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Artigos-->MORTE LENTA -- 13/12/2002 - 14:09 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MORTE LENTA



Charles Richet, o eminente filósofo e fisiologista francês, propôs, certa ocasião,

a mudança da classificação do homem, de "Homo Sapiens", para "Homo Stultus" ;

e justificou essa mudança, apontando o vício de fumar como um típico exemplo da

estultícia, ou da insensatez do homem.

O fumo, na realidade, não é um veneno, mas, sim, uma verdadeira coleção de

venenos. Na composição do tabaco podem ser encontrados: nicotina, amoníaco,

ácido nítrico, ácido oxálico, ácido tânico, ácido málico, ácido cítrico, proteínas

insolúveis e extratos azotados. O produto da combustão do tabaco, além da nicotina,

contém piridina, cianeto de amônio, cianogênio, lutidina, gases hidrocarbonados,

óxido carbônico, etc. . Na fumaça que se desprende do fumo, foram encontrados:

nicotina, ácido cianídrico, óxido de carbono, amônia, bases pirídicas e colidina.

De todos esses venenos, o principal é a nicotina, não só pela quantidade com que

ela está presente no tabaco, como, também, pela sua alta toxicidade. As demais

substâncias, englobadas sob o rótulo de "alcatrão", auxiliam a ação devastadora da

nicotina, que deve a sua denominação a Jean Nicot, embaixador da França em

Portugal, o qual, na segunda metade do século XVI, levou para o seu país as

sementes de fumo obtidas em Portugal, que, por sua vez, as havia obtido da

América Central, de onde o fumo é originário.

A nicotina é um alcalóide líquido, de cheiro bastante forte, que penetra

rapidamente na circulação sangüínea, durante a inalação da fumaça proveniente

da combustão do fumo. Ela é tão tóxica que, quando uma gota dela é colocada

na língua de um animal de pequeno porte, este morre depois de alguns minutos ;

a mesma gota , colocada sobre a pele de um coelho, provoca-lhe convulsões,

podendo levá-lo à morte ; o vapor de nicotina, aspirado por uma ave, através de

um tubo, mata-a rapidamente.

A quantidade de nicotina pura, extraida de vinte cigarros, colocada sobre a

língua de um homem adulto, mata-o em 15 minutos. Ao fumar, todavia, grande

parte do alcalóide volatiliza-se e perde-se na fumaça, não sendo, portanto,

absorvido puro ; entretanto, o fumante de um maço de cigarros por dia absorve,

em uma semana, quase meio grama de nicotina, quantidade que, absorvida de

uma só vez , seria suficiente para fulminá-lo instantaneamente. Por isso o fumo

é chamado de "veneno lento".

Esse veneno lento afeta, comprovadamente, todo o organismo humano.

Afeta o aparelho digestivo, com perturbações da salivação e da emissão de sucos

digestivos, acompanhadas da falta de apetite e da exacerbação de gastrites e

úlceras pépticas ; afeta o aparelho circulatório, com espamos vasculares, arritmias

e hipertensão arterial ; prejudica o aparelho respiratório, provocando bronquite

tabágica e diminuição da capacidade respiratória, além de ser um fator importante

na gênese do câncer de pulmão ; afeta o sistema nervoso, causando dor de cabeça,

vertigens, excitação, alterações da percepção e até alucinações ; afeta a visão,

podendo provocar atrofia do nervo óptico, com conseqüente diminuição da acuidade

visual. E assim por diante, "ad nauseam".

Graças a essa alta nocividade é que, desde a sua descoberta, pelos colonizadores

espanhóis, na Província de Yucatan, na América Central, no século XVI, e devido à

sua rápida difusão por toda a Europa e, daí, para o resto do mundo, o tabaco tem

sido combatido por médicos, religiosos e governantes, chegando, o papa Urbano VII,

a mandar excomungar os fumantes.

Em diversos países do mundo, já há muito tempo é obrigatória a informação, nas

embalagens dos cigarros, de que aquele é um produto tóxico ; e, além disso, já é

antiga a legislação restritiva da propaganda enganosa desses produtos. No Brasil,

só recentemente é que tais medidas foram tomadas, mas elas estão, ainda, em fase

de muita timidez, sem a ênfase aplicada, por exemplo, nas campanhas de prevenção

da síndrome de imuno-deficiência adquirida, que os demais países latinos conhecem pela sigla SIDA, mas que nós, brasileiros, no eterno hábito de macaquear os

norte-americanos, conhecemos como AIDS (acquired immunologic deficiency

syndrome). E o fumo mata mais do que a AIDS!

A propaganda dos cigarros na mídia continua, embora tenha sido relegada, no

caso dos meios rádio-televisivos, a horários mais tardios, como se crianças e

adolescentesde hoje ainda fossem dormir com as galinhas, no crepúsculo; e as

advertências têm tão pouca ênfase, que não assustam nem recém-nascido.

Essa timidez talvez leve em conta as altas cifras dos impostos pagos pela indústria

do fumo, os quais, porém, de maneira alguma, cobrem os gastos públicos com o

tratamento das doenças provocadas pelo uso do tabaco ; e não se pode esquecer,

além disso, que o hábito de fumar, minando o organismo humano, diminui a

produtividade, onerando o país.

Na realidade, só as fábricas de cigarros --- quase sempre multinacionais --- é

que ganham com a disseminação do vício. É por isso que aplicam rios de dinheiro

numa propaganda vistosa e atraente, destinada a induzir os jovens a fumar, pois fumar,

segundo a propaganda, é ser "moderno", é ser "arrojado", é "conviver com o sucesso".

Esse tipo de propaganda é que tem que ser combatido e desestimulado, mesmo na

mídia escrita e nos painéis e cartazes --- os "outdoors", na nossa cultura

americanizada --- que sempre mostram carrões, aviões, machões e mulherões,

como símbolos do sucesso de quem fuma.

Talvez seja necessário chegar ao ponto de coibir qualquer propaganda do fumo ;

talvez seja necessário chegar a proibir, com rigor e fiscalização, o fumo em qualquer

lugar público, pois o "Homo Sapiens" não pode ser vítima da insensatez do

"Homo Stultus". Enquanto isso não ocorre, os jovens fumantes poderão dizer, uns

aos outros, conforme uma não muito antiga propaganda de cigarros, que "pelo menos

a gente tem alguma coisa em comum", ou seja, a tosse, a inapetência, a diminuição

da capacidade pulmonar e uma irresistível tendência ao câncer de pulmão ;

e --- parafraseando outras propagandas do tabaco --- sem perceber que "uma simples

questão de bom senso" é nunca começar a fumar e que "a decisão inteligente"

é trocar o vício pela saúde.

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