Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50668)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->IDÉIA LUMINOSA -- 27/02/2009 - 15:23 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Férias! Nós não víamos à hora de terminar as aulas. Ano letivo chegando ao fim, eu e meu irmão Altevir, ficávamos contando os dias para curtirmos a vovó e nossos tios Leopoldo e Joana. Eles nos adoravam. Aprontávamos enormes brincadeiras, um querendo saber do outro, onde passaríamos as férias. Imagine sem estudar e divertindo-se pra valer. Nossa resposta estava na ponta da língua, na chácara da vovó, no Barro Preto em São José dos Pinhais.

Meu pai trabalhava num posto de gasolina, seus deveres não lhe davam tréguas. Como responsável, tinha folga somente aos domingos. Então nós tínhamos os dias livres, longe de nossos pais, menos vigiados, com liberdades de ir e vir. Eu, uma menina de oito anos, meu irmão com onze, uma dupla sapeca e unida.

Corríamos atrás dos animais, subíamos em árvores, saltávamos em cima do feno no velho paiol. A baderna não tinha limite. A debulhadora de milho nos parecia uma brincadeira, uma verdadeira festa, grãos espalhados para todos os lados. Parreirais enormes, carregados com lindos cachos de uva. Somente os pequenos cachos éramos autorizados a comer. Meu tio estava de olho em nós, caso pegássemos um cacho grande, escutávamos seus gritos ao longe, seus berros eram para assustar mesmo. Nós tínhamos de ser cuidadosos, para não sermos surpreendidos. Com aquele jeitinho enganador de crianças pacatas, levávamos todos na conversa.

Meus pais chegavam sábado à tarde no sitio, permaneciam até segunda-feira, saiam cedo e voltavam à capital para cumprir seus deveres. Perto deles éramos diferentes e comportados, ao retornarem, começávamos tudo de novo. Depois do almoço, íamos à casa da tia Joana, passávamos a tarde fazendo bagunça, brincando com os filhos de seus vizinhos. Perdíamos o horário de voltar para casa, nossa tia nos alertava e advertia que era muito tarde:
_ Está na hora de vocês virem embora!!

Nossos tios tentavam nos assustar. Diziam que no caminho poderíamos encontrar fantasmas. Quando ouvimos esta palavra, saíamos correndo para a casa da vovó. No jantar ao redor da mesa, meu tio começava contar causos sinistros, um jeito de nos assustar. Ele sabia que as histórias causariam medo, assim estaríamos em casa antes do anoitecer. Falava tanto na mula sem cabeça, nos lobisomens e boitatás, que ficávamos apavorados. Nesses dias, até para dormir tínhamos dificuldades. Nosso tio era malvado para nós, testava a nossa coragem. Passou dois dias depois e já esquecíamos o perigo que ele nos mostrava.

Chegávamos à casa a noite. Sempre um adulto tinha o compromisso de nos trazer. Meu tio, o qual era chamado carinhosamente por Pordo, resolveu nos dar um susto. Seria uma forma de repreensão pelos atrasos de todos os dias. Ele combinou com a irmã, nossa tia Joana, para nos reter o máximo possível, pois iria nos pregar uma peça, ao passarmos no capão de mata, na pequena restinga. Era um atalho, foi ali que nosso tio se preparou para nos dar o golpe. Pela estrada achou que não vínhamos devido à distância ser tripla, mas se enganou. Com um lençol branco, cobriu-se para ser o fantasma, que botaria a gente para correr. O horário já estava combinado com a irmã. Ninguém nos acompanharia, fizeram de tudo para que fossemos sozinhos.

Anoiteceu, ninguém quis nos levar para casa da vovó. Apenas ganhamos duas velas, meu irmão era medroso e a cada instante que passava, ficávamos mais apavorados, perguntei-lhe:
_ Como vamos fazer se as velas apagarem no caminho? Ficaremos no escuro! Não conseguiremos ver nada e o que faremos?
Ele disse entusiasmado:
_ Eu tenho uma idéia luminosa! Traga-me uma lata de cera, usaremos como um farolete. Acenderei as velas e colaremos dentro para que não caiam. Ficaram protegidas do vento. Nós vamos pela estrada que é mais seguro, o mato parece perigoso.

Tia Joana e o marido ficaram aguardando o regresso dos sobrinhos, tinham certeza que o irmão passando-se por fantasma, botaria as crianças pra correrem. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro. O plano de meu tio aconteceu ao contrário. A sua certeza era que vínhamos pelo atalho e nos aguardava tranqüilo na restinga. Ele ficava se imaginando as gargalhadas da nossa cara. Estava ansioso pela demora, não via a hora de nos amedrontar e nos ver correr. Em sua mente não esperava que viéssemos pela estrada, onde o percurso é longo. Na espera, veio uma surpresa, ao olhar na curva, notou uma coisa meio esquisita, uma cabeça com dois olhos saindo labaredas de fogo. Pela distância não conseguia identificar o que poderia ser e sua imaginação fértil lhe causou danos. A luz refletida em sua frente não permitia conseguir ver as crianças. Na verdade o farolete deixou a visão retorcida, ficou nula.

Nós, as crianças, vínhamos tranqüilas, preocupadas para que as velas não apagassem. Meu tio foi ficando apavorado e notando pela distância. Ele imaginou que aquilo lhe parecia um boitatás. O pior é que vinha em sua direção, voando baixo, deslocava de um lado para outro. Os instantes passavam e não conseguia perceber que eram seus sobrinhos. O medo era tanto que não esperou para ver, saiu em desabalada carreira.

Tio Pordo chegou a casa suando, cansado. Não conseguia falar, estava em choque. Todos preocupados com sua aparência e queriam saber o que aconteceu. Onde estavam as crianças? Antes de meu tio terminar a sua história, as outras pessoas notaram uma luz vinda pela estrada, parecia anormal, esquisita, ia de um lado para outro, com olhos de fogo, gritaram:
_ Pordinho? Olhe aquilo! São as crianças chegando!!

Ao olhar aquela sena, nosso tio não sabia como disfarçar. Era o boitatá que o fez correr sem parar em direção ao socorro. Ele tentou esconder a gafe que tinha cometido, perguntou para as crianças, porque o farolete ia de um lado pra outro, a cada instante, as crianças responderam:
_ Por que tio? Era para não queimar nossas mãos. Por isto que eu e o Altevir fazíamos as trocas...

Ele não respondeu. Foi o suficiente para mostrar a derrota de seu plano. Ele estava descoberto, seu truque falhou. Todos começaram rir, foi tanta, tanta, gargalhada que muita gente ficou sem fôlego. Além da bronca que levou de nosso pai, seu irmão mais velho. Tio Pordo com a imagem de corajoso virou covarde. Isso lhe serviu de lição, saiu assustado, pior castigo foi a chacota, correr de uma lata com duas velas acesas, criação de duas crianças, imaginando ser um boitatá.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui