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Poesias-->MORTE-MORTA -- 17/11/2009 - 18:35 (Divina de Jesus Scarpim) |
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Morrer foi como acender uma luz
Uma luz que ilumina sem cegar
Que não deixa cantinho escuro
Que faz enxergar na frente
Atrás, debaixo
Em cima e acima
Sem segredos
Morrer foi como acender uma luz
De repente, sem dor ou perda
Como despertar da inconsciência
Como descobrir que tudo é tão simples
Tão simples que palavras não explicam
Palavras são complicadas e pobres
Palavras não definem nada
Como poderiam então definir o Tudo?
Morrer foi como acender uma luz
De repente sei tudo, sei mais do que tudo
Sei
Sei sem a barreira da carne
Sei sem a barreira da vida
Sei sem a barreira do tempo
Sei sem a barreira do conhecimento racional
Tão estreito, sinuoso, escuro...
Sei
Morrer foi como acender uma luz
Quando era cega eu sentia pena do pobre e raiva do rico
Cega! Sou o pobre e o rico
Quando era cega eu sentia pena do torturado e ódio do torturador
Cega! Sou o torturado e o torturador
Quando era cega eu sentia pena da caça e aversão ao caçador
Cega! Sou a caça e o caçador
Quando era cega eu sentia a dor do desprezado e mágoa de quem desprezou
Cega! Sou o desprezado e o que desprezou
Sou
Morrer foi como acender uma luz
Quando cega sentia saber um pouco do presente e ignorava o passado
Sou o tempo
Quando cega sentia estar em um único lugar
Sou todos os lugares
Quando cega pensava estar limitada
Por uma pele e cinco sentidos
Não tenho nenhum limite
Sou o infinito
Morrer foi como acender uma luz
Eu que sou infinito brinquei de me dividir
Brincando me tornei cega e me fiz apenas uma parte
Eu que não tenho começo ou fim fui pedaço de acontecimento
Estive em uma pequena parte de mim
Cega
Morrer foi como acender uma luz
Quando era cega eu criei um deus
Eu sou esse deus
Quando era cega eu tinha medo da morte
Que piada! Não há morte
Quando era cega eu tinha medo da dor
Mas se não existe dor
Quando era cega eu pensava que havia uma desconhecida realidade
A realidade sou eu
Morrer foi como acender uma luz
Eu que antes pensava ser uma
Me descobri plural
Eu que não sabia nada
(estava cega)
Das outras partes de mim
Agora sei que sou tudo, sou todos
Sou a que sabia ser
Sou todos os que ignorava
No tempo e além do tempo
Em todos os espaços
Eu sou
Morrer foi como acender uma luz
Viver foi como brincar de esconde-esconde
Ficar encolhida em um canto escuro
Fechar os olhos
Adormecer todos os membros
Perder quase toda a consciência
E ter medo de ser encontrada
E de se encontrar
Morrer foi como acender uma luz!
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