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Contos-->O homem que fugia do trabalho... -- 17/02/2009 - 20:20 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O homem que fugia do trabalho

Um menino chamado Jonas nasceu para viver escapando do serviço. Ele fazia parte de uma família numerosa, dez filhos, três homens e sete mulheres. Todos habituados a trabalhar, porém Jonas sempre dava um jeito de fugir de suas obrigações.

O pai e mãe eram árduos trabalhadores, mas Jonas não puxou a eles. Ele sabia desde pequeno como safar-se do trabalho. Hábil, inteligente, bom papo, achava sempre um jeitinho para que seus irmãos cooperassem nos seus deveres. Resumidamente, enquanto ele brincava, seus irmãos trabalhavam.

O menino sabia enganar a todos. Na hora de carregar peso, reclamava de dores nos braços, nas costas ou em qualquer outro lugar, sobrando para os irmãos a finalização de suas tarefas. A natureza ainda ajudava o garoto, sendo o bonitão entre os irmãos. Paquerador desde criança. Ele foi para a escola, mas estudar quem dizia. A bola era seu livro. Jonas não via a hora de chegar o recreio para bater uma bolinha, sua matéria principal, era saber das meninas, nisso tirava nota dez. Reprovou o primeiro ano duas vezes, o segundo também, no terceiro abandonou os estudos, sabia que não passaria e para o estudo não voltou mais. Seu pai também analfabeto, não insistiu que o menino voltasse as aulas, dizia:
_ Se eu sobrevivo sem estudos, ele também viverá.

A falta de estudo não é boa para ninguém. Jonas teve que ir para serviços braçais, roçar, capinar, derrubar árvores a machado. O serviço não lhe dava prazer algum então bolou uma estratégia para escapar do trabalho. Seu pai escalava os três filhos para capinar. O garoto chegava na lavoura em menos de duas horas já quebrava o cabo da enxada para voltar para casa brincar. Seu pai levava dois a três dias para arranjar outro cabo, enquanto isto, a lavoura ia sendo capinada pelos irmãos. Ao voltar ao trabalho repetia a mesma sacanagem, e assim levou seu pai e irmãos a terminarem a empreitada sem ele.

Nas roçadas, suas idéias eram piores. Ele quebrava a foice, batia de lado contra uma árvore e ali ganhava quinze dias de folga, porque seu pai perdia muito tempo para ir ao armazém e comprar outra ferramenta. Cada irmão tinha sua ferramenta de trabalho, como a dele estava quebrada, os irmãos trabalhavam duro, e o menino só sombra e água fresca. A foice nova, o máximo que agüentava era dois dias. Ele dava o mesmo golpe e lá ia para casa de novo. Por mais quinze dias. O pai estava abismado com Jonas, não sabia como conseguia estragar tantas ferramentas. Resolveu colocá-lo para derrubar árvores com machado. Neste serviço, o truque não funcionou porque o cabo não quebrava de jeito algum, e quebrar o machado, menos ainda.

Num certo dia, Jonas trabalhou até a hora do almoço. Ao voltar para roça, naquele sol escaldante, vinha pondo a mente para funcionar. Ele não demorou muito para ter um plano que ia funcionar. Chegou no local de trabalho, olhou as árvores que estavam ali para serem derrubadas, pensou:
_ Eu vou derrubar duas árvores para que ninguém suspeite, daí sim eu me queixarei aos irmãos.
E chamou um dos irmãos e falou:
_ Alguma coisa está me fazendo mal, meu estômago está doendo, estou com ânsia!!

Essa reclamação toda era para que um dos irmãos fosse contar a seu pai. Um pedido de socorro, um alerta falso. A atitude tomada funcionou. Ele não titubeou, num descuido do pai, enfiou o dedo na goela começou a vomitar e foi dispensado do trabalho.

Jonas continuou enganar a todos por uma semana, fazendo-se de doente, sua mãe dizia:
_ Coitado do Jonas... Está ruim, não sara. O que será que lhe fez mal?

Jonas sabia que a doença era o serviço. Longe dos irmãos e de seus pais, o menino era um serelepe, pulando de galho em galho, tomando banho no rio, batendo uma bola. De repente, ele notava a chegada de um familiar, a doença o abatia. Fazia-se de triste, era um artista dramático. Apesar de ser o mais forte entre os irmãos, ele recebia os serviços mais leves.

Certa vez seu pai empreitou uma roça para que os três irmãos plantassem feijões nas fileiras de um milharal. Foi dado um litro de sementes para cada filho. Todos foram instruídos a jogar no máximo cinco grãos por cova. Quando um deles terminasse, poderia voltar para casa, e continuariam no dia seguinte. Até que se completassem os plantios, para Jonas aquilo parecia brincadeira. Em pouco tempo, ele havia plantado suas sementes, enquanto seus dois irmãos tinham plantado no máximo ¼ um quarto das sementes deles. Eles ficavam admirados com a velocidade de trabalho de Jonas. Ninguém percebia nada. Quando era terminado o plantio, o dono da roça pagava pelos serviços.

Passado um certo tempo, veio uma boa chuva. O proprietário resolveu olhar a roça e examinar como a planta estava se desenvolvendo. Ao entrar na plantação de milho, notou que os pés de feijões estavam bonitos. Foi caminhando e admirando o plantio até que veio a surpresa... Aonde Jonas plantou, as covas estavam com mais de quinze sementes. Alem de notar esse problema, viu que em buracos de tatus havia grandes touceiras de feijões. O homem foi direto falar com pai dos garotos e não deu outra razão, o Jonas teve que se explicar. A desculpa do garoto foi que não sabia contar até cinco. Esse motivo foi o mais estupefato. Seu pai quis devolver o dinheiro e arcar com o prejuízo, mas o proprietário da roça acabou rindo, e perdoou a mancada do menino.

Jonas cresceu fugindo do trabalho. Quando mais velho se empregou em uma indústria. Fez amigos. Sempre esperto, dinâmico, conseguia driblar a todos. Seu objetivo era estar a procura de fazer coisas leves, de preferência perto das moças. Na maioridade civil foi para o exercito. Até lá conseguiu enganar seus comandos. Ele serviu na infantaria aonde as instruções são puxadas. Seu pelotão estava se preparando para exercícios de guerra, seria uma semana nas matas, mas Jonas descobriu que a coisa seria dura. Pouca comida, cavar trincheiras, com uma pequena pá. Colegas lhe contaram que se chovesse, estariam perdidos. Os recrutas ficam dentro d água, dormem muito pouco e devem ficar em alerta máximo.

Aquelas informações sobre as táticas de guerra fizeram ele recordar das estratégias usadas quando garoto, pensou: - não vou participar destes exercícios, estes caras não me levaram para esta batalha! - Um dia antes de todos partirem para o lugar especificado, Jonas almoçou bem e duas horas depois começou a sentir-se mal. Dava a impressão que estava doente. Como era bom em artes dramáticas, o dedo na garganta voltou a funcionar, vomitou em frente dos colegas de fardas e foi levado rápido para a enfermaria. Lá permaneceu até o pelotão voltar dos exercícios. Ele saiu de perto dos enfermeiros quando tinha certeza que tinha escapado. Enquanto seus colegas contavam o sofrimento que passaram porque tiveram o azar de pegar três dias chuvosos, que não conseguiram dormir dentro de valas cheias de água, que havia instruções à noite, fome, frio, barro até o pescoço, diziam:
_ Foi um inferno, você teve sorte, escapou por ficar doente.
Riu dos amigos, e disse:
_ Amigos .. para mim foi uma semana difícil também!! Comida na cama, repouso absoluto, foi uma semana chata!

A mentira criada deixava-o apreensivo. Jonas teve que guardar segredo porque se descobrissem suas falcatruas não tinha a menor idéia do que lhe aconteceria. O trabalho nunca foi o seu forte, não gostava da disciplina, sempre escapava de suas obrigações. A sua história realmente começou um ano depois, ele teve que voltar para a indústria e lá permaneceu até se aposentar. Nunca tentou progredir na firma porque tinha medo do acúmulo de serviço e responsabilidades. Com o salário mínimo sobrevivia. Jonas teve três filhos e esposa. Seus caprichos adolescentes se transformaram em problemas resolvidos no bar bebendo cachaça. Agora aposentado está novamente como gostava, livre dos serviços.

Certa ocasião, eu mesmo lhe dei um conselho:
_ Jonas, você está forte! É jovem ainda, deveria arranjar um serviço, daria melhor assistência a sua família.
Ele respondeu:
_ Amigo, com um salário mínimo vou vivendo sem trabalhar. Ficar rico? Não ficarei! Se é para morrer pobre e trabalhando, prefiro morrer pobre descansando!

Os anos passaram, e Jonas apesar de suas molecagens, se tornou um homem, é um grande sujeito, um cara legal, companheiro. Eu conheço o camarada desde que nasceu, vivemos anos na mesma companhia. Este moço até as minhas namoradas chegou a roubar. Ele não gosta realmente de trabalhos pesados, mas isso não destrói o caráter que ele aprendeu com a família humilde e honesta. Não gosta de fofocas, ele é íntegro. Nunca brigamos, o respeito entre nós é mútuo. Acreditem senhores! Eu sou uma das pessoas que fez o trabalho árduo enquanto ele quebrava as ferramentas ou fingia o mal estar, mas esse espertalhão nada mais é do que meu amado irmão.
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