O Rap é um movimento alternativo que busca mostrar as situações cotidianas vividas pelos jovens da periferia. No Brasil, tomou a essência do ritmo americano e o adaptou à realidade do País
Dentre os novos movimentos culturais surgidos na última década no Brasil, temos uma revelação, seja pela qualidade ou originalidade: o Rap. Nesta época em que a mídia não apresenta uma proposta diferente para a solução dos problemas que afligem a população, observamos nas periferias alguns cérebros que criam uma corrente de força e verve apontando a solução para problemas sociais.
“O sistema manipula sem ninguém saber;
a lavagem cerebral te fez esquecer
que andar com as próprias pernas não é difícil;
mais fácil se entregar, se omitir;
Nas ruas áridas da selva
eu já vi lágrimas demais;
o bastante pra um filme de guerra”
Racionais MC’s – Periferia é periferia (em qualquer lugar)
A impotência frente à opressão policial e a desigualdade social, somada a um desejo de mudança de vida, constrói uma ponte entre situações utópicas e reais: conscientizar para mudar é a base do pensamento desse movimento. O assunto tratado na maioria das canções é a violência: violência de rua, violência institucional, violência simbólica.
“60% dos jovens de periferia
sem antecedentes policiais
já sofreram violência policial.
A cada quatro pessoas mortas pela polícia,
três são negras.
Nas universidades brasileiras
apenas 2% dos alunos são negros,
A cada 4 horas um jovem negro morre
violentamente em São Paulo”
Racionais MC’s – Sobrevivendo no inferno
O Rap, em muitos casos, é um apelo e não somente uma descrição de fatos. O movimento conquistou, há dois anos, com o grupo Racionais MC’s, um sucesso histórico para a música alternativa: a difusão na mídia e uma resposta de impacto da população, transformando-se em unanimidade nacional. No Distrito Federal a tendência foi seguida. Surgiram vários conjuntos que conseguiram destacar-se no cenário artístico brasileiro, como o Câmbio Negro, DJ Jamaica, GOG e Cirurgia Moral, entre outros. A realidade revelada nas músicas dessas bandas não é muito diferente daquela narrada pelos grupos de outros estados.
“Em abril de 1500 eles chegaram ao Brasil, puta que pariu!
O país foi invadido por gringos, estupraram as índias,
escravizaram e mataram índios, foderam a vida dos negros
arrancados de suas terras, transportados em tumbeiros”
Câmbio Negro – Auto estima
Mediante as idéias veiculadas nas canções, os rappers, tentam fazer com que as pessoas acordem para lutar. O objetivo é alcançar melhores condições sociais e reivindicar o direito à paz, à liberdade e à educação.
“Se diz que o moleque de rua rouba;
no governo, na polícia, no Brasil
quem não rouba?
eles só não tem diploma pra roubar.
eles não se escondem atrás de uma farda suja
é tudo uma questão de repercussão, irmão.
É uma questão de pensar”
Racionais MC’s – Mágico de Oz
Os rappers são conscientes e sabem que o conformismo que mina as esperanças não é lógico. Ao contrário, é planejado e forçado. Por isso, a raiva canalizada em algumas letras é compreensível. Essas pessoas vivem cansadas de situações violentas.
“Autoridade demais
para quem não é capaz de resolver
um simples caso com ordem e paz.
A juventude nascendo para viver
na flor da idade condenados a morrer”
Pavilhão 9 – Retrato de São Paulo
O Rap não perde em autenticidade e expressão. A arte como forma de resposta à violência é uma escolha acertada. Um sonho conformado em uma mensagem de paz, uma reação louvável para uma situação impossível.