Implante II
Depois do medo, outro segredo.
Chegou assim perto de mim. Não
sabia bem que nome tinha, era uma
vontade de ficar sozinha.
Ensinou-me o caminho do isolamento.
Como fazia bem ao coração andar sozinha
no meio da multidão.
Que paz sentia quando distante dos outros
me via.
Amizades sociais, superficiais, convenientes,
nada mais; descartáveis também. Nada a nada
me prendia porque o segredo me prevenia,
baixinho me dizia que só assim longe do
sofrimento ficaria.
A solidão me fez bem. Longe de tudo que poderia
me perturbar, vivia e deixava viver, sem a ninguém
magoar.Na solidão me refiz, aprendi a me bastar.
Ser auto-suficiente. Vivi comigo contente.
Onde está então o mal?
Este implante aparentemente inocente que parece
até um amigo é o maior inimigo.
Traz no bojo a maior dor, que é a dor do desamor.
Quem por este implante for tocado, vive só, vive isolado.
O outro só lhe faz mal. A vida em sociedade tem o sabor
da maldade.
É incapaz de amar. Tudo que pelo outro fizer, será pelo
caminho da dor, e quem neste caminho entrar sabe bem
o gosto amargo que tem.
Lita Moniz
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