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Contos-->A pensão -- 21/01/2009 - 11:46 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aldo Eva levantou-se bem cedo naquela manhã de segunda-feira, caminhou capengante até o banheiro, aliviou-se, escovou os dentes, voltou ao quarto onde trocou as roupas velhas que usava como pijama, por calça jeans, camiseta branca, e chinelos indo à cozinha onde sua mãe já o esperava com o café pronto.
A função de Aldo, naquele dia, seria a de peneirar cerca de 60 quilos de feijão acondicionados em sacos enormes, que seus pais recebiam de tempos em tempos, na pensão. Para manter-se a família do Eva firmara um contrato com a prefeitura de Tupinambicas das Linhas, pelo qual se obrigava a servir as refeições aos presos da cidade.
Eva não terminara o curso secundário, mas alguma coisa, ou algumas vozes da família, achavam que ele deveria dedicar-se ao jornalismo. Por isso o menino pedira emprego no Diário de Tupinambicas das Linhas onde o proprietário, o poeta sereneiro Zé Cílio Demorais exercia a prática há alguns anos.
Naquele momento em que tomava seu café preto com pão amanhecido e margarina, Aldo lembrou-se que deveria passar à tarde no escritório da empresa jornalística, para saber se o pedido que fizera fora aprovado ou não.
A mãe de Eva notou que o menino ao se alimentar mostrava-se pensativo, como se não estivesse presente. A atenção voltada para algo que não se achava ali e agora, seria indicativo, a qualquer doutor tupinambiquence, que o garoto padeceria do chamado "petit mal", uma das formas mais brandas da epilepsia.
Ao tomar o último gole de café quente, o menino lembrou-se que no sábado passado um colega seu, da mesma idade, convocado para auxiliar nos trabalhos de cozinha da pensão, reclamara por ter trabalhado trinta dias ininterruptos e, recebido como pagamento do primeiro salário, metade do combinado na contratação, pago com cheque cruzado de terceiros, depois das 17 horas, da sexta-feira.
Aldo atribuía os enganos que via diariamente, praticados por sua mãe e padrasto, como frutos do analfabetismo e não de qualquer tendência maligna ao estelionato ou outro crime contra a boa fé das pessoas.
A família do Aldo Eva, antes da pensão, tivera uma espécie de igreja evangélica pela qual se propunha a difundir seus conhecimentos religiosos, mas por absoluta falta de interessados, nas pregações do padrasto travestido de pastor, logo o empreendimento viu suas atividades arrefecerem.
Quando o menino percebeu também, que daquele salão haveria poucas possibilidades da emersão do numerário necessário ao sustento, considerou possível a alternativa proposta pela mamãe balofa, consistente em fundar a melhor e mais supimpa pensão que Tupinambicas das Linhas jamais teve.
E foi assim que a família do Eva constituiu no casarão velho, existente na esquina das ruas São Zezé e da Enfiada a pensão Boabóia.
Mas o movimento comercial em Tupinambicas das Linhas, semelhante a todas as demais cidades pequenas, era insuficiente para suprir as necessidades das famílias interioranas despossuídas de latifúndios produtivos. Por isso a pensão, que a princípio gerara certa esperança, mostrou-se com o passar do tempo, ter um rendimento semelhante ao do templo desativado.
Mas eis que surge a vereadora Detinha Pénellas, que diante das agruras do pessoal da pensão, resolveu interceder junto ao prefeito da cidade, induzindo as partes a firmarem um contrato pelo qual a prefeitura pagaria à pensão Boabóia, as refeições que esta servisse aos presos da urbe.
Então, agora ali, tomando seu café matinal, Eva, de supetão, disse à mãe que não poderia escolher o feijão naquele dia, por ter compromissos urgentes, que acabara de se lembrar.
O menino despediu-se da mamãe depositando um beijo nos dedos da mão direita fazendo, em seguida, um gesto com o qual o lançava em sua direção. A mãe balofa, de bumbum arrebitado, frustrada, atribuiu aquele ato do menino, à atitudes características de adolescentes irresponsáveis. "Vê se pode uma coisa dessas!" pensou ela revoltada.
Quando caminhava pelas ruas centrais da sua tão querida e amada Tupinambicas das Linhas, respirando aquele ar fresco, Aldo pôde ouvir um ruído forte de algo que desmoronava. Ao olhar para trás, em direção do local de onde viera, percebeu a nuvem de poeira emergente.
Aldo Eva não acreditava, mas sua casa acabara de ruir.



Fernando Zocca.
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