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Contos-->Os tambores do carnaval -- 17/02/2009 - 11:09 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Van Grogue não acreditava. Ele não conceberia jamais poder receber de Jarbas o caquético testudo, energúmeno militante, prefeito de Tupinambicas das Linhas, o convite para ocupar a pasta das finanças.
Ninguém no partido entendeu a decisão do alcaide. Todos sabiam das qualidades de muita gente boa filiada, mas por que Jarbas nomearia exatamente o Grogue, um cachaçudo que não demonstrava ter responsabilidade por nada?
O raciocínio de Jarbas, no entanto, era muito simples: diante do conceito indelével existente entre os eleitores, de que ele satisfazia sua carência financeira, trazendo para si as verbas dos cofres municipais, resolveu mudar a história, achando alguém que pudesse ser incriminado em seu lugar.
Jarbas buscava, na verdade, um bode expiatório quando mandou chamar ao gabinete, o ilustre Van de Oliveira Grogue, o mais luminescente biriteiro das paradas tupinambiquences.
Ora o que imaginaria um sujeito que, durante o dia-a-dia no boteco, entre umas e outras, recebesse a visita de um funcionário municipal, acompanhado de motorista condutor do carro oficial da prefeitura?
À semelhança dos pêlos eriçados do gato surpreendido pela presença acachapante de um cachorro peludo e arfante, defronte seus olhos enevoados, os cabelos do Grogue também ouriçaram.
Engasgando diante do homem que o cumprimentava, na soleira da porta, Van pôde sentir ao mesmo tempo um princípio de tosse, soluços e apneia.
No início Van pensou ser aquela pessoa um oficial da justiça, cobrando alguma conta ainda por pagar. Mas poderia também ser agente policial a cumprir algum mandado de prisão por ordem do doutor delegado. Quem é que sabia?
Grogue olhou para o barman, que passava um pano seco sobre o balcão, em busca de sinais que lhe dissessem algo tranqüilizador. Mas nada. Nem mesmo o sujeito que, ao lado do Van, oferecia uma dose ao santo, poderia indicar algo aquietador.
Para disfarçar, tentando amenizar a situação desconfortável, Grogue lançou uma pergunta de caráter geral:
- É verdade que vão fazer um Metrô em Tupinambicas das Linhas?
Tanto o parceiro de copo quanto o barman sentiram a dissonância causada por aquela manifestação intempestiva. Eles se entreolharam atribuindo aquela falta de tino à biritagem extrapolada.
Passados os primeiros momentos em que a sensação de adaptação predomina, puderam os homens trocar idéias. O motorista da prefeitura disse:
- Ocês viram como está difícil anda a pé pelas calçadas do bairro? Tem de tudo impedindo a passagem dos pedestres: montes de areia, cimento, tijolos, carros mal estacionados.
Van respondeu fazendo observações sobre as rebimbocas das parafusetas que serviam de pretexto para lanterneiros mal intencionados engodarem os incautos.
Meses mais tarde, havida a completa interação entre aquelas pessoas dignas da cidade, pôde o povo todo da urbe, presenciar a nomeação de Van de Oliveira Grogue como o titular incontestável da pasta das finanças de Tupinambicas das Linhas.
E era com muito orgulho que os moradores da Vila Dependência, local onde residia o mais novo político biritante, ouvia suas explicações sobre as aplicações financeiras das verbas públicas transmitidas, às vezes, ao vivo, pela TV Beira-Corgo.
Nem mesmo a fala arrastada, os cochilos entre uma pergunta ou outra dos jornalistas presentes, poderia seccionar o fio condutor dos raciocínios brilhantes do Van Grogue.
Sobre a questão de haver ou não Jarbas participado das falcatruas costumeiras relacionadas às licitações sob suspeita, nada ficou mesmo provado. As últimas notícias davam conta de que a cidade prosperava com as obras do prefeito. Escolas surgiam, pontes conectavam os dois lados do rio e a população era prontamente atendida pelo pessoal da saúde pública.
Até mesmo os desfiles de carnaval, considerados mirrados pela oposição, teriam o aporte substancial de verbas, ordenada pelo prefeito combatido. Com relação aos salários do funcionalismo, diziam os videntes que haveria majoração jamais nunca antes vista, durante toda a história daquela cidade altiva.


Fernando Zocca.
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