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Contos-->A antena -- 16/12/2008 - 18:28 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A antena

Van de Oliveira Grogue sentia dores fortes de cabeça naquela tarde melancólica de segunda-feira. O tabaco daquele cigarro ruim fazia-lhe mal, porém o infeliz não sabia como se livrar do vício.
Para sentir-se melhor, ele saiu da sala que ocupava, construída no fundo do quintal e, pensando em fazer um passeio até o boteco da esquina, vestiu a bermuda surrada, a camiseta alvinegra costumeira, e o chinelo de dedos, que segundo ele pôde observar, continha algumas colônias antigas de bactérias, que ali vicejavam sem oposição.
Andando sem muito ânimo, atravessou a rua que o separava do botequim e, sentindo uma certa alegria ao avistar de longe, os companheiros de copo, botou mais energia nas canelas envelhecidas.
Quando entrou no bar mais famoso da cidade, fez ao barman, com um gesto, o pedido costumeiro. Rapidamente compreendido pelo homem, Van Grogue puxou uma cadeira ao lado dos dois outros colegas que ali chegaram antes e, bebericavam uma cerveja.
- Oi, como vai essa turma de pinguço? - Grogue desejava brincar com a rapaziada, mas pela reação observada, naqueles rostos carrancudos, pôde sentir que não fôra muito feliz com a primeira pergunta. Então Van continuou:
- Mas o que é que está acontecendo? O Corinthians subiu pra primeira divisão, a inflação está controlada, tem cerveja na mesa e dinheiro no bolso. Alguém pode me explicar qual seria a causa desse amuamento todo?
Edbar B.I. Túrico e Edgar D. Nal não estavam dispostos a conversar assuntos chatos que pudessem trazer desprazer à reunião, mas B.I. Túrico respondeu:
- Sabe o que é Grogue? Chegou uma companhia na cidade e eles estão querendo instalar antenas de telefonia por todos os bairros. Aqui na Vila Dependência alugaram um terreno vizinho da casa do seu João Rochudo e pretendem botar lá o equipamento.
Durante a explicação do B.I. Túrico todos ficaram atentos, inclusive seu Zé Barbinho, proprietário do estabelecimento, que secava o balcão com um pano branco. Então D. Nal aproveitando a deixa falou em seguida:
- A turma do Rochudo não quer, de jeito nenhum, a colocação da antena ali naquele terreno vizinho da casa deles. Imaginam que vai infiltrar água por baixo do quarto da nona e, tudo pode vir abaixo.
Grogue que já entornara o seu copo de pinga, e preparava-se para beber a cerveja, que os amigos lhe ofereciam num copo limpo, ponderou:
- Mas quem é que diz que haverá inundação da casa? Sei que o João Rochudo não bate bem os pinos, mas não existe possibilidade que isso aconteça. Ora veja.
Então quando os três levavam seus copos à boca, Zé Barbinho, lá de trás do balcão falava em tom mais alto:
- Não é nada disso! Eles estão com medo que a antena emita radiações cosmogônicas ziriguidúnicas que baixam a fertilidade nas mulheres e a potência nos homens.
Van Grogue aproveitou e arrematou:
- Mas que potência? Rochudo não faz nada há séculos e aquelas senhoras que ali estão, não têm saúde mental para se responsabilizarem com a procriação.
- Será que não tem problema? O pessoal anda meio cabreiro. - Indagou Zé Barbinho, com o guardanapo úmido no ombro.
- Mas a cidade está progredindo. Veja que até gás encanado chegou à Tupinambicas das Linhas. Essa história de antena de telefone é mais corriqueira do que andar pra frente. - Respondeu Grogue tossindo por ter engasgado com um gole da birra.
- Eles não querem, porque não querem, e pronto! - Asseverou D. Nal. - Então Grogue perguntou:
- Mas o terreno é deles? Vocês não acham que essa gente é muito metida? Gente enxerida que quer mandar nas coisas dos outros, nas coisas que não dizem respeito a eles? Esse pessoal precisa tomar tenência. Precisa se tocar. Estão confundindo tudo. Consideram ter autoridade onde não têm. Eles estão parecendo aquelas pessoas, que por se considerarem deuses, promovem o lançamento de iodeto de prata e cloreto de cálcio sobre as nuvens, só para ver as inundações e lucrar com os prejuízos. Assim não dá! Assim não pode!
Grogue esperou acalmar o ritmo da respiração que se alterara e, continuou:
- Em toda a parte, no mundo todo, chega o progresso para o bem das pessoas. Não posso acreditar que exista gente que ainda teima em se comunicar por telepatia.
Quando Van saiu mal humorado do bar, viu de longe, os trabalhos iniciais da obra que poderia trazer para a Vila Dependência, um dos sinais da evolução da tecnologia: a antena da telefonia celular.
Haveria progresso naquele bairro de Tupinambicas das Linhas?


Feranando Zocca
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