos últimos "indivíduos" em circulação, prestes a ser cooptado pela consensualidade coletiva e que exerce enorme poder sobre o homem nos dias de hoje, eliminando as opiniões divergentes e intimidando quem ousar expressá-las. Transportando isso para a mídia, não parece que vivemos um momento de sufocamento das idéias contrárias ao pensamento dominante, ou seja, passamos do "proibido proibir" para o "proibido divergir"?



Antonio Fernando Borges - Não é de hoje que se tornou difícil e como! separar inteiramente as idéias de mídia, como agora a entendemos, e de pensamento dominante, essa síndrome incurável que a todos abate, sem descanso. Afinal, quando o homem substituiu o essencial pelo contingente, o universal pelo conjuntural e o eterno pelo histórico, estava abrindo caminho para o jornalismo diário.

Quer dizer: em certo sentido (e ninguém me entenda mal...), a imprensa já nasceu totalitária na medida em que passou a retroalimentar o comportamento coletivista, o gosto mediano. Numa palavra, o pensamento totalitário do consenso. Não foi à toa que Walter Benjamin a saudou do ponto de vista do “homem novo”: o demônio coletivo o Proletariado, cujo nome é Legião.

Na verdade, a imprensa vive da crença superticiosa de que entre as tardes e as manhãs ocorrem fatos que é proibido ignorar. Se considerarmos que a beleza, o heroísmo e as grandes revelações não acontecem todos os dias, teremos uma idéia do quanto de banalidades e “abobrinhas” precisam vicejar na seara esforçada dos jornais, revistas, emissoras, que se pretende fértil e constante.

Ao se falar no atual “sufocamento de idéias”, não se pode esquecer de destacar que a criança (a mídia) já nasceu respirando mal.



SG - Curioso também notar como a mídia rotula e carimba as "minorias" que discordam em assuntos hoje tratados quase como unanimidade. Estas pessoas, que ainda criticam determinado tema dado como consensual, acabam virando "extremistas", "lunáticos", quer dizer, a ponderação e o equilíbrio são atribuídos apenas aos que defendem o que se tornou convencional, apoiado por uma maioria que, aliás, nem sempre sabe sobre o que está opinando. Simplesmente é levada a isso...



AFB - O problema principal é o seguinte: a razão estatística que emana das votações a chamada maioria, suporte das democracias não tem nenhuma validade fora do terreno da política. Nem a Verdade nem as grandes Virtudes, por exemplo, dependem da opinião das “maiorias”. Mas quando tamanha distorção ocorre como está ocorrendo agora instala-se a chamada ditadura do Consenso, que procura se impor em nome de uma suposta autoridade dos números.

É essa a doença que contaminou o espírito do indivíduo, e sobretudo seu habitat social.: a “golpes de maioria” (a expressão, uma delícia!, é de Rui Barbosa), a tirania se apresenta como liberdade, e a insanidade como Razão. E essa contaminação é tanto maior na medida em que muita gente nem se dá conta desse estado de coisas.

Todas essas flores do mal nascem da mesma semente daninha: a idéia monstruosa de que as pessoas são necessariamente iguais e que, portanto, só podem pensar de uma mesma maneira! E que, se ainda não é assim, um dia será! Pode haver pesadelo maior, na forma de um horizonte iminente? Pois o fato é que isso diz muito sobre a sanidade destes tempos. Em épocas normais, nenhum indivíduo sadio pode admitir a idéia de que os homens são iguais. E nem sou eu quem diz isso, mas alguém da genialidade e da importância de Aldous Huxley.



SG - Temas como o desarmamento civil, as cotas raciais, a poluição do meio-ambiente são exemplos de questões em que é “politicamente correto” ser a favor da opinião predominante a respeito deles. Qual o papel da imprensa aqui? Você acredita que iremos perder, paulatinamente, o espaço tradicional da mídia para defender posições contrárias aos dos grandes esquemas de propaganda de entidades ligadas à ONU, por exemplo? Será que este verdadeiro debate de idéias estaria migrando para o jornalismo na internet?



AFB - Com uma origem “tão pouco inocente” dessas (ver resposta acima), a imprensa tem que estar sempre se esforçando para aprender uma lição que não é sua de berço: a pluralidade, a diversidade, a liberdade e, em certa dose, alguma anarquia. Sem dúvida, com a hegemonia da Doxa de esquerda, à la Gramsci, esse espaço vem ficando cada vez menor. Falar contra as cotas raciais (princípio abertamente injusto e discricionário), defender o direito de o cidadão ter uma arma para se defender (inclusive contra o próprio Estado), debochar das obsessões ecológicas: são coisas que hoje exigem uma boa dose de independência e coragem.

Nesse ambiente inóspito ao debate, a internet está se tornando o último espaço não regulamentado, onde ainda se possa “botar para quebrar”. Mas os abutres já estão de olho e, quando digo abutres, procuro abranger o leque de mesmice que cada vez mais engole, no mesmo saco, o intelectual e o homem comum, irmanados no mesmo coro. Só para ilustrar, posso citar um episódio recente, numa reunião inocente em casa de amigos:

Em nome dos “perigos da pedofilia e da pornografia”, discutia-se a certa altura uma eventual necessidade de se estabelecer controle e regulamentação para o acesso e o uso da internet. Quando me manifestei inteiramente contra a interferência do Estado, por questão de princípio, a maioria se impacientou comigo, olhando-me com olhos de revolta e incredulidade como se encarassem algum avatar do Cão. E então, pior ainda, quando ousei argumentar que não é justo que todas as pessoas de bem sejam vigiadas por causa de “uma meia dúzia de tarados”, não foram poucos os que perguntaram: “Mas o que você quer dizer com pessoas de bem?” Pelo visto, os “tarados” já são bem mais do que “meia dúzia”...



SG - Por falar em politicamente correto, a expressão não designaria justamente a opressão do pensamento predominante sobre os discordantes? O constrangimento me parece a principal arma de atuação dos grupos que pretendem a tal consensualidade total.



AFB - O constrangimento vem sendo, sem dúvida, uma arma cruel e eficiente, nessa guerra contra a diversidade, contra a vida do espírito. Cada vez mais, as pessoas se sentem intimidadas, face à escalada desse monstro de mil-e-uma patas e uma só cabeça: o homem coletivo. Sob o rótulo de “Democracia”, esmagam-se as diferenças abissais entre Thomas Mann e Paulo Lins, ou entre Beethoven e Zeca Pagodinho...

Mas há um outro dispositivo eficaz, e muito confortável, nesse mecanismo devorador. Todas as teorias deterministas colocadas à disposição do homem contemporâneo desde o advento da Revolução Francesa (das classes sociais de Marx-Lênin ao inconsciente freudiano, passando pelos jogos de linguagem de Wittgenstein) trazem a doce seqüela de lhe tirar dos ombros a responsabilidade pelos próprios atos passando a atribuí-los a entidades abstratas, como “a desigualdade econômica”, a “injustiça social”, etc. Pouco importa que, para isso, nosso homem coletivista precise abrir mão de alguns “detalhes”, como seu livre arbítrio.



SG - Você poderia citar assuntos em que virou quase proibido divergir e sua opinião a respeito disso?



AFB - Guerra de opiniões contra os EUA, defesa aberta do terrorismo, adoração do Estado, satanização da liberdade econômica, apologia romântica do crime, estabelecimento de cotas para negros e homossexuais, etc., etc. Por se tratar de uma tendência hegemônica e abrangente, qualquer tema que eventualmente se destaque será sempre à guisa de exemplo. Nesse sentido, destaco apenas dois, que eu situaria nos extremos do extenso leque de sandices: o desvario ecológico e ambientalista e a perseguição aos fumantes. Não se pode negar que a mídia tem papel decisivo nesse unanimismo.

O primeiro constitui o mais absurdo arcabouço “teórico” armado contra a dignidade do indivíduo de que tivemos mais um exemplo recente e patético no protesto terrorista contra a modelo Giselle Bünchen. Em nome da preservação de qualquer “roedor peludo”, agride-se um ser humano?! Parece ser essa a proposta: nivelar por baixo, é claro! todas as espécies, sejam homens ou percevejos e lacraias. Deus do céu! Será que a gula igualitarista não conhece indigestão?

No outro extremo, está a campanha diária contra o cigarro, conduzida sem nenhum refinamento teórico contra a indústria mundial do cigarro (uma campanha abertamente anticapitalista, portanto) sob a capa inocente da preocupação com a saúde alheia. Como se ninguém tivesse direito e soberania sobre o próprio corpo. Aliás, a idéia deve ser essa mesmo: estender o controle do estado até o espaço pessoal mais íntimo.



SG - Me fale mais sobre seu livro dentro deste contexto em que conversamos.



AFB - Nunca pretendi que meu romance, Braz, Quincas & Cia., fosse um prenúncio do Mal iminente, ou o retrato amargo e atualizado de nosso tempo como, de alguma forma, poderá parecer. Agora, que a “peste chegou a Tebas” e os templos ameaçam ruir, há quem venha a lê-lo como a crônica de fatos consumados. O indivíduo está acuado: o coletivismo é uma triste realidade, e não mais uma hipótese, muito antes do resultado das últimas eleições.

Ainda assim, insisto: as questões de que o livro trata tem raízes mais profundas e também mais antigas. A referência-homenagem à vida e à obra de Machado de Assis (manifestada desde o título e a estrutura do livro) já procura dar conta da longevidade dessas questões. Machado não apenas abordou o assunto, nos romances e contos, mas sobretudo desmentiu, com sua própria existência, a balela do determinismo social ou racial. Negro, pobre e doente (epilético), chegou ao topo da respeitabilidade, na vida pública, e aos limites da excelência, na Literatura."





Obs.: Acesse “Mídia Sem Máscara” (www.midiasemmascara.org)





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