Era mesmo do peru. Sujeita alta, gordona, bundudona, espaçosa e cheia de ser dona do galinheiro. Na verdade, mandava mais do que seu marido.
Sentia-se como que responsável pelo sossêgo do lugar. Seria uma lider comunitária? Uma chefe de quarteirão?
Na realidade a Mula Orelhuda quando se apaixonava por causa que sentia ser coletiva, não tinha receio em dizer que poderia até matar para se ver livre dos pentelhos.
Ela percebia com clareza quando seus desafetos faziam as refeições. Tinha uma intuição fina que lhe propiciara as três décadas de enraizamento no trecho.
Como não podia confrontar diretamente os adversos, açulava a cadelada toda justamente
na hora do almoço e da janta dos chatos.
Quando esse jeito de hostilizar estava já sendo manjado, a Mula Orelhuda queimava o lixo caseiro. E espalhava boatos e mentiras pelo bairro. A Mula Orelhuda, recomendava o acompanhamento dos filhos do chato nos seus empregos e serviços. Disseminava seu veneno mentiroso e dissociativo.
Muito bem informada, a Mula Orelhuda permanecia a maior parte do seu tempo sentada. Seus pés inchados mal entravam nas sandálias Havaianas 45.
Ela exacerbava. Esparramava-se pelas bordas, pelas beiradas. No sofá somente cabia ela. Quando se sentava para ver a tevê, a molecada toda tinha que se levantar. A gordurosa, ao chegar esbaforida punha receio nos próximos de que alguma coisa ia ser quebrada ou derrubada.
Com o coração aos saltos e a respiração ofegante ela falava e ouvia. A Orelhuda não se lembrava mais, há muito tempo, da conexão carnal.Seu marido, barrigudo feito sapo picado por escorpião, tinha acessos de ataques de ácido úrico.
Mas no dia seguinte ao que perpetrara o maior e mais fulminante ataque aos chatos, utilizando-se de todos os meios, sofreu a baleiona uma síncope cardíaca, vindo a falecer na ambulância do Resgate.
Seu velório foi concorrido. Tinha chá e café. Algumas bolachinhas amenizavam a dor dos seus acólitos.