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Poesias-->SEGUNDA ESTAÇÃO- Homenagem de corpo presente -- 18/02/2010 - 17:26 (Eloi Firmino de Melo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SEGUNDA ESTAÇÃO

Homenagem

de corpo presente



O VENENO SECRETO

Para Bertha, minha amiga





No silêncio escondido

um mistério velado:

a palavra, o enigma

que torna a vida mágica.



E mágica também se faz

por razões mais ocultas;

por cautela ou modéstia

para evitar sustos.



E feito ondas imensas

do abissal oriundas,

é um mar que se espraia

pelos ventos do mundo.



E quando ela se esconde

nas emoções mais fortes,

não seja omissa a bússola

que indicará o norte.



Também sob os lençóis,

é a recorrente sombra

que pode atear fogo

nos milhões de hormônios.



Feito uma chama densa

que no peito se guarda

e no recesso da noite

vem arder em brasa.



Brasa tão necessária

para as alcovas frias

das lavouras murchas

na estação do estio.



No silêncio escondido,

a cicuta mágica;

é um veneno secreto

que transborda a taça.



É um fogo ardente

ou um vulcão em chamas;

uma fogueira viva

que devora as entranhas.



Na estação da beleza,

primavera ou outono,

essa caldeira esconde

invisíveis demônios.



Demônios encastelados

nalgum inferno inóspito,

na tentação sutil,

oculta atrás da porta.



Na sensatez implícita

essa palavra dorme

um silêncio que sabe

os limites que pode.



E ao se fazer desperta,

nos devidos espaços,

é o arauto do mundo

ou a seara da paz.



JÚLIA

Para Júlia, minha neta



Você é a mais pequena,

um minúsculo grão

de vida;

ou um raio de luz

ardente

no coração da família.



Por isso

eu plantei carinho

no roçado dos seus dias;

chegado o tempo

da messe

serão frutos coloridos.



Vão transbordar

os celeiros

dos afetos positivos

num peito cheio de amor

para alimentar a vida.



Nessa época

por destino

eu deverei ter partido,

nas asas

de um passarinho,

deixando o viveiro livre.



E na minha caminhada

eu regarei no infinito

uma saudade

plantada

no meu coração

tranqüilo;

onde floresce uma rosa,

a sua cor preferida.





FANTASIAS

DO DEUS QUE MORRE

Para as minhas netas Laiz, Vitória e Júlia.





Para elas sou capaz

de quase tudo.

Sou um deus poderoso,

sem limite.



Aos meus pés

qualquer pedra vira espuma;

e meus espinhos, flores:

margaridas.



Eu poderia

ter inventado o mar,

bem como o céu azul

que nos encobre.



E, quem sabe,

voar igual aos pássaros

sem me lembrar

que sou um deus que morre.



E quando

eu for morar no infinito,

no meu palácio

de lembrança e sombras,



vou carregá-las para

um céu bonito

na carruagem fantástica

dos seus sonhos.





A ANDORINHA

Para Sandra, minha nora



A Andorinha sabe a cor

das nuvens,

quando o céu

se reveste de procelas;



ou se o mar agitado

faz-se ondas

ameaçando o barco

em que navega.



Protege com carinho

a sua prole

e abriga o companheiro

em seus afetos.



No tear dos anseios

vai tecendo

com ousadia

os seus melhores

gestos.



Se lançada a semente

em campos ásperos

e encontra a dor

de algum pesar medonho,





vai levar de vencida

a terra árida

plantando em novos sulcos

um melhor sonho.



Põe sob as asas

aqueles vôos mais altos,

para os pontos distantes,

além dos montes;



quem sabe,

muito além das catedrais

onde os anjos dos céus

ensejam encontros.



Mas ao descer das alturas

pisa a terra

com a leveza

do amor e da modéstia;



e na roda de amigos

ou da família,

a Andorinha

tem o peito em festa.



CINHA

Para minha amiguinha, Márcia



Não tem como esconder

o nosso afeto;

por isso te desejo o melhor fado,

um mar azul de plena

calmaria

e um comandante a dirigir

teu barco;



que em ondas agitadas

toque o leme

com a firmeza

de quem o ofício sabe;

para dormir na ocasião de calma

nas ondas veludosas

dos teus braços.



Que outro aventureiro

te ofereça

algumas ilhas gregas

por promessas,

quando o pendão não se sustém

no mastro;

melhor é o sonho que no peito

guardas

que o canto da sereia

posto ao largo.





TERCEIRA GERAÇÃO

(Para Laiz e Vitória, minhas netas).





Duas ovelhinhas

malhadas,

docemente acalentadas

nos braços da

ovelha-madre.



São duas ovelhinhas

malhadas,

levemente salpicadas

pela vara de Jacó;

ternamente conduzidas

pelo cajado sofrido

do laborioso pastor;

que em campo de pastoreio,

plural de mil entremeios,

encara pedreira e pó.



Mas entre pedras

escondidas

a matéria-prima da vida

desce da nascente à foz.



E de remanso em remanso

desliza serpenteando

para saciar a sede

das ovelhinhas malhadas,

levemente salpicadas

pela vara de Jacó,

que à noite ao depor a vara

com muito afeto agasalha

a sua pequena grei.



E após guardar o seu gado

vai descansar nos abraços

da sua amada fiel.





Zeu

Para Zenilda, minha comadre



Teu cetro é de rainha

num reino imaginário:

palco de festas e

danças,

ou de alegria e paz.



E sem perderem de vista

o senso lúdico

desse universo teu,

imperial,

muitos atores

contracenam danças

com suas sapatilhas

de cristal.



Esse é o teu lugar.

Não por seres relapsa

com a vida,

nem por teres esquecido

o fuso, a máquina

do estresse e da rotina,

que acompanharam

sempre os compromissos;

nem por deixares a mão

solidária

por gesto de descaso

ser omissa.



Esse mundo te pertence.

Mas com leveza

de consciência

sobre o travesseiro.



Esse mundo te acena

à média luz de um bar

na madrugada alegre,

ao som do tango quente,

ou do chorão bolero.



Esse mundo te atrai

quando te chama

a acompanhar na rua

as marchinhas antigas

do Bloco da Saudade.



E onde quer que reine

a música, a dança e a paz,

ali é o teu reinado,

o trono que escolheste

para tua majestade.





FRANCISCA DE ASSIS

Para Chica, artista plástica





Francisca de Assis,

não por destino de ser

irmã das andorinhas,

ou de outros pássaros;



nem por cuidar

dos seres pequeninos

no condomínio

florestal das matas.



Francisca de Assis,

não por lançar

a pedra fundamental

de uma capela;



onde uma nuvem infinita

de Clarissas

possa buscar alimento

para as almas.



Francisca de Assis,

apenas blague,

um jeito de dizer dos

teus amigos;





aqueles que navegam

em teu convívio,

num mar de afeto

para os seus abraços.



Francisca de Aragão,

por teu mister,

uma comprida estrada

à sombra dos pincéis;



mas no ofício das artes

impressa a marca

de ser a grande artista,

e ser mulher.





O AMIGO

Para Ivo Tavares e Newton Walter



O amigo não precisa

de circunstância

pra cruzar os umbrais

da sua casa.



O amigo de fato

já está dentro.

É o molusco que não

rompe a casca.



Está na sala de visitas;

na cozinha

ou entre os livros

da biblioteca;



nas palavras amenas

emitidas

ou preso às entrelinhas

de alguns gestos.



Quando o sol anuncia

um dia claro

ou morre no horizonte

atrás da serra;



mas sempre a conduzir

em tempo hábil

da solidária mão

o peso leve.



Para o amigo não há

restrição.

O amigo pode tudo

na paz ou na guerra.

Ou não pode.





A TAÇA

Para Fernando Torres Barbosa





Amarga é a taça,

quando o céu embaça

a silenciosa manhã

de um mar de lágrimas.



Invade a tarde e deixa

a noite exausta!



Amarga é a taça,

essa cravada faca

nas entranhas da alma,

que sem pedir licença

vai deixando as marcas.



Esse terrível mapa

de infinitas cicatrizes

que nunca se apagam!



Amarga é a taça,

quando a dor maltrata,

quando a força falta,

quando a resignação escapa,

sem que seja dada

explicação razoável.



Amarga é a taça:

metonímia madrasta,

no sinistro da página

da cruel gramática.



Esse punhal no peito

sem quaisquer metáforas!





A SEMEADURA



(Para José Carlos Targino, poeta)



Ao semear, talvez

por generosa,

a mão farta jamais impõe

limites;

resultando daí, por consequencia,

que os grãos impuros

são acometidos.



E vem o corte, a poda

e as aparas

de frases ou palavras

introduzidas,

ceifadas com cuidado

em tempo hábil,

como se fora o joio mal nascido.



Jamais lançar sementes

sobre a terra

de acordo com o tamanho

das estantes

Ou ânsia de mostrar

a qualquer preço

algum produto da semeadura.

E jamais semear

buscando espaço

na galeria entre os imortais.



Os motivos ocultos

são nem sempre

manuseáveis prendas no varejo,

mercadorias próprias ou moedas

que tenham trânsito livre

no mercado.



São parceiros da noite,

são parceiros da vida,

e olhares silenciosos

sobre o véu da cidade,

sobre os homens e as coisas

e as angústias herdadas;

sobre os leitos insones

na preparação da casa,

como disse Bandeira.



Na hora de lavrar,

sempre os cuidados:

tirar o joio sem ferir o trigo.

E quando a aurora chegar,

não seja omissa

A colheita abundante, prometida,

(com os celeiros da luz

abastecidos),

A coroar a messe favorita.







VOO ACIDENTAL

(Para Ronaldo Monte, poeta).





Ela envolvia os seus sonhos

na fronha do travesseiro,



e depois tecia nuvens

nos anéis dos seus cabelos.



Falava com seus botões,

ou seja,consigo mesma,



que um dia um céu de plumas

viria enfim envolvê-la.



Tomou com calma os remédios

e foi pra cama mais cedo;



e flutuou nos lençóis

em pleno estado de êxtase.



Daí pro céu foi um salto;

fugiu dos seus pesadelos;



a nave em que viajava

levava um só passageiro.



Deixou pra trás as saudades

dos parentes e companheiros,



para enovelar seus sonhos

num céu tecido de estrelas.



CONFISSÃO DE AMOR

Para Marly,

a eterna namorada



Eu falo de amor,

mas em voz baixa:

balbuciando

como quem faz reza;



os lábios da surdina

no ouvido

a confessar o coração

em festa.



Eu falo de amor,

mas as palavras

são o ouro escondido

no deserto;



entre as areias ardentes,

causticantes,

para não ser por inveja

descoberto.



Eu falo de amor,

corando a face,

como quem se envergonha

das palavras;



por coisa antiga serem,

obsoletas,

pelos ventos do tempo

desgastadas.



Porém falo do amor

alma com alma,

dos afetos que nascem

dos abraços,



das íris que se fundem,

se penetram

na paixão venturosa

dos olhares.



Eu falo de amor

porque te amo

sem buscar a razão

dos teus motivos;



e quando o sol transpuser

o horizonte,

a nave da saudade

irá comigo.



AS CINZAS DE OLINDA

Para Edjelton, folião convicto



Muitos blocos na rua

do convívio,

correndo soltos

os passos da alegria;



a multidão acesa

faz a festa

pela cidade

enchendo as avenidas.



O Recife por amor

abraça Olinda

e Olinda sua irmã

beija o Recife.



Os refratários comuns

dos dias úteis

pelas ladeira restam

inconformados;



um mar de compromissos

esperando:

dura certeza

quando a festa acaba.



Por gestos vão regendo

a orquestra etílica

com a mão de algum

maestro imaginário.



A quarta-feira acorda

sem surpresa,

deixando à boca

um gosto de ressaca.



É a hora de curar

alguns excessos,

purificar enfim com cinza

a alma;



ou de assumir a face

do deboche

pondo outra vez

as costumeiras máscaras.





O JOIO E O TRIGO

(Para Domingos Alexandre)





Confesso que fiz mal:

plantei ciúme

por não querer de bem

cultivar pérolas;



e com azedume

num jardim de orquídeas

busquei de qualquer modo

atirar pedras.



Depois veio o remorso,

o gosto amargo

de uma cicuta

presa na garganta;



e aquela sensação

de fel na boca

pelas veredas

onde a vida avança.



Na busca de encontrar

algum reparo,

tirando o joio sem

ferir o trigo,





recolho as pedras

sobre o chão ferido,

e com modéstia vou

plantando orquídeas.



E ao me lembrar

dos gestos insensatos,

por jardineiro ser,

incompetente,



só vejo em teu jardim

bonitas flores,

no meu, só folha seca

exposta ao vento.





O CANTO DA ALDEIA

INCENDIADA

Para Raimundo Carrero



Releio a página escrita

Pelo sol:

O livro aberto

De graveto e cacto;



Residuais de cinzas

E de pó

E o boi ronceiro

Ruminando o pasto.



Além, nalgum lugar,

O passarinho

Emite o augúrio

De animal ferido;



Último lamento

De escondida mágoa

Dentro do mato

Ao se fazer proscrito.



Dura estação de

Indesejável hóspede

Na temporada que

Não tem tamanho;



Maltrata os campos

E o sonho onde habita

A semente centenária:

A esperança.



Quem vive as dimensões

Do território,

As léguas sabe

De abundantes farpas,



Os pés descalços,

Moídos, flagelados,

Pelas veredas

De cascalhos fartas.



Colhendo o céu

Em gesto silencioso,

O ator principal

Esconde a voz;



Enquanto a metafísica

Oculta inquire

Razão desse teatro

Em palco inóspito.



Perto dali cansada

A Eva serrana

A interpretar

As cenas dessa peça,



Com seus frutos do amor

Acompanhada

E outro no ventre

Em forma de promessa.



E do horizonte

Nasce cristalino

O caldeirão de chamas

Causticantes;



Imagem recorrente,

Repetida,

Quase o cenário

Que descreveu Dante.



Virada página seja!

Deus tomara!

Deste livro que ferve

E queima as mãos!



Rudimentos de pedras

Ecascalhos

Fincados na memória

Desses campos











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