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Contos-->AFFONSO HELIODORO - O MENINO DE DIAMANTINA -- 29/11/2008 - 20:35 (Leon Frejda Szklarowsky) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

AFFONSO HELIODORO DOS SANTOS, O MENINO DE DIAMANTINA
(publicado na Prática Jurídica 50, de 30 de junho de 2006, e no Boletim da ANE - Associação Nacional dos Escritors, julho-agosto de 2006, nº 80)
Onde e quando nasceu o afortunado menino Affonso Heliodoro?
Seu nome Affonso traz a nobreza dos primeiros reis da primeira dinastia lusa. Heliodoro tem sua origem na língua grega e significa don del sol. O futuro reservar-lhe-ia momentos de grande felicidade, já por carregar esse nome, já por lembrar Santo Heliodoro, o bom discípulo de São Jerônimo.
Heliodoro concentra a jovialidade, a emotividade, a perseverança e a clemência, mas é incansável. Não pára jamais. Desconhece a preguiça. O dinamismo é sua força motriz. Enquanto não terminar o trabalho que o Altíssimo lhe determinou, não se aposentará nem se aquietará. Estará sempre a correr em busca de algo que fazer. E, com certeza, sempre encontrará.
Abril é o mês de muitos acontecimentos históricos e humanos de suma importância. Emoção tanta não falta.
Nasceu na velha e pequenina Diamantina, das Minas Gerais, berço de Juscelino Kubitscheck, aquele que seria seu mais fiel companheiro de sempre, na alegria e na tristeza, nos momentos de glória ou de muita dor.
A cidade de então, com poucas ruas, toscas casas, apesar de tudo, vibrava. Era Domingo de Ramos, um domingo de festas. A cidade estava encantada e adornada, os fiéis desfilavam e caminhavam alegremente em busca da igreja e do aconchego divino, naquele dia em que todos se reuniam no Largo da Sé.
Enquanto isso, na Rua da Glória, numa casa, recuada na rua, com a frente bordada de estonteante gramado verde, em 16 de abril de 1916, despertava para o mundo o infante Affonso, que herdara o nome nobre do falecido irmão. O pequeno lar ficava na Rua da Glória e até hoje guarda lembranças, porque teve a sorte de permanecer de pé, certamente como homenagem ao seu mais célebre morador.
A velha Diamantina, rica em ouro e diamantes, na época dos bandeirantes, não lhe sai da memória. É teimosa. As noites escuras eram iluminadas pelas estrelas mais brilhantes do universo e pousavam sua luz naquele pequeno rincão das Gerais, a fazer inveja ao solo de pedras tão preciosas, que ofuscavam, com sua luminosidade, os astros celestes. Que maior contraste era preciso para o filho de dona Dolores? A riqueza dominava, então, aquelas plagas, somente comparáveis a Paris e a Lisboa. Esta se alimentava e se vestia do ouro e dos diamantes das minas de Diamantina. E do escárnio de seus habitantes.
Neste mês de abril de 1792, no vigésimo primeiro, Tiradentes seria enforcado e esquartejado, tendo sua cabeça pendurada em um poste, na cidade de Vila Rica, palco de diversas rebeliões políticas. Com seu grupo de libertadores, agitara a Corte contra o confisco e a bandalheira, que já existia, sim senhores, e contra a extorsiva cobrança de impostos – a derrama - e, sem dúvida, contra a espoliação macabra que o Brasil sofria. Infelizmente, hoje não é diferente, apesar de a República se haver instalado.
Mas, um dia o ouro se acabou. Os diamantes deixaram de existir, devido à ganância e à burrice dos homens, descomedidos e egoístas. Veio, então, a decadência e a pobreza substituiu a opulência. O orgulho, entretanto, não abandou aquela brava gente.
Eis o cenário em que nasce Heliodoro. Sua infância foi pobre. Seu pai falecera na mesma data de seu nascimento: 16 de abril, mas de 1923, quando tinha 7 anos. Dona Dolores, sem o respaldo do marido, agora mãe e pai, teve que criar 7 filhos. Os números formam um círculo de misteriosas e cabalísticas coincidências.
Mas não ficou lá por muito tempo. Novo lugar. Novas sensações e lá estava em Pirapora, a contemplar o velho rio São Francisco, com muitos peixes, de todos os matizes. Não demorou muito para se mudar, com sua família, para Belo Horizonte. E aí começa sua jornada, que passaria o Século XX, vindo a resvalar no Século XXI, com extensa biografia, recheada de feitos inigualáveis, e com muitos amigos, fazendo inveja aos astros que pontilham a abóbada celeste.
De sua mãe, herdara o caráter firme e lutador, que não esmoreceria jamais. Do pai, a retidão. Da família, a vontade férrea e a coesão. Com seus filhos, genros, noras, netos e bisnetos, forma o clã invejável, ao lado de sua adorável Sãozita, sua fiel e doce companheira de sempre.
Com JK, “o extraterrestre que veio do futuro”, segundo suas candentes palavras, inicia a conquista. Primeiro, da sua Belo Horizonte, e, em seguida, do Brasil, com a construção da nova capital que iria deslumbrar o mundo com seus traços arrojados e revolucionários, num brutal desafio aos mais incrédulos, que, não demoraria muito, aplaudiriam, freneticamente, a gigantesca obra que permanecerá como a mais recente maravilha do mundo.
É, pois, no dia 21 de abril de 1960, inaugurada Brasília, a cidade das cidades, concretizando o ideário de liberdade iniciado pelo revolucionário mineiro Joaquim José da Silva Xavier. E lá estava Affonso Heliodoro, junto do seu ídolo e maior amigo, Juscelino, vibrando e respirando a poeira que pairava no ar, mas sorridente e satisfeito com o que estava acontecendo. Parecia um sonho. E era mesmo um sonho, um desvario que se tornara inacreditável realidade. O despertar do Tonico, de Jataí, a promessa feita pelo então candidato a este humilde goiano, num barraco improvisado, era nesse momento a feliz coroação de sua proposta.
A amizade e o companheirismo com Juscelino permaneceram incólumes até o fim da vida do mestre-construtor desta cidade nascida do ideal e do sonho, que se tornaram realidade, graças à pertinácia de homens e mulheres imbuídos de energia incomum.
Heliodoro, contudo, jurou que, enquanto viver, continuará a cultuar a memória daquele que se entregou, de corpo e alma, à realização de um Brasil alegre, retumbante e varonil. E o menino, diamantino da gema, com os noventa anos bem vividos, vem cumprindo com germânica disciplina e gosto a tarefa a que se entregara.
Affonso cuida tão bem desta empresa, que se pode dizer ser o guardião, na Terra, da memória e das realizações do grande estadista. Quem tem dúvida que vá conhecer o Memorial JK e o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, que preside, há 10 anos, com o carinho de um pai e de uma mãe zelosa, após receber o bastão do eminente historiador de Brasília, Adirson Vasconcelos.
Dois irmãos gêmeos, o coronel da Polícia Militar de Minas Gerais, bacharel em Direito pela antiga Faculdade Nacional do Rio de Janeiro, aluno dileto de Dona Júlia, mãe de JK, e o médico-estadista. Não eram gêmeos, fisicamente falando, não obstante eram gêmeos espirituais. E, realmente, são. Um e outro foram ungidos por Deus, encarregados da tarefa hercúlea de edificar um mundo melhor, num país gigantesco, servindo de exemplo para as novas gerações.
Neste momento, enquanto escrevo a pequena homenagem a este grande brasileiro, Coronel Affonso Heliodoro, que, altivo e faceiro, celebra 90 anos, meu lindo cachorrinho – lhasa apso – o célebre Jojozinho, sentado à minha frente, no seu sofá predileto, fitando-me com seus olhos cândidos e seu “rostinho” terno, quase todo encoberto pelos cachos macios, cor de chocolate, aloirado, pergunta-me, o que estou fazendo, tão alegre e desperto?
Respondo-lhe, sem titubear: estou apenas tentando rabiscar (será que a romântica expressão rabiscar ainda existe, na época do computador?) algumas linhas que retratem o verdadeiro espírito jovem deste que, sem favor nenhum, é o maior colecionador de glórias em vida, pelo muito que faz.
E o Jojozinho levanta sua linda e loira cabecinha, para concordar, sem pestanejar, com o que ouviu e entendeu!
Disse-lhe ainda que o coronel bacharel não foi apenas o fiel escudeiro do médico-presidente de Diamantina, mas é também o notável vate e cronista, ao lado de outro insigne poeta e pioneiro, que está sempre ao seu lado, o lendário Newton Rossi, ostentando ainda vasta cabeleira branca, que lhe empresta a majestade que merece.
É doce sua poesia. Homenageia seu pai, dedicando-lhe os versos mais sensíveis que já li: “... /Preciso ir além, no meu pai e abraçar suas mãos, com saudade gigante. /Preciso ir além do passado e amá-lo no fundo do peso da idade /sabendo anular os destinos, /soltar as verdades e amores /sem poses, /num suspiro liberto, vaidoso, /aliviado e feliz /por dois velhos amigos”.
A senhora lua prateada, sua velha e querida companheira, ao lado, é claro, de sua Sãozita, tem um cheiro e gosto diferente em cada rincão, por onde passou e morou o poeta, mas a dama da noite de Brasília é branca, grande; é dos namorados, é dos astronautas, é dos sonhadores, é dos poetas, é a enorme lua de Brasília!
Imagine: apaixonou-se loucamente por ela e, com a cumplicidade de sua amada, vem a poetar: “Lua de Brasília, noite dessas vou /cantar só para ti. /Irei acordar minha amada / E, com ela, oferecer-te a ternura /de nosso grande amor”.
O lirismo está presente também na prosa-poética. Conta sua infância em Diamantina, Pirapora e Belo Horizonte, fantasiando sua imaginação com a revista infantil Tico-Tico, o Reco-reco, o Bolão, a Azeitona e com o cachorro (oh, por que não o chama, ternamente, de cachorrinho ou cãozinho? É mais aconchegante. O autor, porém, deve ter suas razões! Quem sou eu para meter-me em seu mundo encantado?).
Oh, que saudades dos velhos tempos do rádio, da prosa em família, do quintal com as árvores frondosas, povoadas de passarinhos alegres e cantantes, das festas e das histórias contadas pelas vovós! Dos céus da noite, vestidos de estrelas ou iluminados pelos relâmpagos de noites de tempestades e trovões ensurdecedores. Com certeza, não se comparam com os de hoje, apesar de todo o progresso, em que a televisão, as boates, as malfadadas corridas de carros de play boys enfeiam o mundo de hoje.
A recordação, a tristeza, o pavor e a alegria, paradoxalmente, andam de mãos dadas, em seus escritos, quando rememora a enchente do Rio São Francisco – o velho Chico –, que levou água até a porta da cozinha da casa da vó Mundinha. Para a criançada marota e também para o Affonsinho, tudo era festa! Já, para os adultos, parecia o dilúvio de Noé e causava terror e medo, como se fora o castigo implacável do Todo Poderoso.
Que bom quando se lembra do Canela-de-Maçarico ou da calça, tipo pega-frango, que lhe marcaram a infância, mas também o encorajaram e forjaram nele o lutador e o conquistador.
O magricela e enfezado rapazinho tornou-se, nos idos de 1930, em plena revolução getuliana e efervescência de um pós-guerra traumático, o padeiro que enfrentava, bem desperto e alegremente, os rigores da gélida madrugada de Belô.
Dali para a carreira militar foi um passo de gigante, que o conduziria, de pronto, à mais prodigiosa aventura, junto de JK, que marcará para sempre sua passagem pelo planeta Terra, dadas as transformações que produziu em tão pouco tempo.
Mas, ao lado do Affonso literato, também existe o Affonso político, jurista e cultor da lei. Acompanha o estadista Juscelino em todas suas andanças políticas, aconselhando-o e ajudando-o incondicionalmente. Foi seu auxiliar, no governo de Minas Gerais, sendo nomeado chefe do Gabinete Militar. Exerceu também o cargo de subchefe do Gabinete Civil da Presidência da República e dirigiu o Serviço de Verificação das Metas Econômicas do Governo e o Serviço de Interesses Estaduais.
Distinguiu-se como participante ativo das campanhas eleitorais de JK para a presidência e, posteriormente, para o Senado da República, pelo Estado de Goiás. Funda o Movimento JK 65.
Este é um pouco do Affonso Heliodoro, para quem presto meu preito, ao comemorar seu nonagésimo aniversário, em pleno vigor, sempre sorridente e feliz, ao lado de sua Sãozita, de seus filhos, netos, bisnetos e amigos que muito lhe querem e se orgulham de pertencerem ao seu mundo encantado. Quando lhe digo que parece um menino vigoroso e travesso, cheio de vida e energia, responde-me com aquele ar brincalhão: “... Mas a velhice é uma droga”. E então lhe dou o troco: “Quero ser este menino travesso que você é com toda sua verve e candura”.
É uma personalidade de destaque não só na vida política de Brasília, mas de todo o País, tendo sido agraciado com os mais diversos títulos e comendas, mercê de seu trabalho incansável. Como preservador e divulgador da memória de Juscelino é lembrado também no exterior. Prossegue cultuando a memória daquele que muito fez pela Pátria e nada quis em troca, porque era também um predestinado.

Leon Frejda Szklarowsky


BSB 3/5/2006 16:51:073/5/2006




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