Aonde devemos colocar os nossos sonhos?Até onde eles nos conduzem?Sonhar,eu sei,é coisa perigosa;porém fugir do espinho é não querer a rosa.Os sonhos são como sinais de estradas:eles traçam nossos desejos e a nossa força e inteligência os transformam em realidade.Não existem sonhos impossíveis,existem maneiras erradas de persegui-los.”Você é o que você pensa” ensina o filósofo;a força do seu desejo traz até você o mais distante dos seus sonhos.A cada momento da vida uma coisa adquire uma determinada importância e é tudo o que você quer;para mim,hoje,o mais importante é ter uma cafeteira nesta cabine;é o meu sonho mais próximo que me evitaria descer para tomar café.Alguns sonham com jóias,com casas de campo,com viagens dispendiosas,peles caras ou carros do ano.O que realmente torna uma pessoa feliz?Recordo de coisas que me trouxeram muita felicidade e não custaram nada; ver nascer meu primeiro neto ,Daniel;ouvir os passos fortes de Raul,subindo a escada,após um dia de trabalho;festejar os 80 anos de minha mãe;viajar muito no meu carro pelos caminhos de meu Deus,gozando da liberdade que a estrada nos dá;assistir um bom filme;tomar sol no deck deste navio e sentir-me a mais rica das mulheres do planeta;tomar banho de rio,no Brejo Grande,as mangas maduras caindo nas nossas cabeças;assistir o pôr do sol no rio Itajaí-açu,na estrada que leva a Blumenau;visitar a Ciutat Veil,em Barcelona;conversar no terraço de casa,sob o luar,com meu gato no colo;fazer amor com meu marido e depois descansar minha cabeça no seu peito de transatlântico;vir da fazenda,de jeep,com meu pai,cantando “Adelita”enquanto ele assobiava a melodia;quando finalmente os médicos deram alta a Dan Dan,dizendo que ele não tinha meningite contagiosa;quando levanto de manhã,com minhas próprias pernas e vejo que há sol,o calor não é muito forte,tem gás no fogão,o telefone fala,há um bom “breakfast”na mesa,ouço a voz de minha mãe l
a em baixo,os filhos saem para suas obrigações,não há greve de ônibus e Raul vai chegar de noite,não devo nada a ninguém,faço um belo colar,tomo um banho no terraço e minhas roupas fecham e abrem na hora certa:então eu digo”Tudo está no seu lugar!”
Deus,a vida é ótima!
11/5-4º feira
Ainda faltam alguns dias para aportarmos em Santos; passo uma vista d ólhos na minha ração e vejo que resta pouca coisa aproveitável;as madaleines estão tão duras como coração de bandido,o queijo bolorou e o pão está pouco;sobraram uns chocolates,mas,não quero comprometer minha silhueta,ganhando quilinhos indesejáveis.Está cada vez mais difícil encarar a comida do navio,”malgré moi”.Também não acho certo fazer exigências,prefiro beliscar o que tem,o que eu pedisse me dariam,mas,não me sinto confortável;seria pedir agasalho e estirar as pernas.Coca-cola,neste navio movido a chá,é luxo,porem ,ontem,o Jhojho me trouxe três,que pus na geladeira.Desci perto das12.15h,comi um arroz com carne moída;veio salada de fruta enlatada,por sobremesa;Nick trouxe café;ele é o faz-tudo do navio:ajudante,garçom,faxineiro;está há pouco tempo aqui,parece ser seu primeiro trabalho;inseguro em tudo que faz tem sempre uma interrogação nos seus olhos de quase menino.Mas,dá conta do recado;enquanto põe a mesa me diz-“I´m very busy” e sorri.Quando terminei meu almoço ele pergunta-“finish?’-yes,eu digo.ele se interessa-“good?”seu inglês é tão órfão quanto o meu.
O Cap. encheu a piscina e a paciência de Francis para fazer pão de queijo;ganhei duplamente:adoro piscina e pão de queijo;Passamos o dia no bem bom,tomando sol,provando um excelente licor de kiwi e tomando banho de mar dentro do navio;À noite “Robin Hood” de Costner ,na TV,um dos favoritos do Capitão.Como faço todo dia fui assistir o pôr-do-sol,na proa;adoro-me sentir só rodeada de mar- ,iluminada pelo sol que se vai,só o barulho surdo dos abismos aos meus pés e a imensidão ao meu redor.Faço minhas preces e volto para a sala de refeições.
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