Os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), deste ano, são conclusivos e preocupantes: a escola de educação básica, pública ou privada, no Brasil, é uma fábrica de maus leitores. Falta aos jovens o domínio da leitura compreensiva, isto é, ler e entender o que lê. Tarefa básica da escola, mas difícil de ser apreendida pelo aluno. A leitura é uma habilidade complexa.
Os dados do Enem 2002 demonstram que a maioria dos participantes fracassa na hora de ler e responder objetivamente as questões de múltipla escolha e não apresentam, também, boa argumentação na hora de redigir sobre temas da atualidade como o direito de votar.
Por que os jovens alunos fracassam? O primeiro ponto a considerar é o seguinte: a concepção de leitura gerada no meio escolar tem sido nefasta para o aprendizado das habilidades lingüísticas (ler, escrever, falar, escutar e entender).
A escola tem concebido a leitura como um simples ato de ler, isto é, de decodificar o sistema lingüístico, ora soletrando vogais e consoantes ora reconhecendo as letras como signos gráficos, como ocorre na educação infantil.
O aprendizado da leitura, porém, se efetiva, no ensino fundamental e no ensino médio, somente com a compreensão leitora. Há, realmente, leitura, quando o aluno lê o texto e dá sentido ao texto lido.
Sem que tenham a leitura compreensiva, os jovens brasileiros, na sua maioria, limitam-se, na hora do exame nacional, a fazer uma leitura superficial e fragmentada do enunciado das questões, o que explica a opção por alternativas de resposta dissociadas do contexto da questão e escolha de afirmações e argumentos contraditórios e mutuamente excludentes.
Apesar das cinco edições do Enem, da divulgação de resultados pedagogicamente catastróficos e vergonhosos para todos que fazem o aparelho escolar, indicando e denunciando baixos níveis de leitura e escrita, a escola brasileira insiste em marcar passo: preocupa-se cada vez
mais, de forma iníqua, com a propaganda de seus belos e suntuosos prédios, sua infra-estrutura e, o mais grave, suas propostas pedagógicas e seus professores voltam-se exclusivamente para o domínio de gramática e escrita ortográfica.
Os alunos, realmente escrevem o que a escola quer, mas pouco deles, especialmente os jovens do ensino médio, compreendem o que mundo da leitura requer das pessoas com o olhar crítico e argumentativo sobre os grandes temas da vida em sociedade e da contemporaneidade. Os dados do Enem 2002 revelam, portanto, o quanto nossa escola está na contramão dos ideais da sociedade letrada. É uma exigência da sociedade informática a leitura compreensiva, fundamental para o desenvolvimento humano dos jovens, seu exercício de cidadania e qualificação para o mundo do trabalho.
Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú
Fonte webliográfica:
Martins, Vicente. (2002). “Somos todos maus leitores”. Disponível na Internet: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=41082. Acessado em 11 de dezembro de 2002.
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